Projeto 'Salvador Pra Cego Ver' leva símbolos da capital a pessoas com deficiência visual

Através de recursos como audiodescrição, projeto permite o turismo acessível e inclusivo

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  • Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Com os olhos fechados, tente fazer alguma tarefa à qual esteja acostumado. Difícil, não? Este pequeno, mas importante exercício mostra a realidade das pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual, em especial nas atividades cotidianas. O projeto ‘Salvador Pra Cego Ver’ permite que pessoas cegas e de baixa visão consigam vivenciar as belezas turísticas, culturais e gastronômicas da capital baiana.

Utilizando o recurso de audiodescrição de imagens e vídeos que ilustram a cultura e o patrimônio de Salvador, o projeto busca reapresentar a cidade de forma acessível para pessoas com deficiência visual. Transformando imagens em palavras, essa grande parcela de pessoas poderá vivenciar — algumas pela primeira vez — situações cotidianas como apreciar um pôr-do-sol no Farol da Barra ou contemplar a arquitetura icônica do Pelourinho.

“Nossa intenção não é que a pessoa cega e com baixa visão apenas conheça Salvador pelas nossas audiodescrições, mas sim que elas despertem para as belezas da cidade e se interessem por interagir melhor com esses espaços”, afirma Patrícia Braille, especialista em Educação e uma das fundadoras do projeto.“Muitas vezes passamos por lugares belíssimos, pontos turísticos conhecidos, mas não conseguimos acessar bem porque não temos referências dessa imagem. A audiodescrição é uma ferramenta imprescindível para nos ajudar a criar uma imagem mental desses ambientes e nos sentirmos parte desse mundo tão visual em que vivemos”, complementa Silvânia Macedo, historiadora, consultora do projeto e cega há 27 anos.A audiodescrição consiste em transformar imagens em palavras, obedecendo a critérios de acessibilidade, respeitando as características do público a que se destina. Ela é produzida, principalmente, para pessoas cegas, mas tem beneficiado outros públicos como os que têm dislexia, deficiência intelectual ou déficit de atenção. Silvânia Macedo e Patrícia Braille em frente à Igreja de São Francisco, no Pelourinho (Foto: Nara Gentil/ CORREIO) Além de Silvânia, o projeto também contou com o apoio de uma equipe de especialistas na área, como os audiodescritores Ariana Santana e Paulo Schmidt; o especialista em turismo, Diogo Santos, e a intérprete de Libras Eurides Nascimento. Todos eles possuem experiência em educação inclusiva, tradução, arte e cultura popular.

Para compor o material de arquivo das audiodescrições, ou seja, as imagens e vídeos utilizados, mais de 20 fotógrafos da Bahia disponibilizaram gratuitamente seus acervos de imagens dos principais símbolos soteropolitanos. Além do material, o projeto também foi contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, junto da prefeitura de Salvador e do governo federal.

Para fazer o tour virtual por Salvador, as pessoas com deficiência visual utilizam suas redes sociais com auxílio de programas leitores de tela, que conseguem transformar em voz o conteúdo publicado nas redes sociais do projeto, como o Instagram, o Facebook, o Twitter e o site do Salvador Pra Cego Ver. O endereço virtual (https://salvadorpracegover.com) é desenvolvido e revisado por um casal de programadores cegos. Lá tem os endereços das redes sociais do projeto.

As opções de pontos turísticos da cidade fizeram com que Patrícia tenha a ‘dificuldade gostosa’, como ela diz, de escolher seu local preferido. Apesar da dúvida, ela afirma que os pontos localizados na Cidade Baixa são alguns dos que mais irão chamar a atenção. “Temos o Farol da Barra, a Fundação Casa de Jorge Amado... Mas acho que a Cidade Baixa e o subúrbio vão surpreender. Lugares como as praias, a linha do trem, o espaço de Irmã Dulce... Tenho certeza de que, quando a pandemia passar, as pessoas vão querer visitá-los presencialmente”, acredita.

Além da acessibilidade para pessoas cegas, todo o conteúdo audiovisual também conta com tradução em Libras, sendo viável para pessoas com deficiência auditiva. O projeto vai trazer vídeos de especialistas debatendo sobre o tema.

Uma das temáticas será a tag #PraCegoVer, que incentiva a descrição de imagens nas redes sociais, permitindo o amplo acesso para pessoas cegas. Reconhecendo o valor e a importância do projeto, o CORREIO utiliza a #PraCegoVer em todas as suas redes sociais.

Entre os ícones já audiodescritos pelo projeto estão o bairro da Ribeira, a ponta do Humaitá, as belezas da Lavagem do Bonfim, o Lar Franciscano, a Praça Riachuelo e até mesmo um tacho de acarajé, além dos já tradicionais Elevador Lacerda e Mercado Modelo. Confira as redes sociais do projeto:

Site: https://salvadorpracegover.comFacebook: https://www.facebook.com/salvadorpracegover/Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCYhNxXI6Kk8Iig4limQ-ZxAInstagram: https://www.instagram.com/salvadorpracegover/

* Tiago José Paiva, orientado pela subeditora Fernanda Varela