Promotora com 'A': do Bonfim para a luta pelos Direitos Humanos

Ela ainda tem, na memória, os momentos em que sofreu preconceito simplesmente por ser mulher

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  • Thais Borges

Publicado em 8 de março de 2017 às 17:42

- Atualizado há um ano

A promotora Márcia Teixeira ainda lembra bem do quanto estudou para conseguir a aprovação no curso de Direito na Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Sendo de origem de uma família pobre, com muito estudo, dedicação e apoio do meu pai e da minha mãe, passei no vestibular”, lembra ela, que cresceu no Bonfim, na Cidade Baixa.Talvez, quando entrou no Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), em 1992, não fizesse ideia de que, anos mais tarde, seria uma das principais vozes na luta pelos Direitos Humanos em Salvador e no Brasil – especialmente, pelos direitos das mulheres. Mas, mesmo enquanto promotora, que, inclusive, comandou o Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT (Gedem) por quase dez anos, as coisas não foram fáceis no início. Ela ainda tem, na memória, os momentos em que sofreu preconceito simplesmente por ser mulher. Eram situações que iam desde alguém chegar procurando “o promotor” de Justiça até reações com ‘brincadeiras’ quando chegava a um local e as pessoas se surpreendiam por ela ser mulher. Por isso, adotou uma estratégia.“A linguagem é um caminho importante para registrar a nossa existência. Por exemplo, há alguns anos, nas nossas portas tinha escrito ‘Promotor de Justiça’ ou ‘coordenador’. Após algumas manifestações nossas agora encontramos ‘Promotoria de Justiça’ e ‘Coordenação’. Eu sempre colava um ‘a’ (de ‘promotora’) nas placas das salas que trabalhei”, revela.Mas, para ela, o mais grave mesmo é que as promotoras de Justiça, em todo o Brasil, ainda não têm uma representação proporcional nos cargos de Procuradoria-Geral e nas cadeiras do Conselho Nacional do Ministério Público. “Na Bahia, por exemplo, em 400 anos de MP, a procuradora-geral Ediene Louzado é a primeira mulher eleita”, destaca.Hoje, Márcia é coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh), cursa o doutorado em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal) e é membro colaboradora do Conselho Nacional dos Direitos Humanos. Antes disso, em 2002, ela obteve o título de mestre em Ciências Sociais pela mesma Ufba onde se graduou.E acredita que as mulheres ainda podem viver em um mundo mais igualitário. “Precisamos olhar para as outras mulheres com mais sororidade, precisamos fazer alianças com outras mulheres, na nossa família, na nossa casa, no trabalho, na escola, nas ruas, no bairro, enfim, onde quer que estejamos”. E ela alerta: a conversa de que mulheres não são amigas é apenas uma lenda.Mãe de duas filhas, ‘boadrastra’ de um casal e avó de três pequenos, a promotora é casada e não dispensa meditação. “Cuido da minha espiritualidade através da metodologia Pathwork. Mas preciso registrar que tenho dois anjos que me ajudam em casa além de um marido bastante companheiro que compartilha comigo as tarefas domésticas”, conta ela.