Psicóloga consegue quase R$ 600 mil em uma semana para financiar tratamento

"Para quem tem filhos pequenos, como eu, desistir não é uma opção", diz Luciana Medeiros

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 30 de outubro de 2020 às 19:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Reprodução/Instagram

A vida de quem é acometido por uma doença grave não termina no diagnóstico. Há dois anos travando uma luta contra um câncer que iniciou no colo do útero, a psicóloga Luciana Medeiros, de 38 anos, descobriu a existência de um tratamento novo nos Estados Unidos, chamado TIL, que promete matar células cancerosas. O problema é que o método custa caro e, para quem vivencia esta doença, os dias são sempre uma corrida contra o tempo. Graças à solidariedade de muita gente, em apenas uma semana ela e sua família levantaram quase todo o montante necessário de R$ 600 mil, arrecadados via vaquinha online.

Mãe de três crianças, de oito, sete e quatro anos, Luciana descobriu o câncer em 2018 e, de lá para cá, fez vários tratamentos, como quimioterapia, radioterapia e cirurgias, mas nada adiantou muito. Apesar de todos esses procedimentos, dois meses após encerrar a quimio, veio a revelação da metástase. O câncer se espalhou e o ciclo de tratamentos teve que recomeçar. Sua médica, então, sugeriu o TIL (do inglês Tumor-infiltrating lymphocytes ou linfócito infiltrante de tumor), que pode dar uma nova esperança para ela e suas crianças.

Esse tratamento consiste, basicamente, em três etapas. Primeiro, é feita uma cirurgia para retirada de um pedaço de uma das lesões. A partir daí, cultiva-se do lado de fora do corpo e em grande quantidade as células imunológicas (linfócitos) da própria paciente. Por último, estas células ‘boas’ são devolvidas ao corpo para ajudar o sistema imunológico a reconhecer e matar as células de câncer. 

“Minha médica entrou em contato com o hospital dos EUA e, quando soubemos do valor, vimos que não teríamos tempo hábil para conseguir porque meu caso é de urgência. Foi um momento de desespero. Pensei em vender o apartamento, mas ele não está nem quitado e ainda assim não teria o necessário. Foi aí que minha prima me ligou e sugeriu fazer uma vaquinha online”, conta a psicóloga.

Uma hora depois de publicada, conseguiram R$ 3 mil. Em 24h, R$ 100 mil. “Minha prima, minha irmã e umas amigas fizeram um grupo no WhatsApp para divulgar e me mostraram o valor que já tinha na conta. Comecei a chorar, eu me perguntava o que estava acontecendo. Foi um boom inesperado, mas acho que as pessoas que me amam têm muitas pessoas que também as amam”, relata ela, que teve mais de 5,1 mil doadores. “Eu sabia que iria fazer esse tratamento, só não sabia como. Para quem tem filhos pequenos, como eu, desistir não é uma opção”, acrescenta. 

No fim da tarde desta sexta-feira (30), a campanha já havia angariado R$ 579,4 mil. No Instagram dela, o movimento também cresceu e dos 700 seguidores, saltou para 3,4 mil. Por causa da união das pessoas em torno da causa, a psicóloga poderá ir mais rápido aos EUA. A previsão é de que, resolvida toda a burocracia com o visto para entrada no país, ela possa viajar já na próxima terça-feira, 10 de novembro. Antes de ir, ainda vai precisar fazer uma cirurgia por aqui. Luciana deve ficar nos EUA por cinco meses e, a princípio, as crianças vão permanecer no Brasil. 

“Tudo no câncer é difícil, desde o nome, já tem um peso. Para mim, três pontos são piores, que é ver meus filhos tendo que lidar com isso, meus pais vivendo o medo de me perder e a minha debilidade física, porque cheguei a perder 40 kg, perdi cabelo, mobilidade e sou muito dependente de outras pessoas. Mas a gente tem vivido muita coisa e preciso reconhecer que recebi o melhor que o ser humano pode dar, que é a solidariedade. Eu nunca tinha experimentado uma corrente tão grande. Sou abençoada”, agradece ela.

Cuide-se

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e do colorretal. Ele é causado, em geral, por infecção provocada pelo vírus HPV. O instituto estima que o país pode ter, só neste ano, 16,5 mil novos casos da doença. Silencioso, este câncer pode não apresentar sintomas na fase inicial.

Hábitos como início precoce da atividade sexual, múltiplos parceiros, tabagismo e uso prolongado de pílulas anticoncepcionais aumentam o risco de contrair o câncer. A prevenção pode ser feita com o uso de preservativos (camisinha), vacinação gratuita contra o vírus HPV e realização de exame preventivo (papanicolau).