Quatro filhotes de lobos-guarás estão na Bahia para serem devolvidos à natureza

Baru, Seriguela, Pequi e Caliandra estão em Barreiras; reinserção para habitat natural deve acontecer em fevereiro

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 19:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Estrela em 2020 por estampar as cédulas de R$200, o lobo-guará ganha agora outro destaque. Aqui na Bahia, quatro filhotes da espécie em extinção estão sendo preparados para serem devolvidos à natureza no Parque Vida Cerrado, que fica em Barreiras. As três fêmeas e um macho chegaram ao local em setembro e devem permanecer por lá até fevereiro de 2021.

Baru, Pequi e Seriguela vieram do Zoológico de Brasília, de um grupo de cinco irmãos, que foram divididos em três áreas diferentes de soltura para que houvesse mais garantia de sucesso para o procedimento. Já a Caliandra, foi encontrada em uma das fazendas monitoradas pelo parque. Todos eles foram encaminhados, em um primeiro momento, para o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), em Salvador, antes da autorização para que o parque se responsabilizasse pela reinserção no ambiente natural.

Os animais são os primeiros filhotes de lobo-guará que integram o projeto inédito de soltura no Oeste da Bahia. Esta será a segunda experiência desse tipo realizada no país com o maior canídeo da América do Sul; a primeira ocorreu na Serra da Canastra. De acordo com a estimativa da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), no Brasil, existem 21.746 indivíduos adultos da espécie, que está ameaçada de extinção.

Preparação Em Barreiras, os filhotes estão sendo alimentados uma vez ao dia e pesados uma vez ao mês. Eles são monitorados por câmeras, para que haja o mínimo de contato possível com os seres humanos. A previsão é de que permaneçam sob os cuidados da médica veterinária Paula Damasceno e da bióloga e coordenadora do Parque Vida Cerrado, Gabrielle da Rosa, até fevereiro. Enquanto isso, o local, que suspendeu as atividades por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, deve permanecer fechado para visitação.

Para o recebimento dos filhotes órfãos em caráter emergencial, o parque precisou remanejar espaço, preparar um recinto temporário, adquirir equipamentos de monitoramento e providenciar a alimentação dos animais. O objetivo era alocar os filhotes em um ambiente adequado e em isolamento total, a fim de diminuir as chances de “imprinting” – processo no qual os animais passam a ter uma resposta positiva à presença humana, o que seria um empecilho à reintrodução em vida livre e selvagem.

O recinto do Parque Vida Cerrado disponível para os lobos é de 1.500 m², aproximadamente. “Aqui temos um isolamento maior porque toda a área é cercada de Cerrado natural. Então, assim, a gente consegue fazer um manejo mais isolado, fazendo com que esses animais percam o costume da presença humana e comecem a expressar comportamentos mais naturais da espécie”, explica a médica veterinária Paula Damasceno. 

De volta à natureza Depois desse período no parque, três dos filhotes devem passar 10 meses em uma fazenda de soltura, em um espaço maior, com cerca de 3 mil m². Apenas um deles, a Pequi, retorna à Brasília. No novo local, eles vão poder interagir com outros lobos, presas e predadores. Ao final dessa etapa, recebem um rádio-colar com GPS para a chamada “soltura branda”. Os portões serão abertos, mas a oferta de água e alimento deve permanecer. 

A partir dos dados fornecidos pelo aparelho, os animais serão então monitorados pelo parque, em parceria com o projeto Sou Amigo do Lobo, com o Instituto Pró-Carnívoros e também com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “A intenção do projeto é monitorar eles pelo máximo de tempo possível através do rádio-colar. Mas, assim que a gente perceber que eles não estão voltando para o recinto e demonstrando independência, a gente desmonta o local de apoio”, explica a bióloga Gabrielle da Rosa. 

O Parque Vida Cerrado O Parque Vida Cerrado, escolhido para abrigar os filhotes antes da soltura, é o primeiro e único centro de conservação e educação socioambiental do Oeste da Bahia e fica em uma área preservada de 20 hectares do bioma Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do mundo. O local possui um criadouro científico para fins de conservação e não tem visitação livre do público, apenas monitorada, o que o diferencia dos zoológicos. 

O Parque completou, em setembro, 14 anos de atividades e, atualmente, trabalha com 28 animais de nove espécies, sendo cinco delas ameaçadas de extinção. 

O projeto de reabilitação dos lobos-guarás para o habitat natural deve ter duração total de dois anos e vai custar ao todo R$ 600 mil. O Parque Viva Cerrado ainda está em busca de parceiros e patrocinadores para conseguir bancar os custos.  ⠀

*Sob orientação da sub-editora Fernanda Varela