Que tal investir em produtos Made in Bahia?

Setor produtivo aposta no consumo interno para retomar crescimento

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 2 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas
"É muito importante valorizar os produtos da terra, usar os produtos locais e valorizar esses produtos que são baianos. Isso ajuda a minimizar os efeitos da crise"- João Augusto Teixeira, diretor-presidente da Kordsa na Bahia por Divulgação

Uma simples escolha do consumidor pode tornar menos sofrido o momento atual da economia baiana, facilitar a retomada da atividade e, consequentemente, melhorar a vida de todos. A ideia de estimular o consumo de produtos e serviços feitos na Bahia vem ganhando força entre na iniciativa privada. 

Alguns dos mais importantes líderes empresariais do estado acreditam que os baianos – sejam consumidores pessoa física, jurídica ou mesmo do setor público – podem ajudar dar o impulso que as empresas precisam para retomar o fôlego e retribuir com a geração de empregos e renda, além de receitas para o poder público. 

Os primeiros dados da atividade econômica após o início da pandemia indicam que toda a ajuda será bem vinda. As vendas do comércio registraram uma queda superior a 30% em abril. A queda na produção industrial foi quase na mesma proporção. 

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Já em um  pouco mais recente, em meados de maio, uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) com 84 empresas indicou que mais da metade delas tiveram quedas superiores a 50% no faturamento. O quadro se repetiu em relação ao faturamento. 

Necessidade de união O empresário Carlos Falcão, líder e fundador do grupo empresarial Business Bahia, que reúne 250 gestores em posições de alto comando em empresas que atuam no estado, conta que o grupo chegou à conclusão de que ganhar o coração, e consequentemente a preferência,  dos baianos é o melhor caminho para a retomada do crescimento. 

“Mesmo antes da pandemia, já vínhamos adotado algumas iniciativas em conjunto. Nosso objetivo fortalecer as relações humanas, gerar negócios e disseminar boas informações”, diz. 

Com a expansão do coronavírus no Brasil, o Business Bahia enviou uma carta aberta aos integrantes do Poder Público, com sugestões para o enfrentamento da situação. “Agora, quando se começou a discutir a possibilidade de uma retomada, surgiu a ideia da campanha Made in Bahia pela constatação da necessidade de apoiar as empresas baianas neste processo”. 

As manifestações de apoio à campanha já extrapolaram a esfera empresarial e ganharam apoio de instituições como a OAB-Ba, do vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico, João Leão, do vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis, além de integrantes do Poder Legislativo municipal, estadual e federal. 

A ideia é estimular as pessoas a escolher produtos ou serviços baianos, sempre que isso for possível.  

A busca por fortalecer as economias internas deve ser o efeito mais destacado que a pandemia vai provocar na economia global. Durante os momentos mais agudos da crise causada pela expansão do novo coronavírus, o mundo viu notícias de países retendo medicamentos e equipamentos necessários ao combate da doença. Isso escancarou a importância de os países fortalecerem suas estruturas produtivas. 

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban, as movimentações em busca de valorização de produtos e serviços locais deve ser vista a partir deste contexto. “É o conceito amplo vindo para o conceito micro, o mundo inteiro deverá revisitar suas cadeias produtivas para fortalecer as suas economias internas. Será um dos aprendizados desta pandemia”, acredita. 

O presidente da Fieb defende que se vá além das campanhas de conscientização do consumidor. “É importante é que todos estejam engajados no esforço para fortalecer a economia baiana. Não se trata de bairrismo, mas isso faz a economia circular. A indústria deve se esforçar para oferecer produtos mais baratos, o comércio, para diminuir suas margens e o governo, contribuindo como puder”, destaca. 

Incertezas e retomada O início da pandemia foi de incertezas para a Tidelli, indústria baiana que é referência mundial na fabricação de móveis para ambientes externos. O presidente da empresa, Luciano Mandelli, conta que os primeiros momentos da pandemia foram marcados por muitas dúvidas, uma vez que os clientes corporativos do setor hoteleiro representavam uma importante fatia do faturamento. “Essa situação teve um impacto enorme no setor hoteleiro, mas isso foi compensado por uma busca das pessoas por arrumarem as suas casas”, diz. Entre perdas e ganhos, hoje a empresa opera com 70% do que seria o normal. 

“Conseguimos passar pelo momento mais difícil sem nenhuma demissão e ainda suspendemos antecipadamente os efeitos da MP que permitia a redução de salários”, diz. Ou seja, os pouco mais de 380 trabalhadores mantiveram seus postos de trabalho. 

Para a Tidelli, a campanha de valorização do que é feito na Bahia pode trazer muitos benefícios não apenas para a empresa, como para o conjunto da sociedade. “A crise como um todo trouxe efeitos de protecionismo. As pessoas estão ficando mais isoladas, ficando em comunidades menores e faz todo o sentido que dinamizem os negócios locais”, diz. 

O empresário Paulo Cavalcanti Júnior conta que a crise impactou de maneira diferente as empresas do grupo em que ele atua. No caso da Carbonor, maior produtora de bicarbonato de sódio da América Latina, a demanda se manteve elevada. O produto é bastante utilizado para fins medicinais, na indústria de alimentos e para a nutrição animal. “A demanda neste setor não foi impactado pelo vírus. Claro que tivemos que passar a operar com uma série de medidas preventivas”, conta. 

Por outro lado, a Paramana, que fabrica bebidas destiladas, com oito marcas de cachaças de alambique e duas de gim enfrentou uma queda de demanda com bares e restaurantes fechados, além da ausência de eventos. 

“Estamos vivendo momento econômico difícil, que vai impactar todas as empresas. Se não tiver redução de demanda, pode sofrer com inadimplência. São vários setores impactados e isso mexe com economia como um todo”, destaca. 

Para Cavalcanti, a retomada se dará de maneira rápida se a confiança do mercado for restabelecida. “A campanha Made in Bahia surge em um momento importantíssimo, para incentivar o consumo de produtos e serviços”, acredita. “Comprar produtos baianos, mais do que apoiar o setor produtivo, é apoiar a qualidade de vida de todos”. 

Confiança Sem confiança, ninguém faz nada, ressalta o empresário Matheus Oliva, diretor da Intermarítima. “Sem otimismo não se consome e não empreende. Não existe empreendedor pessimista”, lembra. O empresário acredita que está na hora de o baiano olhar para o que se produz aqui com o mesmo orgulho que sente em relação à produção artística. “A Bahia é um celeiro sem igual do ponto de vista cultural, mas não é somente isso. Aqui nasceram grandes empresas, muitas deixaram o estado, outras acabaram, mas existe uma nova geração que tem muito a mostrar”, afirma. 

Fernando Caribé, diretor comercial da PQA, distribuidora de produtos químicos, defende a necessidade de valorização do mercado consumidor baiano. “Estamos falando de 15 milhões de pessoas. É um público fundamental para a nossa economia se reerguer”, acredita. 

O diretor comercial do Grupo Venturoli, Gabriel Venturoli, que atua na fabricação de pré-moldados e na área de reflorestamento, ressalta a importância de entender que a economia está interligada. “Quando você movimenta um comércio, estimula a contratação de mais pessoas, que vão consumir e gerar um estímulo à economia local”, destaca.

Saiba quem apoia

Entidades ACB – Associação Comercial da Bahia; ABIH-Ba – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia; AJE – Associação de Jovens Empreededores; Fieb – Federação das Indústrias do Estado da Bahia; Fecomércio-Ba – Federação do Comércio, Serviços e Turismo da Bahia; LIDE-Ba – Grupo de Líderes Empresariais na Bahia; OAB-Ba – Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia; JR Ufba – Empresa Junior da Faculdade de Administração da Ufba; e Sebrae – Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa 

Empresas  Arazul Capital; Assai; Arena Fonte Nova; Azimut; Bahia Adviser; Bela Napole; Biomundo; BP Investimentos; BP Money; Bent Business; Brasfrut; Camara Portuguesa BA; Cerimonial Loreto; CLN; Clínica C. Lima; Clivale; Carbonor; Chez Bernard; Conecta; Colégio D. Ribeiro; Construtora Andre Guimarães; Essence Comunicação; Facemp; Fera Palace; Imagem digital; InvestMundi; Intermaritima; JC Decaux; Kordsa Brasil; Grupo Eva; Gelo Garcia;  Getin Aceladora; GACC; Guebor Toyota; ITMov; Instituto Provida; JA Bahia; La Pre-Fabricados; Limiar; Lumier Iluminação; Lemos Passos; Martagao Gesteira; Nutricash; Natas da Bahia; Occhiali; Omnii Fast; Paramana; Petrobahia; Portal Muita Informação; PQA; Premium Park; Sabin Medicina Diagnóstica ; Revisa Ford; Renaforte; Reviver; RP2; Teiú; Texto e Cia; Tidelli; Rota 99; Trapiche Adega; Uranus2; Uza Shoes; Salvador Destination; Sindicombustiveis; Topos Informatica; Venturoli; Vitalmed; Winners; X-Testing; Zavao & Oliva; Zoom Imagem 

Entrevista: Carlos Falcão Carlos Falcão, do Business Bahia (Foto: Divulgação) 'Ser feito na Bahia é um diferencial' 

Integrantes da alta gestão, presidentes e sócios de algumas das mais importantes empresas baianas decidiram se juntar há algum tempo para buscar melhorias conjuntas. Nascia o grupo empresarial Business Bahia. Com a pandemia, o grupo passou a se dedicar a propor soluções para reduzir impactos negativos e facilitar o processo de retomada econômica. Daí nasceu a campanha Made in Bahia, conta o empresário Carlos Falcão, um dos idealizadores do Business Bahia. “Quando se começou a discutir um início de retomada, surgiu a ideia da Made in Bahia pela constatação da necessidade de apoiar as empresas baianas”, diz. 

Como o empresariado podem contribuir? Vislumbramos que a melhor maneira é através de um processo de conscientização da população baiana. Lançamos um selo, que vem acompanhado de cards, mídia e Vts, com o objetivo de conscientizar o consumidor a sempre que for possível consumir produtos ou serviços da Bahia. Com isso, nós podemos deixar o dinheiro aqui. Eu mesmo já fiz parte do grupo que não usava o critério de ‘feito na Bahia’ como um diferencial na hora da escolha e o que estamos buscando é a população a considerar isso em todos os níveis.

Como você vê o apoio do setor público às empresas? Nosso grupo é apartidário, não temos vinculação com nenhuma ideologia neste sentido, então posso falar com liberdade. A nível de governo federal a gente entende que as medidas apontam na direção certa. No mundo inteiro se fez o mesmo, com linhas de financiamento para as grandes empresas, pequenas e médias. Suspendeu pagamento de impostos, parcelamentos, etc.

Mas os recursos tem chegado na ponta? Este é o problema. As medidas apontam na direção certa, mas houve alguns problemas. O governo demorou a reagir. Não dimensionou bem o tamanho da crise e demorou de lançar as medidas. O mais grave é que não tivemos, de uma maneira geral, o apoio necessário do sistema bancário. Essa tem sido a grande queixa do nosso grupo. 

E o governo e as prefeituras? Em Salvador, a prefeitura fez o possível dentro das suas limitações, inclusive oferecendo recursos de renda mínima para os ambulantes. O que nós sentimos mesmo foi muita falta de uma preocupação maior do governo estadual. Houve várias propostas, inclusive de suspensão de parcelamentos, mas não foram adiante. 

Isso não se deve à situação dos governos? Nós entendemos a necessidade que o governo tem de arrecadar, mas tem que ter sensibilidade. Faltou um debate mais abrangente. Os empresários ficaram muito abandonados em relação a projetos para dar fôlego. Da mesma maneira que caiu a arrecadação do governo, caiu das empresas. Não adianta exigir que uma empresa pague impostos se ela não tem receitas.