Queima de estoque: lojas têm desconto de até 70% em nova temporada de promoções

Estabelecimentos buscam acabar com os produtos que não foram comprados no final do ano

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  • Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho

É só o ano virar, que as lojas começam a anunciar as suas promoções. Isso acontece pela necessidade de queimar os estoques adquiridos para o fim de ano e assim tentar transformar janeiro -  um mês tradicionalmente  fraco de vendas -  em uma época de consumo. Por ser vendedor, Renilson Neves dos Santos, 42 anos, já conhece a tradição e esperou para fazer as compras natalinas no primeiro mês de 2020.

"Tanto a esposa quanto a filha ainda não receberam o presente de Natal, elas vão ganhar só agora. Como eu sou vendedor e trabalho nessa área comercial, já  estou ligado que não precisa se empolgar na hora das festas e é bom economizar um pouco porque neste período começam a vir os descontos. Eu mesmo já separei dois tênis que antes estavam R$ 59,9 e agora estão R$ 29,99", conta.

O presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas), Paulo Motta, aponta que os comerciantes se tornaram cada vez mais agressivos na oferta para atrair os compradores. Com base nos anos anteriores, ele  estima que os descontos  devem ficar na faixa dos 70% a 80%.

O comércio está otimista com as vendas nas promoções de janeiro, aponta o coordenador regional para o estado da Bahia da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio. De acordo com ele, o consumo deve ter uma alta incentivada pela criação de mais empregos com carteira assinada, a liberação do FGTS e a redução da taxa de juros. 

Já o Sindilojas espera um crescimento das vendas de 4% ante o mesmo período do ano passado, na linha do que foi registrado no Natal. 

Sem citar um valor, Piaggio informa que o ticket médio das promoções de começo de ano é menor. “Entram em promoção bens que não são duráveis porque é o que tem a maior troca de estoque nesse período. Os exemplos são peças de vestuário, calçado e acessórios”, afirma o coordenador.

As promoções são o incentivo para a compra e é perceptível que as ofertas têm impactado na escolha dos clientes. “O processo de incentivo às promoções criou uma maior presença dos consumidores. É um mecanismo das lojas para o período”, afirmou Motta.

No Shopping Barra, serão praticados descontos de até 70% entre os dias 10 e 12 de janeiro, com a Lavagem do Barra. Já o Shopping Center Lapa começou o Saldão de Natal na última segunda-feira (6). Até 11 de janeiro, mais de 150 pontos de venda do empreendimento terão promoções com descontos variados para zerar os estoques. O Shopping Paralela tem lojas com desconto de até 60%.

Impacto do Natal A queima de estoque já é algo tradicional do começo do ano, mas tem um papel ainda mais importante em 2020, aponta Motta. De acordo com ele, as vendas natalinas de 2019 ficaram aquém do esperado - a expectativa era de uma alta de 10%, mas houve um crescimento de apenas 4% ante o Natal de 2018. “Temos um excesso de estoque”, ressalta o presidente do Sindilojas.

“As lojas se prepararam para uma compra maior para o Natal. A liquidação é um evento que faz parte do calendário do varejo do começo do ano, mas esse ano pode ser mais importante”, afirma Piaggio.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL) concorda que o comércio se preparou para uma melhora nas compras de Natal no último ano, entretanto, as vendas não corresponderam às expectativas.

Agora, o resultado de um Natal com o consumo baixo deve ser sentido no primeiro semestre de 2020, indica o vice-presidente da CDL Salvador, Felipe Sica. “As compras das lojas no primeiro semestre vão reduzir porque o estoque de dezembro está muito grande. Vai ser necessário adiar a renovação de estoque e aí que vem a importância de eventos de liquidação que ajudam a escoar o estoque”, afirma.

Mesmo quem vendeu bem no Natal quer aproveitar os clientes que são atraídos pelas promoções para se preparar para a chegada dos novos produtos. A loja onde Ninha Santos trabalha teve boas vendas para as celebrações de fim de ano, mas colocou todos os itens por R$ 15 para dar fim no estoque. "Aí quem chega aqui faz a festa. Muita gente vem e compra quatro, cinco peças", revela.

Algumas vitrines já começaram a anunciar as promoções para queima de estoque, porém as ofertas ainda estão tímidas. Os clientes podem esperar pois os descontos devem chegar ainda em janeiro.

“Geralmente, as promoções começam na primeira semana de janeiro, mas cada loja decide quando iniciar as promoções a depender do seu estoque”, afirma o coordenador regional para o estado da Bahia da Abrasce.

Mesmo com os descontos, o movimento na loja onde Rosângela Silva, 28, trabalha tem sido fraco até o momento. Ela atribui a baixa procura por produtos neste período a falta de dinheiro dos clientes.

"Já tem a crise e o desemprego por aí, soma isso ao fato de que o povo já gastou tudo no Natal e na Black Friday, que venderam bem. Daí fica esse marasmo aqui na loja. Mesmo quem vem comprar, acaba gastando pouco", lamenta.

O vice-presidente da CDL explica que o consumo registrou uma queda em dezembro devido a Black Friday e a crise econômica.

De acordo com Sica, o brasileiro não tem renda para fazer compras na Black Friday, em novembro, e manter o consumo em dezembro. Ainda há um movimento de antecipação das compras de Natal na Black Friday.

Apesar das vendas de dezembro terem caído, como aponta a CDL, o Coordenador regional Abrasce indica que é necessário analisar o mês junto com novembro, quando ocorre a Black Friday.

“Foi o melhor novembro e dezembro dos últimos seis anos. A Black Friday tem um mix muito grande de produtos, inclusive mais caros. Já o Natal é para lembrancinhas, presentes de ticket menor”, disse Piaggio. “Nos shoppings sentimos que foi realmente menos do que a expectativa de venda no Natal, mas a Black Friday foi maior que a expectativa do comércio”, completou.

Lojas online Os saldões de começo de ano não se restringem apenas às lojas físicas. Quem gosta de comprar em sites também podem encontrar produtos por um valor mais baixo. É possível achar descontos de até 70% no período.

A Magazine Luiza iniciou o Magalu Outlet neste começo de ano. Com o slogan “pra levar agora”, a promoção oferece 70% de desconto no valor dos produtos, que ainda podem ser enviados com frete grátis. Com a oferta, é possível encontrar uma Air Fryer de R$ 599,90 por R$ 267,81. Um fone de ouvido Bluetooth da JBL custava R$ 369 e agora sai por R$ 179,10. Os descontos duram até 12 de janeiro ou enquanto durarem os estoques.

Nas lojas Americanas, ocorre a mega liquidação de móveis, com descontos de 60% e a adição de até 20% de redução do valor no pagamento à vista. A liquidação foi prorrogada nas Casas Bahia. No site da loja, é possível comprar ar-condicionados e ventiladores com até 40% de dedução. A liquida games da loja ainda oferece jogos com descontos de até 70%.

Quem está a procura de roupas na promoção, pode entrar no site da Farm, que está com 70% de desconto. Na loja, o preço de um top floral caiu de R$ 149 para R$ 69. No período de volta às aulas, é possível encontrar mochilas da Jansport na promoção no site da OFF Premium. Os descontos chegam a 40% nos itens.

O Boticário também aderiu à temporada de liquidação com a Boti Promo. Os clássicos da perfumaria da marca ganharam até 50% de desconto no início de ano. Outros produtos também entraram na lista de ofertas. O último lançamento de perfumaria do Boticário, o Floratta Love Flower, que antes custava R$ 94,90, agora está saindo por R$ 75,90. A promoção segue até 26 de janeiro, em todas as lojas da marca, nas revendedoras e e-commerce.

Dicas para compras online Nas sites das lojas, as promoções podem ser acessadas pelo celular em qualquer lugar, mas é necessário se atentar para não cair em ciladas logo no começo do ano. O diretor de fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas, deu dicas de como aproveitar as liquidações online de forma consciente e segura.

Regras - Apesar de estarem em promoção, os produtos seguem as mesmas regras do Código de Defesa ao Consumidor que itens com valor normal. Garantia e direito à troca são sempre assegurados;

Verificar e anotar os dados das lojas online - As lojas online podem ser criadas por pessoas que buscam prejudicar os consumidores, por isso, é importante possuir o endereço físico da lojas virtuais,o CNPJ e telefone de contato para conseguir identificar o estabelecimento. Com essas informações, o órgão de defesa do consumidor consegue notificar a empresa;

Reclamações no Procon - Antes de comprar em uma loja online, o consumidor deve verificar se outros clientes tiveram problemas com produtos comprados no estabelecimento. É possível ter acesso a essas informações por meio de uma pesquisa do nome da loja no Procon, para isso, é necessário ir a um dos 20 postos de atendimento do órgão na Bahia.

Checar os boletos - Um boleto falsificado pode ser gerado de forma fraudulenta para desviar o pagamento de uma loja. É importante verificar se o boleto emitido refere-se à loja virtual onde o produto foi comprado. Deve-se dar preferência para pessoas jurídicas para garantir que o depósito será feito na conta correta.

Arrependimento - Todas as compras virtuais garantem ao consumidor o direito de arrependimento. O consumidor pode desistir do produto em até 7 dias da entrega do mesmo.

Pesquisar preço - Mesmo em lojas online em promoção, o consumidor não pode ser levado pelo impulso de comprar um produto com um grande desconto, ainda mais no começo de ano, quando é necessário pagar impostos e fazer a matrícula escolar.

Comprovantes e prazos - O cliente deve guardar todos os comprovantes da transação de compra, se atentar ao valor total do produto e registrar negociações do item. É importante tirar prints da tela onde foi feita a negociação;

Descrição do produto - Quem fizer compras online tem quem possuir a descrição completa do produto para poder questionar possíveis erros, como a entrega de um produto errado.

Instagram - O consumidor deve prestar atenção em lojas na plataforma sem CNPJ e endereço físico pois são mais difíceis de localizar e podem ser suspeitas.

Venda de terceiros - Mesmo quando uma pessoa física vende um produto em um site, o site que fez a intermediação da venda é responsável por problemas na compra, assim como quem ofereceu o item na página. O consumidor deve se atentar a quem vende o produto em sites que fazem esse tipo de transação.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier