Quer saber onde está escondido em Salvador o maior parque urbano do país?

Com 6 milhões de m², parque abriga, pelo menos, 1.375 espécies da flora e 252 da fauna

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Passava por ali, na pista que dá acesso à última praia de Salvador, e só enxergava montes e  montes de areia. No final do ano passado, às vésperas da virada para 2020, descobri que aquele cenário é muito mais que um areal. Ao entrar no Parque das Dunas, logo ali, na região de Praia do Flamengo, quase Lauro de Freitas, você se depara com o maior parque urbano do país e um dos mais ricos ecossistemas que ficam dentro de cidades em todo o mundo.

Com 6 milhões de metros quadrados (a maior parte de sua poligonal está localizada na Pedra do Sal, Alameda da Praia, Stella Maris e Praia do Flamengo), o Parque das Dunas ainda é um local desconhecido para a maior parte dos baianos. Não sabem o que estão perdendo! Até a Unesco já o reconheceu em seu roteiro e, entre 127 países, o colocou com uma das mais importantes biosferas.

Qualquer dia, faça como eu e o fotógrafo Arisson Marinho fizemos . Coloque um tênis, uma mochila nas costas e siga por uma ou várias trilhas do parque. Se quiser, pode ir de chinelo mesmo. As trilhas são bem fáceis, ainda que ricas em biodiversidade. É possível ver um exemplar do Calango do Abaeté, espécie que só pode ser encontrada no Litoral Norte da Bahia. O calango, que tem as cores da bandeira do Brasil, foi descoberto para o mundo em 1999 no Parque das Dunas. Até então, ninguém o conhecia. 

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Durante a visitação, você não fica um minuto sem a companhia de monitores como Cainã Freitas, 26 anos. Gestor ambiental, ele apresenta detalhes dos mais importantes exemplares da fauna e da flora. “Essa aqui é uma Orquídea Pingo de Ouro. Orquídeas dificilmente se proliferam em ambientes naturais. As  que vocês conhecem são de laboratório. Essas aqui só se mantêm em ambientes muito conservados”, apontou Cainã, mostrando uma flor com cheiro de sabonete Lux. “Ela é muito cheirosa”.

Os bons odores, aliás, estão por todo o lado. Um pouco à frente encontramos a Amascla da Praia, um fruto usado pela indústria cosmética para fixar o cheiro de perfumes. Também há muitos frutos comestíveis no caminho, a exemplo da Massaranduba da Praia, um energético tão potente quanto o açaí. É bem docinho. E o Guajuru, um fruto medicinal excelente para o estômago. “Contém magnésio”.

Mais marcante que o ecossistema e mais rica que as explicações de Cainã, só a empolgação de Jorge Santana, criador e administrador do lugar, que existe desde 1994. Isso mesmo! Ainda em 1994, Jorge lutou contra grandes construtoras para ter o direito de administrar os 6 mil hectares que estavam ameaçados pela especulação imobiliária. No dia 27 de novembro de 2008, o lugar foi declarado como área de interesse público e o Parque das Dunas oficializado através do decreto municipal nº 19.093/08. Administrado pela Unidunas, está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) Lagoas e Dunas do Abaeté.

No dia 25 de março de 2014, recebeu da Unesco o título de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA). “Se não fosse a nossa luta, isso aqui iria virar concreto”, lembra Jorge, que ainda se preocupa com a preservação do parque. Segundo ele, se o aeroporto for ampliado, isso pode comprometer até 80% da área do parque. “Temos que manter esse ecossistema conservado. É um patrimônio da cidade de Salvador”, diz. Mas, Jorge confia nos seus apoiadores. Hoje, entidades como a Unesco e a ONG WWF acompanham as ameaças que rondam o parque.

Apesar de ser uma PPP, o lugar não recebe qualquer ajuda pública. É mantido pelos visitantes. A entrada custa R$ 20. Turistas, escolas (as públicas têm acesso livre), pesquisadores e até atletas de corrida de aventura frequentam as dunas. Isso sem falar nos religiosos. Católicos, espíritas, evangélicos e um sem número de seitas que fazem passeios para rezar, buscar tranquilidade e o contato com a natureza. As visitas são marcadas previamente (veja abaixo).  Só em 2019, mais de 72 mil pessoas fizeram trilhas no Parque das Dunas.

“Já fui nas dunas de Itaúnas (Espírito Santo) e Natal, mas aqui você sai com bagagem cultural. Aqui não é só aventura, é ecologia”, opinou a pedagoga Janaína Aguilar. Mas, se ligue! Vá com protetor solar e deixe de frescura se suar demais. Na área do parque, a média da umidade relativa do ar é de 70%. Aliás, pela sua capacidade de reter água, calor e salinidade, a importância do Parque das Dunas para a cidade extrapola muito a região em que ele está instalado.

Segundo pesquisas realizadas pelo parque, 92% de Salvador recebe menos salinidade por conta dele. A temperatura em toda a capital também só não é maior porque aquele ecossistema funciona como uma espécie de aspirador de calor. “Além de reter muita água. As nossas enchentes só não são piores por conta do Parque das Dunas”, acredita Jorge Santana.    

Há dois milhões de anos, o Parque das Dunas seria parte do fundo do mar. As águas do oceano iriam de Amaralina até a divisa com Sergipe. Uma das provas é a salinidade da areia, que fica em torno de 50%. Durante as trilhas, é possível descansar nas chamadas eco-salas, ambientes sombreados em que se experimenta um incrível ar-condicionado natural. Pode fazer piqueniques. Basta deixar tudo limpinho.

“Aqui tá muito fresco. Podemos ficar um pouco mais”, brincou o fotógrafo Arisson Marinho. Só lamentei de não ter levado meus cães, Maria Bonita e Lampião. O espaço é Petfriendly e a regra básica é que os cachorros permaneçam nas guias. Os “cãogaceiros” irão na próxima vez com certeza.

Números do Parque das Dunas

6 milhões de metros quadrados de área

72,8 mil  visitas realizadas no parque em 2019

1.375 espécies da flora foram catalogadas  até 2014. Um novo relatório com os dados atualizados até 2018 sai em breve

252 espécies da fauna foram catalogadas até 2014. Em breve sai novo relatório

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