Receio é que chegue hora que seja preciso 'desligar tudo', diz professora da Ufba

Essa semana, universidade anunciou novas medidas para economizar, após cortes

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  • Da Redação

Publicado em 28 de setembro de 2019 às 16:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Amanda Palma/CORREIO

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) determinou nesta semana novas medidas de redução de custo operacional, na tentativa de manter os câmpus em funcionamento. A situação está relacionada ao bloqueio de verbas feito pelo governo federal. Hoje, cerca de R$ 53 milhões estão retidos, valor equivalente a quatro meses de funcionamento da instituição. As medidas de ajuste para conter gastos têm sido frequente em várias universidades.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, o vice-reitor da Ufba, Paulo Miguez, vê prejuízos à comunidade acadêmica. "Medidas já vêm sendo tomadas há algum tempo, essa portaria não é a primeira Estamos fazendo o que é possível, porque não sabemos se iremos receber ou quando iremos receber", pontua. "Tivemos de suspender, por exemplo, o apoio a viagens, fundamentais para a universidade. Nesse momento, o único recurso que temos é para viagens institucionais, porque é obrigatório, ou para professores que compõem bancas de concurso".

Publicada na última quarta-feira, 25, a portaria determina suspensão de concessões de passagens e diárias para participação em eventos, seminários e congressos; redução do uso de elevadores, a não ser para garantir mobilidade de pessoas com deficiências; desligamento de aparelhos de ar-condicionado, exceto em espaços sem ventilação natural e em laboratórios, museus e bibliotecas; suspensão de ligações de telefone fixo para móvel e restrição de ligações interurbanas e internacionais; entre outras medidas.

Uma das unidades em alerta é o Instituto de Biologia. Segundo a professora Moema Bellintani, há temor sobre as restrições de uso de energia elétrica. "Ainda dá para fazer essa adequação, mas nosso receio é que chegue um momento em que seja necessário desligar tudo. Temos experimentos de anos que vão se perder se ficarmos sem energia", diz. "Tivemos também cortes de verbas para aulas de campo, muito importantes no curso de Biologia. Temos de fazer levantamento de fauna e flora, ensinar os alunos a se comportarem no campo. Estamos procurando alternativas, em lugares próximos a Salvador, mas não é a mesma coisa de uma região com mata fechada".

Programa do governo federal mira verba privada O governo federal tem justificado o bloqueio de verba com a crise financeira do País e a dificuldade de arrecadação. O Ministério da Educação tem afirmado que vai liberar recursos se houver folga orçamentária. Uma das principais apostas da pasta para as federais é o programa Future-se, que prevê alavancar a captação de verbas privadas para as instituições. O Estado mostrou esta semana, porém, que a maioria das universidades rejeita a ação.

Veja as medidas adotadas pela Ufba e saiba onde elas impactam:

Suspensão de aditivos contratuais de obras, aquisição de bens, serviços e locações que impactem em aumento de valores nos contratos - Sem recursos, obras que estão paradas ou com velocidade reduzida vão permanecer assim. As que estão sendo tocadas normalmente devem continuar somente em caso de financiamento por outras fontes, como a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, do governo federal) ou por emendas parlamentares.

Suspensão de aquisição de materiais de consumo, exceto destinados às atividades essenciais - Vai impactar na redução de diversos tipos de consumo, sobretudo de material de escritório, que terá itens com consumo racionalizado pela universidade.

Suspensão de eventos a partir das 17 horas e em feriados e finais de semana, exceto relacionados a atividades curriculares obrigatórias - Eventos serão remanejados pára outros dias e horários, uma vez que a partir das 17h o consumo de energia é maior e, a partir das 19h, é preciso pagar hora extra aos funcionários. O Congresso da Ufba será mantido, mas sem pagamento de bolsas e com voluntariado.

Suspensão de concessões de passagens e diárias para participação em eventos - A universidade só tem orçamento para a realização de concursos. Quem fazia viagens para seminários, congressos e afins não receberá passagem pela Ufba.

Suspensão de ligações de telefone fixo para móvel e restrição de ligações interurbanas e internacionais -  A universidade está presente em vários lugares do Brasil e do mundo por meio de acordos e trabalhos conjuntos de pesquisa, o que a obriga a manter contato regular com esses locais. A comunicação agora está restrita e serão usados meios alternativos. Algumas bancas de avaliação, por exemplo, já vêm sendo feitas com Skype, em caso de  examinador de fora.

Redução do uso de elevadores, ressalvado assegurar mobilidade de pessoas com deficiência - Os elevadores serão mantidos somente em áreas de saúde, onde é necessário o transporte para atendimento, e para questões de acessibilidade. Nos outros casos, deve-se usar as escadas dos prédios.

Desligamento de aparelhos de ar-condicionado, exceto em espaços sem ventilação natural e em laboratórios, museus e bibliotecas - Vai ficar mais desconfortável e mais quente, mas onde houver janelas, o ar-condicionado não será ligado, exceto se o uso for justificadamente imprescindível.