Receita apreende 3,7 toneladas de cocaína no Porto de Salvador e supera o total de 2019

Montante está avaliado em R$ 700 milhões; criminosos usam carga de frutas para esconder a droga

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  • Bruno Wendel

Publicado em 29 de abril de 2020 às 06:10

- Atualizado há um ano

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As ações de apreensão de cocaína da Receita Federal no Porto de Salvador neste ano já superaram o total do ano passado. Até agora, foram retiradas de circulação 3,7 toneladas da droga, estimada em R$ 700 milhões. Em 2019, a Receita apanhou 2,1 toneladas do entorpecente que seguia para Europa, rota do tráfico internacional atuante no Brasil.

Segundo a Receita Federal, o caso mais recente aconteceu no fim da tarde dessa segunda-feira (27), quando a Receita encontrou 1,1 tonelada de cocaína numa carga de manga, que seria embarcada num navio para o porto de Roterdã, na Holanda. A droga apreendida está avaliada em R$ 201 milhões.  (Foto: Receita Federal/ Divulgação) A carga de manga saiu de uma fazenda da região do Vale São Francisco, polo produtor de frutas, e embarcaria num contêiner para Holanda. Como nas apreensões anteriores, há a suspeita de que foi usada a técnica criminosa denominada “rip-off modality”, termo que consta do glossário do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) e define as apreensões em que a droga é inserida em uma carga lícita sem o conhecimento dos exportadores e importadores.“Em um determinado momento, no trajeto, a droga foi inserida por uma quadrilha organizada sem que o dono da carga de manga soubesse. Eram 23 toneladas de mangas em 5 mil caixas, o valor estimado R$ 50 mil e uma carga pegando carona de R$ 201 milhões”, explicou o delegado adjunto da alfândega da Receita Federal do Brasil em Salvador, Luciano Freitas Maciel.A droga foi encaminhada para a Polícia Federal, que dará prosseguimento à investigação. “A Polícia Federal foi acionada para saber, entre outras coisas, como a cocaína foi introduzida à carga de frutas, se o caminhoneiro tem ligação com a quadrilha ou se foi sequestrado e obrigado a fazer o transporte ilícito. Tudo isso é apurado nas investigações da PF”, declarou Maciel.

No dia 20 de abril, foram apreendidos 800 quilos de cocaína em uma outra carga de manga que seguiria dentro de um contêiner de Salvador para o porto de Roterdã. Em 25 de fevereiro, a Receita tirou de circulação 650 quilos da droga escondida entre caixotes de limão também para Roterdã. No dia 31 de janeiro, a Receita pegou 1.212 quilos do entorpecente numa carga de celulose que seguiria num contêiner para o porto de Le Havre, na França. “As quadrilhas tentam embarcar a droga usando mais as cargas de frutas, mas já tivemos apreensões em produtos químicos, pisos de madeira, autopeças. Para esses criminosos, pouco importa o tipo de carga. O que importa para eles é o destino. Eles vão procurar quem estiver importando para o mercado europeu e dão um jeito de inserir a carga”, disse Maciel.“Não existe rota específica. Essas quadrilhas usam qualquer porto que tenha navio com rota para a Europa, como Salvador, Paranaguá, Santos, Fortaleza, Rio de Janeiro, Vitória”, acrescentou. 

Segundo Maciel, as apreensões são resultados do trabalho ininterrupto da aduana, o qual envolve análise e gerenciamento de risco, além de uso intensivo de tecnologia. “São vários elementos que vamos juntando o foco para uma determinada ação. O treinamento de pessoas, o uso intensivo de tecnologias, como scanner, raio –x, câmeras espalhadas pelo porto, banco de dados e de imagens, cão farejador, instrumentos de rastreamento de veículos e contêineres e troca de informações entre os órgãos de segurança, incluindo a PF, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Miliar, Polícia Civil e representações de países estrangeiros”, disse. 

No ano de 2019, a Receita realizou apreensões que  somaram 2,1 toneladas de cocaína no Porto de Salvador. No dia 23 de julho foram retiradas de circulação 116 quilos da droga escondidas em carga de madeira com destino ao Porto de Sines, em Portugal. Entre os meses de setembro e novembro, foram três ações da Receita que impediram a saída de 1,9 toneladas do entorpecente camufladas em caixotes de uvas para o porto holandês de Roterdã. 

Aeroporto Apesar de ainda não dispor dos dados deste ano das ações no Aeroporto de Salvador, a Receita Federal informou o resultado das batidas nos anos anteriores. Em maio de 2019 forem encontrados 5 quilos de cocaína diluída em frascos de shampoo e hidratantes na mala de um casal de 20 e 23 anos, que vinha em um voo proveniente de Curitiba e seguiria para Lisboa num voo da TAP.

Em 5 de outubro de 2018, foram 11 quilos de ecstasy e 1 quilo de skank escondidos em um fundo falso na mala de um brasileiro de 27 anos, que chegou em um voo procedente de Madri, com escala em Lisboa.

No ano de 2017, foram duas situações. A primeira em 26 de setembro, quando a Receita apreendeu 3 quilos de cocaína escondidos em fundo falso e no interior de lixas para pés, com um homem da Guatemala, em um voo vindo da Colômbia; no dia 18 de dezembro, 7 quilos de haxixe, escondidos em um parapente, foram encontrados com um brasileiro, em um voo vindo da Colômbia.  A cocaína numa carga de manga que seria enviada para Holanda (Foto: Receita Federal/Divulgação) Pandemia Mesmo no atual contexto de paralisação da economia devido à pandemia do novo coronavírus, os criminosos continuam em atividade. Na segunda-feira (20), a Seção de Vigilância Aduaneira localizou 800 quilos de cocaína no porto de Salvador dentro de uma carga de manga, que seria embarcada em um navio com destino final no porto de Roterdã, na Holanda.

Naquela mesma tarde, no sul do país, as equipes de repressão ao contrabando da Receita Federal apreenderam 500 quilos de maconha, escondidos em caixas de fertilizantes, no depósito de uma transportadora em São Leopoldo/RS, e a equipe de repressão portuária apreendeu 559 quilos de cocaína no Porto de Paranaguá/PR. Somente no mês de abril, aquela já foi a terceira apreensão em Paranaguá.

Dois dias depois, na quarta-feira (22), durante operação de rotina realizada pela Receita Federal, Polícia Federal e Marinha do Brasil, foram localizados 349 quilos de cocaína presos ao casco de um navio atracado em um dos terminais do Porto de Santos e que seguiria para o continente europeu.

Mesmo as pequenas quantidades não escapam ao controle da Receita, por mais disfarçada que a droga esteja. No início da noite da última quarta-feira (22), uma carga contendo cocaína escondida em caixas com maracujás frescos foi encontrada no terminal de cargas de exportação do aeroporto de Viracopos, em Campinas/SP. Durante a fiscalização, as imagens de raio-x apontaram anormalidades concentradas em algumas caixas. E assim, na carga de mais de uma tonelada de frutas, que seria exportada para Hong Kong, foram encontrados 44 quilos de uma substância branca em pó cujos testes preliminares indicaram ser cocaína.

No norte do país, no mesmo dia 22 de abril, o Serviço de Vigilância e Repressão ao Combate ao Contrabando e Descaminho da Alfândega do Porto de Manaus identificou oito envelopes postais contendo, ao todo, quase um quilo de drogas ilícitas, no Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas (CTCE) dos Correios.

As drogas apreendidas tinham como destinos São Paulo/SP, Bertioga/SP, Salvador/BA, Lauro de Freitas/BA, Goiânia/GO, Juiz de Fora/MG e Brasília/DF, um verdadeiro serviço delivery de haxixe, skunk e sementes de maconha de Manaus para todo o Brasil.

Mesmo que o volume de droga apreendida nesse tipo de operação não chame atenção como as grandes apreensões realizadas constantemente nos portos, ações como essa realizadas pela Receita Federal possibilitam identificar quem está enviando e quem está recebendo as drogas. Esses dados são repassados para os órgãos policiais, podendo resultar em outras investigações e em grandes operações de combate ao tráfico de drogas no país.  Apesar da pandemia, a Receita continua no combate ao tráfico (Foto: Receita Federal/Divulgação) Trimestre  Nos primeiros três meses deste ano, a Receita Federal apreendeu 14,8 toneladas de cocaína no Brasil. O resultado é recorde para o período. E o porto de Santos foi responsável por 40% das apreensões.

A quantidade de drogas apreendidas pelo órgão em 2020 é 15,3% maior do que a registrada entre janeiro e março de 2019 e é o maior resultado já apurado pelo órgão nos três primeiros meses de um ano.

Para combater a movimentação de drogas no país, o órgão tem investido constantemente em tecnologia, capacitação de servidores e ações de inteligência, como troca de informações com órgãos de segurança nacionais e administrações aduaneiras de outros países.

Cerca de 40% das apreensões de cocaína pela Receita Federal ocorreram no Porto de Santos (SP), o maior da América Latina, que reteve 6,1 toneladas da droga. Outros portos que registraram números expressivos foram os de Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC), com 2,6 toneladas cada.

Com a apreensão realizada na segunda-feira passada (20), o porto de Salvador também atingiu a marca de 2,6 toneladas até momento.