Recuperada de facada, dançarina da La Fúria relembra ataque: 'Vivi um filme de terror'

Em entrevista ao CORREIO, Negra Japa fala sobre recuperação, ameaças e o retorno aos palcos

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  • Gil Santos

Publicado em 24 de maio de 2019 às 16:40

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Japa conta que ainda sente medo das pessoas (Foto: Reprodução/Instagram) A próxima quinta-feira (30) será um dia especial para a dançarina Elisabeth Gonçalves. É quando deve retornar aos palcos, em uma apresentação da Banda La Fúria, da qual faz parte há dois anos. Mais conhecida no mundo da dança como Negra Japa, a jovem viu seu drama pessoal ir parar no noticiário policial. 

No dia 16 de abril, foi esfaqueada em Itapuã por uma mulher que seria ex-namorada de um homem com o qual se envolveu. À Japa, o rapaz teria dito ser solteiro. Após o ataque, a dançarina teve o pulmão perfurado e passou cerca de 10 dias internada no Hospital Municipal de Salvador, no bairro da Boca da Mata. 

Para ela, o pior que poderia ter acontecido foi o afastamento do trabalho. Passou cerca de um mês e meio sem poder se apresentar. “Para mim, não foi só um mês, foi uma eternidade. Quando você faz o que gosta, quando está realizando os seus sonhos e, por um segundo ele é interrompido, é uma perda muito grande”, afirmou Japa, em entrevista ao CORREIO. 

Em todo esse período, ela não teve contato com a agressora, nem com o homem com quem tinha se envolvido. Diz que, todos os dias, pede a Deus para não encontrar nenhum dos dois – a quem chama de ‘pessoas frias e cruéis’. Hoje, ela vive com medo de sofrer um novo ataque.Se uma pessoa foi determinada a tirar minha vida, é porque ela não tem nada a perder. E se ela não tem nada a perder, ela é capaz de fazer tudo”. A polícia também não a acolheu. Segundo Japa, quando foi prestar depoimento sobre o caso, sentiu como se tivesse sido colocada como culpada.

Na conversa a seguir, Japa fala sobre o período de recuperação, as ameaças que sofreu e o retorno aos palcos. Durante todos os áudios enviados para a reportagem, a dançarina ouvia músicas gospel ao fundo. 

No dia 30, ela se apresenta no GPS Music Bar, com a La Fúria. “É uma volta que, para mim, vai ser como se fosse a primeira vez no palco”.  Japa volta aos palcos na próxima quinta-feira (30) (Foto: Reprodução) Confira a entrevista na íntegra:

Quanto tempo você ficou afastada dos palcos?  Eu fiquei um mês e 15 dias afastada da banda, coisa que nunca imaginei. Por causa de outras pessoas, pela frieza de outras pessoas, eu fiquei. Mas Deus sabe de todas as coisas. 

Por quais procedimentos passou durante a recuperação? Durante minha recuperação, tive repouso total. Os médicos falaram que eu tinha que ter repouso total porque meu pulmão foi perfurado, com 15 centímetros de profundidade. Então, eu não poderia pegar peso, não poderia me alimentar de qualquer forma e teria que ter repouso total. Graças a Deus, eu segui tudo isso e agora estou melhor. 

Estava ansiosa para retornar ao trabalho? Estou e estava. Porque uma coisa que eu nunca imaginei é ficar sem trabalhar. Desde pequena, desde nova, desde quando eu tenho ciência que eu existo, eu sempre dancei. Dancei em escola, participava de grupo de dança. Tudo referente à música e à dança, eu estava no meio. Então, para mim, foi uma perda muito grande.É uma perda não só referente ao trabalho, mas à vida, porque era uma coisa que eu nunca imaginava passar. Ficar sem dançar, ficar parada, porque era o meu sonho. E o meu sonho, naquele momento, foi interrompido. Há quanto tempo você é dançarina? Danço desde pequena, porém, em banda, eu vim dançar em 2014. Foi quando participei de uma banda de bairro, depois fui para a Invasão e depois fui para a La Fúria. Graças a Deus, estou lá há dois anos. Fiz dois anos de banda em abril e, para mim, o meu trabalho é muito importante. Foi uma perda muito grande ficar, mesmo que tenha sido um mês. Para mim, não foi um mês só. Foi uma eternidade. Porque quando você faz o que gosta, quando está realizando os seus sonhos e por um segundo for interrompido, isso é uma perda muito grande. Foi isso, meu sonho foi interrompido por um mês e 15 dias. 

Você reencontrou a mulher que lhe agrediu ou o namorado dela? Deus que me livre encontrar essa mulher. Eu peço a Deus todos os dias da minha vida que cegue ela dos meus caminhos, que mude os caminhos dela dos meus, porque ela é uma pessoa fria, uma pessoa que foi determinada a me matar.Ela foi preparada, foi armada para me matar. E creio que uma pessoa que sai determinada para matar outra é capaz de qualquer coisa. E ele, principalmente, não quero ver nem pintado de ouro. Até pelo fato de ele ter sido o culpado, a causa. Para ela, foi uma reação. Ela não teve o direito de tirar minha vida. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, porque ninguém é dono de ninguém. Porém, (ele foi) um homem mau caráter, um homem que não posso nem dizer que é homem, é um moleque. Ele agiu de uma forma de homem sem caráter. Homem sem caráter não merece apoio moral, nem respeito de ninguém. Quero eles distantes da minha vida, distantes de mim, de tudo. Eles já fizeram um estrago enorme na minha vida. Eles interromperam os meus sonhos, eles fizeram uma coisa que eu temia, que era ficar fora do palco. Mostraram ser pessoas frias,  cruéis e capazes de fazer tudo. Só o fato de não ter controlado ela, porque ela ficou na casa inteira atrás de mim... Um homem nessa situação levaria a mulher para certo local até para evitar de acontecer outras coisas. Porém, ele só ficou ali na casa e eu fiquei 40 minutos sem ter socorro. Eu vivi momentos que eu não desejaria a ninguém. Vivi um filme de terror. Como eu falei, toda vez que eu comento, é complicado, porque ali eu vi pessoas frias, pessoas cruéis. A frieza do ser humano, a capacidade que tem de tirar a vida de outra pessoa sem medir esforços. 

Você registrou a ocorrência em alguma delegacia?  Eu fui dar meu depoimento, porque eu falei que ia registrar a queixa, mas o delegado falou que ia me ouvir. Porque a partir do momento que saiu a notícia, o BO (Boletim de Ocorrência) já tinha sido feito, então, lá na delegacia, só estavam esperando o meu depoimento. Mas fui tratada até como se eu fosse a culpada pelo acontecido. 

Depois de oito dias do acontecido, fui na delegacia, prestei meu depoimento, sendo que ela foi, uma semana após o acontecido, e se apresentou com o advogado. Está solta, está livre. É injustiça dos homens. Hoje, parece que você tem direito de matar as pessoas.A pessoa tenta te matar, vai com uma faca para tirar sua vida, tem livre flagrante, se apresenta depois de uma semana com advogado e sai pela mesma porta que entrou. Qual é o primeiro show que vai fazer depois do incidente? O primeiro show vai ser agora, dia 30, no GPS Music Bar. Vai ter a banda que eu trabalho, La Fúria, Poeta, Mc Mel e outras atrações. É uma volta que, para mim, vai ser como se fosse a primeira vez no palco. 

Qual a mensagem que você deixa para os seus fãs? A mensagem que eu deixo para meus nenéns, os amores de mamãe, como os chamo, é de gratidão. É porque, mesmo que se eu estivesse errada, mesmo se a história que foi espalhada fosse real, eles me apoiariam. Eles me apoiaram totalmente e, quando souberam da verdadeira história que estava no meu Instagram, aí que apoiaram mais. Eu só tenho que agradecer, porque cada um faz meu crescimento. Cada um me faz estar onde estou. Sem meus fãs, sem meus seguidores, eu não sou nada. Eu não tenho carreira, eu não sou artista, não sou nada.

Eles se mostraram presentes a todo momento, comigo a todo momento, e creio que essa volta não vai ser só uma felicidade para mim, vai ser para eles também. Vi muitos mandarem mensagem chorando, muitos tristes pelo que me aconteceu. Vi muitos se vangloriarem, mas aí já não são meus fãs. São os seguidores perseguidores, se 'gloriando' pelo que me aconteceu. Porém, ver (os fãs) do meu lado a todo momento foi fundamental para minha recuperação, porque ela não está sendo só física, mas psicológica também. 

Você pode contar como foi aquele dia (do incidente)?Foram momentos terríveis e de aflição, que eu mesma pedi minha morte. Onde eu levei uma facada e demorei 40 minutos para receber socorro. Fui socorrida por pessoas estranhas. Fui levada para o hospital de Itapuã, perdi sangue lá. Depois, fui levada pela Samu para o Hospital de Cajazeiras. Vivi momentos que eu não desejo a ninguém. Eu perdi litros de sangue, defequei, mijei. Não respirava e, quando respirava, saía sangue pelo local do ferimento. Momentos onde eu via a agressora gritar inúmeras vezes que eu só ia sair de lá morta. Momentos onde eu ouvi a agressora gravar o vídeo que ela postou nas redes sociais. 

Tem medo de um novo ataque? Claro que eu tenho. Se uma pessoa foi determinada a tirar minha vida, é porque ela não tem nada a perder. E se ela não tem nada a perder, ela é capaz de fazer tudo. Porém, agora, eu estou atenta. Agora, todos estão atentos. A gente jamais pode confiar em ninguém, imagine uma pessoa que vai preparada e tem a capacidade de matar outra pessoa. Aí, nessa pessoa, realmente não se deve confiar. 

Vem sendo ameaçada? Logo de início, sim, recebi muitas ameaças. Inclusive da própria, usando fakes e coisa e tal. Pessoas que também não gostam (de mim). Da mesma forma que a gente tem pessoas que gostam da gente, tem pessoas que nos odeiam sem nem mesmo conhecer. Tendo motivo ou não tendo. Elas não são justas e não têm direito de julgar, porém julgam. Essas pessoas usaram fakes para falar ‘por que eu não morri’, ‘você acha que acabou? Não acabou não’, ‘você acha que só vai ser essa?’, entre outras palavras ofensivas e agressivas. Porém, no momento, as ameaças acabaram, graças a Deus, porque o assunto está sendo esquecido. Como eu falei, é complicado ficar remoendo esse assunto, porque quem não sabe fica sabendo e, quem esqueceu, faz questão de lembrar. 

Você disse que o rapaz nunca falou que era comprometido. Você não desconfiou? Ele nunca falou que era. Eu fiquei sabendo por outras pessoas que ele tinha um relacionamento. Questionei isso e ele falou: ‘Eu não tenho nada com ela. Eu estava em um relacionamento recente’. Foram as palavras que ele me falou. Porém, como eu sei que existem, sim, tanto mulheres como homens que terminam relacionamento e não aceitam, eu falei...

Eu conheci ele em dois momentos. Conheci num aniversário e no momento que aconteceu. No aniversário do amigo, ao meu ver, ele não devia nada a ninguém, à Justiça, porque era uma pessoa que estava em um lugar público onde vão pessoas de todos os tipos. Ao meu ver, era uma pessoa tranquila, normal. Uma pessoa solteira, porque ele, na festa, estava rodeado de mulheres.

No camarote, o lugar onde ele estava rodeado de mulheres, ele estava se comunicando com todas. Brincando, bebendo, dando cerveja a todas. Homem casado ou em relacionamento não anda em festa. Se estiver em festa, está com a esposa. Depois que eu encontrei ele nesse aniversário, a gente bebeu, eu soube que ele tinha um relacionamento e questionei a ele. Falei: ‘Rapaz, você tem mulher?’. Ele disse: ‘Eu não tenho, não. Eu tinha, sim. Terminei o um relacionamento recente, porém, não estou mais com ela, por causa das brigas'. Me explicou, mostrou conversas com ela no WhatsApp.

Os três amigos que estavam ao redor dele confirmaram. Um, em especial, me chamou e disse: ‘Japa, ele é de boa. Não tem mulher. É um cara trabalhador, cara guerreiro aí. É sozinho, realmente terminou recente e ela fica perseguindo ele’. Foram as coisas que os três amigos, em momentos individuais, me falaram. E ele confirmou, falou. Outras mulheres que estavam no momento também confirmaram. ‘Japa, ele não tem. E quando ele estava com ela, ele saía com ela’. Foi dito, então eu tinha confiança total em estar com ele, porque, para mim, a palavra do homem vale. Tem pessoas que terminam e não aceitam, então achei que o caso seria semelhante. 

Ele era popular? Popular em que sentido? Visto na mídia? Eu não sabia dessa versão dele, popular. Eu vi um homem normal. O homem que eu conheci, o moleque que eu conheci. Foi um menino que estava numa festa onde poderiam estar pessoas de qualquer tipo. Um homem, como vocês falam, popular, não estaria. Um homem que estava no meio de pessoas numa festa pública que outros populares não estariam. E se realmente ele tivesse mulher, não estaria ali. E, no momento que eu fiquei com ele, que foi o dia do aniversário, em nenhum momento ele discutia com ninguém no celular. Ele nem pegava no celular. Estava com dois celulares na mão, porém, em nenhum ele mexia, tirando quando a mãe dele ligou. Eu presenciei a mãe dele ligando. Somente isso. 

Como foram os dias de recuperação? Estão sendo torturadores, pelo fato de eu nunca ter ficado afastada do meu trabalho, porque meu psicológico está afetado. Porém, a minha vontade de vencer, ninguém vai atrapalhar. Quando eu estava prestes a morrer, porque eu não morri pelo milagre de Deus, eu vi Deus em tudo. Deus me cuidando, Deus me guardando. Porque eu levei uma perfuração de 15 centímetros. Uma facada quando estava dormindo.