Regina Duarte era 'monitorada' pela Ditadura Militar, que a via como 'esquerdista'

Nova secretária de Bolsonaro chegou a posar com Fidel Castro e citar deputada do PT como inspiração

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  • Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 09:47

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução Convidada para secretaria de Cultura por Jair Bolsonaro - e tendo aceitado passar por "período de testes" -, era vista como militante de esquerda pela Ditadura Militar, constantemente exaltada pelo atual presidente. O regime de exceção a enchergava como uma "militante de esquerda infiltrada na TV".

Um documecumento, datado de 10 de maio de 1982, produzido pela extinta DSI (Divisão de Segurança e Informações) mostra que a atriz, que à época fazia parte do elenco da novela "Sétimo Sentido" (TV Globo), era monitorada pela ditadura.

Um dos momentos que fez a SNI "se atentar" a Regina, segundo o UOL, foi quando a atriz viajou para Cuba para ser homenageada pela associação cultural "Casa de Las Américas", em 1984. Durante a visita ao país, ela foi recebida pelo governante Fidel Castro. Ambos chegaram a posar, lado a lado, para foto. Foto: Reprodução Entre os documentos que compõem o acervo da ditadura, há um que narra todos os fatos da passagem de Regina por Havana. A viagem ocorreu na época em que ela era a atriz principal do seriado "Malu Mulher" (TV Globo). 

Na ocasião, a revista IstoÉ noticiou que "Malu Mulher" havia sido considerado o programa de televisão mais popular em Cuba no ano de 1983. Cerca de 5.000 pessoas lotaram o teatro Carlos Marx, na capital Havana, para prestigiar as homenagens à atriz brasileira.

O relatório produzido pelo SNI informa que Regina esteve com Fidel e, posteriormente, "visitou centros de trabalho e diversas outras entidades, onde iniciava debates com as operárias cubanas". Além disso, menciona um encontro da atriz com o poeta Nicolás Guillén, também de esquerda. 

Em outro documento confidencial, por meio do qual os militares se dedicaram a investigar a "utilização de artistas para a propaganda do regime de Cuba", há menção a uma entrevista de Regina ao jornal Voz da Unidade, do PCB (Partido Comunista Brasileiro). 

Segundo o texto, a atriz "considera Fidel Castro um dos maiores estadistas do mundo" e "defende o reatamento das relações entre o Brasil e aquele país". Foto: Reprodução / Arquivo Nacional Escritora feminista e deputada petista Também no relatório feito pelos militares sobre a passagem de Regina na ilha caribenha, há um treço que anexa uma entrevista da atriz ao filósofo e cientista político Emir Sader, concedida em 1983, pouco antes da viagem. À época, ele atuava como correspondente da revista cultural El Caimán Barbudo. 

No texto, a artista diz a Sader que não se considerava feminista, mas pondera: "embora ache que vivo de acordo com algumas coisas que as feministas consideram positivas". 

O entrevistador pergunta com quais "mulheres contemporâneas" Regina mais se identificaria. Entre os nomes, ela cita a economista Maria da Conceição Tavares, voz da esquerda e que já foi deputada federal pelo PT, e a romancista Simone de Beauvoir (1908-1986), famosa autora feminista. Menciona ainda a antropóloga Ruth Cardoso. Foto: Reprodução / Arquivo Nacional "Infiltração esquerdista na TV"  Sob título "Infiltração esquerdista na TV", a DSI, órgão vinculado ao Ministério dos Transportes na ditadura, diz que Regina se notabilizou pela "militância esquerdista" e que ela exerceria "grande influência sobre outros artistas de novelas". 

O relatório lista ainda outros nomes de atores com perfil semelhante, na versão do regime, como o escritor e ator Mário Lago, o ator Gianfrancesco Guarnieri, a atriz e sindicalista Lélia Abramo, entre outros.