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Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 13:21
- Atualizado há 2 anos
Como cobrir a maior festa popular do mundo? O CORREIO decidiu fazer um Carnaval de experiências. Nas ruas, nos blocos, nos palcos, ou até dentro do trio, dirigindo um dos gigantes caminhões que arrastam multidões, os repórteres do CORREIO foram às ruas como foliões. O resultado? Você confere abaixo:>
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Um hétero num bloco gay>
O repórter Vitor Villar teve como missão ser um 'hétero em blocos gays'. O repórter do CORREIO saiu em quatro dias do Carnaval com a multidão que segue as divas do público LGBT:Amigo hétero, deixa eu falar: bloco gay é bloco como outro qualquer. Tem pegação, gente bebendo, se empurrando, curtindo de maneira desenfreada. A partir do momento em que você aceitar que homens e mulheres curtem beijar pessoas do mesmo sexo – e que isso é direito delas –, o que sobra? Um bloco igualzinho aos demais.Dito isso, é óbvio que, pelo fato de ser um homem hétero e ter saído por quatro dias neste Carnaval em blocos LGBTQIA+, vivi situações inéditas e que, com certeza, nunca viveria. Não sei como você se sairia, mas me saí bem, sem traumas. Repórter do CORREIO posa para foto dentro do bloco Largadinho (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Na sexta, desfilei no Blow Out, de Claudia Leitte, na Barra. Após uma entrevista, me vi “queixado” pela fonte. “Você é muito lindo. Tem namorado?”, disse o folião. Dei risada e, cheio de constrangimento, respondi: “Tenho namorada”. “Ah, você é hétero? Que pena! Ia arrasar no bloco”. Agradeci, dei risada e fui embora".>
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Eles foram e eu estava lá>
Como a felicidade coletiva pairou na pipoca do BaianaSystem? Depois de um texto que foi replicado até pela banda, em que pedia (implorava?), por mais dias de Baiana no Carnaval, o repórter Alexandre Lyrio fez um relato de ser parte da imensa e vibrante pipoca de uma das maiores revelações dos últimos anos da festa. (Foto: Marina Silva/CORREIO) Estar na pipoca do BaianaSystem é mais do que entender o real significado de pipocar. No Baiana você não pipoca, você flutua mesmo! Levado pela massa, você pula e pode não encontrar o chão tão facilmente. Mantenha a calma e no final estará tudo bem! Ninguém viveu isso de forma tão intensa quanto o cadeirante que singrou sobre o mar de gente em uma das apresentações do Baiana nesse Carnaval. Se não viram essa foto, aí está de novo. Ela resume tudo!>
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Um viado nas Muquiranas: 7h de insultos, tapas na bunda e cantada >
O chefe de reportagem e editor do blog Me Salte, vestiu a fantasia de de Alice no País das Maravilhas e foi ver de perto como é ser um gay assumido (com plaquinha de identificação e tudo) no bloco geralmente associado à homofobia e ao machismo.O termômetro na avenida marcava 32 °C. O vestido azul cintilante, inspirado em Alice no País das Maravilhas, trazia um decote generoso e sensual nas costas, mas o leque se tornou imprescindível para as 13h no Campo Grande. Enquanto me abanava, os olhares miravam a tiara ‘Sou viado. E daí?’ que eu usava. Alguns desviavam o olhar, outros baixavam a cabeça, poucos riam.Eu estava no clima. Na segunda-feira de Carnaval (24), dia que desfilei, o próprio cantor Márcio Victor, da banda Psirico, gritou ao microfone: “Quem é o mais viado aí hoje? E quem tem a maior rola?”. O culto ao pênis chama atenção dentro do bloco. Afinal, são tantos machos ali juntos, com suas pistolas cheias e prontas para sacanear quem passe na frente. Eu não adotei o artefato e segui. Jorge Gauthier de Muquirana (Foto: Arisson Marinho) O silêncio no chão, no entanto, durou pouco – até o primeiro sussurro no meu ouvido: “Se é viado mesmo, gosta disso, né?”, disse o senhorzinho grisalho ao segurar um pênis de borracha e roçar na minha cara. Foi o primeiro insulto homofóbico que ouvi e senti ao desfilar junto aos outros 2 mil foliões d’As Muquiranas, primeiro a ter homens vestidos com ‘roupas femininas’ no Carnaval de Salvador.>
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Sozinho no meio da multidão: a história de um motorista de trio com trauma de Carnaval>
João Gabriel Galdea, uma das mentes por trás da coluna Baianidades, foi contar a experiência do motorista de trio elétrico Gibeon Trindade, 62 anos, com o Carnaval de Salvador. Ele, que já foi agredido quando curtia a folia em 1979, quatro décadas depois, viaja protegido numa cabine climatizada.>
“Foi uma recepção muito dolorosa. Fui agredido pelos foliões, por nada, e ainda pela polícia. Quando eu tava tomando rumo pra ir pra casa, fui abordado na saída, todo quebrado, ensanguentado, pela PM, e levei um tapa. Tomei ódio de Carnaval”, recorda Gibeon, que voltou para a casa onde morava, no Pau Miúdo, com um único pensamento na cabeça: “Carnaval nunca mais”.>
Também custei a curtir Carnaval por medo da violência. Conto isso num texto aqui mesmo no CORREIO, há dois anos: isso veio com tempo e experiência de saber os lugares certos de seguir, como parece ser a lida de Gibeon, no comando de um dinossauro ao lado de formiguinhas saltitantes. É essa, aliás, a impressão que tive de dentro do trio, como co-piloto informal, preocupado de minha conversa torná-lo desatento e causar um atropelo, por exemplo.>
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Na pipoca, Ivete Sangalo é tudo: a tia, a prima da balada e a mãezona>
A repórter Thais Borges virou pipoca: com a missão de acompanhar Ivete Sangalo onde quer que mainha fosse.>
O estudante João Pedro Palma, 16, esperava um encontro especial nesta terça-feira (25). No início da tarde, ficou no local marcado: a varanda do apartamento da família, na Avenida Sete de Setembro, no Centro. Segurando cartazes ao lado das tias, aguardava a chegada de alguém que é considerada uma extensão da própria família – era Ivete Sangalo, que puxou um trio sem cordas no circuito do Campo Grande, após três dias comandando o bloco Coruja, na Barra. >
“Você cresceu, João! Não está me achando gostosa assim, não?", indagou Ivete, logo que chegou em frente à casa da família. "Não quer trocar de cantora, não?”, questionou, encarando os cartazes com fotos dela e declarações de um dito 'fã nº 1'. A dúvida era se ele, por acaso, não teria enjoado dela. Queria saber se ele não queria mudar de cantora preferida. Após a negativa, derreteu-se para o estudante. “Um cheiro para você, que Deus te abençoe e te dê muitas oportunidades”, disse, para a felicidade do adolescente. A parada de Ivete na varanda da família de João Pedro é praticamente obrigatória (Foto: Thais Borges/CORREIO) ***>
Diversidade sem repressão>
A missão do estagiário Vinicius Nascimento era escrever um texto sobre causas LGBTQI+ em um bloco tão tradicional como o Filhos de Gandhy. "Não é das coisas mais fáceis".Imagine você estar sozinho na corda de um bloco gigantesco, precisando contar o que rolou no desfile, gravar vídeos, anotar nomes e pegar contatos, tudo isso andando no meio da multidão, com a necessidade óbvia de ficar esperto para não perder o celular com todas as informações para fechar a matéria. É pau viola. Leandro França sai com o Gandhy há 18 anos (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) "Além disso, sou uma pessoa tímida. Consigo me transformar pelos ossos do ofício, mas se tem uma coisa que eu odeio é abordar pessoas que não conheço na rua. Para esse texto, ainda precisei torcer para a pessoa não me levar a mal. Imagina o caos que seria no meio da avenida se eu abordo um cara machista e pergunto se ele é gay ou bi? “Tá me achando com cara de viado, porra?!”. Era murro na cara certo.>
Por sorte, meu ‘gaydar’, está afinado e na minha primeira abordagem dei a sorte de encontrar o gentil Fábio Souza. Paulistano de nascença e radicado na Bahia há 12 anos, ele desfilou de filho de Gandhy pela primeira em 2020".>
O CORREIO Folia tem o patrocínio do Hapvida, Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Salvador Bahia Airports e Claro>