Réveillon de Salvador terá queima de fogos, praias liberadas e monitoradas

Prefeitura pede cautela após alta na ocupação de leitos de UTI Covid e mortes por H3N2

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  • Gil Santos

Publicado em 28 de dezembro de 2021 às 19:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: divulgação

A pandemia forçou, mais uma vez, a Prefeitura de Salvador a mudar os planos sobre o Réveillon. Depois de cancelar o Festival Virada, a administração municipal anunciou que vai realizar uma queima de fogos para celebrar a passagem de 2021 para 2022, como aconteceu no ano passado. Serão 20 pontos de atração, mas os locais não serão divulgados para evitar aglomerações. A novidade é que desta vez as praias estarão abertas ao público, com monitoramento da Guarda Municipal (ver mais abaixo).

A estudante Marcela Silva, 24 anos, gostou da mudança. Ela mora em São Tomé de Paripe, no Subúrbio Ferroviário, bem perto do mar, e lamentou o fato de a tradição de passar o Ano-Novo de branco, na areia, ter sido quebrada no ano passado. Agora, pretende retomar a rotina.

“Algumas pessoas foram [para a praia], mas minha família e eu ficamos com medo e resolvemos passar em casa. Foi uma pena porque eu adoro passar a virada de ano na praia. Não sei explicar o motivo, mas a energia é diferente, não é a mesma coisa de estar em casa. Esse ano vamos matar essa saudade”, disse.

Apesar da animação, a recomendação das autoridades é para ter cautela. O anúncio da programação de Réveillon foi feito pelo prefeito Bruno Reis (DEM) durante a assinatura de uma ordem de serviço para construir e reformar encostas, nesta terça-feira (28), na região do Rio Vermelho. Para evitar tumultos, os locais onde haverá queima de fogos não serão divulgados, mas o gestor adiantou que nenhuma praia será contemplada e nem o quebra-mar do Comércio.

“Vamos fazer um registro da virada do ano, exatamente como foi feito no ano passado. Então, são 20 pontos da cidade, em locais que não tem como as pessoas aglomerarem e que não serão anunciados. Inclusive, não terá queima de fogos em nenhum trecho dos 64 quilômetros de orla da cidade e nem no quebra-mar do Comércio ou no Forte São Marcelo. Será uma queima de fogos apenas para registrar o momento da virada”, afirmou o gestor.

Cautela O tempo de duração do evento não foi divulgado, mas Bruno Reis afirmou que será breve. A intenção é que seja um registro, e não um espetáculo.

Ele frisou que agentes da Guarda Municipal vão monitorar as praias e orientar as pessoas, mas pediu que a população colabore usando máscara e evitando aglomerações. Ele também recomendou que as pessoas reflitam sobre o momento que estamos passando.

“Diante de tudo que está acontecendo e que estamos evidenciando, seja por conta da nova variante ômicron do coronavírus, seja pelo enfrentamento para evitar o surto da gripe da H3N2, e também as fortes chuvas que estamos enfrentando em nossa cidade, e em especial no Sul e Extremo-Sul da Bahia, não há clima para a gente celebrar. Não há porque celebrar nesse momento. Mas nós vamos fazer esse registro na virada do ano exatamente como foi feito no ano passado”, complementou.

Na passagem de 2020 para 2021, alguns dos locais escolhidos para a queima de fogos foram o Parque da Cidade, Forte de São Marcelo, Plataforma, Canabrava, Boca da Mata, Abaeté, Imbuí, Paripe, Sussuarana, Patamares, Cassange, Liberdade, Bairro da Paz, Castelo Branco, Valéria, Fazenda Coutos, Pirajá, Pernambués, Vila Laura e os campi da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A maior apresentação pirotécnica aconteceu no quebra-mar do Comércio e durou cerca de 10 minutos. Este ano, o local está fora da lista.

A dona de casa Eliana Santos, 46, estava na janela do quarto quando viu os fogos estourarem no céu, em Paripe, em 31 de dezembro de 2020. Ela contou que foi bonito de ver e que estava vivendo um misto de sentimentos que espera nunca mais ter que experimentar.

“Estava feliz porque meus filhos estavam em casa, porque quando tinha o evento na Boca do Rio [Festival Virada] eles iam e eu ficava preocupada, mas ao mesmo tempo estava com medo, porque tenho pais idosos e a gente não tinha vacina naquela época. Espero que 2022 seja mais tranquilo, já que 2020 e 2021 foram agitados até demais”, brincou.

Os dois últimos meses do ano registraram alta no número de internações por covid-19. Nesta terça-feira, a taxa de ocupação dos leitos de UTI em Salvador era de 53%. Até final de outubro o percentual variava entre 25% e 35%. Já os leitos clínicos estão 67% ocupados na capital. Por conta do surto de gripe a cidade precisou reabrir mais dois gripários, além da unidade dos Barris que está com alta demanda.

Nesta terça (28), a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) informou que a Bahia já registrou 673 casos de Síndrome Gripal (SG) com laudo positivo para Influenza A H3N2, com oito mortes ocasionadas pela doença. Destas, sete óbitos foram em Salvador e um em Laje, cidade a 135 km da capital (via ferry-boat). 

Segundo o boletim divulgado pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep), 114 casos evoluíram para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e necessitaram de hospitalização. A taxa de letalidade é de 7,1% entre os casos de SRAG hospitalizados. 

Em toda a Bahia, a taxa de ocupação da UTI Covid adulta está em 51% e a enfermaria em 35%. A situação é mais crítica para os leitos pediátricos que estão com lotação de 79%, na UTI, e 70%, na enfermaria. O coronavírus já matou mais de 27.479 pessoas na Bahia - oito delas conforme boletim divulgado nesta terça -, e infectou pelo menos 1.240.446 de baianos.

Novo normal O Réveillon não foi o único evento que precisou se reinventar. A Lavagem do Bonfim, uma das festas mais tradicionais da Bahia, vai quebrar a tradição pelo segundo ano consecutivo. A edição de 2022 seguirá o mesmo modelo de 2021, ou seja, sem procissão, sem lavagem das escadarias e com acesso limitado ao templo. O prefeito Bruno Reis disse que vai bater o martelo na próxima semana, mas que está quase tudo certo.

“Os fatos e o tempo por si só estão se encarregando de mostrar que não dá para acontecer nos moldes tradicionais. Eu tenho postergado ao máximo para tomar uma decisão, para quando isso acontecer ela ser a mais acertada. Vai passar a virada do ano, já foi canelado [o cortejo] de Bom Jesus dos Navegantes e, no início do ano, vamos ver o que é possível fazer, mas muito provavelmente será nos moldes do ano passado”, afirmou.

A Lavagem do Bonfim acontece desde o século XVIII e é considerada uma das maiores festas religiosas do país. Em 2021, por conta da pandemia a imagem percorreu a cidade em cima do carro do Corpo de Bombeiros, sem procissão. A Arquidiocese já havia anunciado o cancelamento do cortejo e divulgou uma programação especial, sem o desfile da imagem, mas estava aguardando um posicionamento da Prefeitura sobre a lavagem das escadarias. Haverá missas, novena e homenagens entre 7 e 16 de janeiro.

O prefeito também comentou sobre o cancelamento do Carnaval anunciado pelo governador Rui Costa (PT), na semana passada. Rui disse que por conta da pandemia e do surto de gripe, a festa seria cancelada em todo o estado. Bruno Reis concordou com o gestor e disse que, além das questões sanitárias, as desistências de artistas e empresários deram os sinais de que a festa não aconteceria.

“Passou novembro, não tinha mais tempo hábil pra isso. Eu sempre disse, ‘a prefeitura tem condições de organizar um carnaval em 30 ou 45 dias, mas os outros atores não’. Eles foram desmobilizando e não faz mais sentido ter um carnaval nos moldes tradicionais. Agora, vamos ver o que é possível fazer e se é possível fazer alguma coisa para também, como estamos fazendo no réveillon, o carnaval poder ter algo que possa acontecer”, disse.

80 guardas no Réveillon Com o objetivo de fiscalizar a orla de Salvador durante o Réveillon, e orientar o cidadão no período da virada de ano, a Guarda Civil Municipal disponibilizará cerca de 80 agentes, de acordo com a assessoria do órgão.

Seguindo as orientações do prefeito Bruno Reis, os agentes estarão em rondas nas áreas de praia, apesar de não haver nenhum ponto determinado como área de queima de fogos. "O nosso objetivo vai ser orientar as pessoas e solicitar que aproveitem a grande extensão de areia na cidade e não se aglomerem, sendo importante salientar que é uma responsabilidade coletiva, pois não há condições de estarmos em todos os lugares ao mesmo tempo", afirmou o diretor de Segurança Urbana e Prevenção à Violência, Maurício Lima.

Ainda de acordo com a assessoria da GCM, "a virada de ano seguirá os moldes do ano passado, onde haverá queima de fogos em alguns pontos de Salvador, contudo não serão previamente divulgado esses locais."