Saiba o que ciência diz para conseguir um envelhecimento saudável

Autora do livro O Legado dos Genes, Mayana Zatz lidera o Projeto 80+, que tem um dos maiores banco de dados genéticos de pessoas idosas do país

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Nascimento
  • Vinicius Nascimento

Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

A longevidade do brasileiro está aumentando com o passar dos anos. E não é coisa de boca, não: quem diz é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontando que a expectativa de vida subiu para uma média de 76,8 anos no seu último levantamento estimado, feito em 2020. Estudos do órgão ainda informam que em 2050, por exemplo, o Brasil terá 30% de sua população com idade acima dos 60 anos. Os números são marcantes ao ponto de sabermos que, nas próximas duas décadas, o percentual de idosos no Brasil, que hoje é de 13% da população, tende a dobrar.

Além disso, a partir de 2047. a população deverá parar de crescer, contribuindo para o processo de envelhecimento populacional – quando os grupos mais velhos ficam em uma proporção maior comparados aos grupos mais jovens da população. Esses números chamam atenção de muitos setores, inclusive a ciência. Ora, a longevidade ainda guarda uma série de mistérios em relação ao corpo e a mente. Há uma mistura de desejo e curiosidade quando se fala das idades mais avançadas e uma série dessas questões é abordada no livro O Legado dos Genes: O Que a Ciência Pode nos Ensinar Sobre o Envelhecimento )Editora Objetiva/ R$.40).

A obra é assinada pela geneticista Mayana Zatz, professora titular do Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco, e pela jornalista Martha San Juan França. É um livro bem completo, que aborda diversos fatores para se ter uma longevidade saudável. A geneticista Mayana Zatz é autora do livro (Foto: Divulgação) Por exemplo: além da herança genética, que pode ter influência em vários casos, a chegada à longevidade depende de um engajamento para adoção de estilo de vida saudável e também de coisas que fogem ao indivíduo por si só, como a adoção de políticas públicas comprometidas com a longevidade.

O livro tem uma linguagem muito leve e acessível. Ele começa explicando a maneira pela qual o envelhecimento começa nas células, unidades que estão sempre se dividindo, e a cada divisão todo o genoma é duplicado (replicado), e os genes transmitidos para as gerações seguintes devem ser idênticos às versões anteriores. No entanto, as células estão sujeitas às agressões do meio ambiente e podem ocorrer falhas no momento da replicação celular que não são reparadas e vão se acumulando com o tempo. 

Outro problema são os chamados radicais livres, moléculas altamente reativas produzidas pelo metabolismo celular durante o processo de queima do oxigênio utilizado para converter os nutrientes em energia. As pesquisas voltadas para a biogerontologia têm o objetivo de descobrir formas de evitar, ou pelo menos adiar, a ocorrência desses danos nas células. Capa de 'O Legado dos Genes' (Divulgação) Autora do livro, a doutora Mayana lidera o Projeto 80+, que coleta DNA de voluntários dessa faixa etária. O banco de dados foi criado para servir como base de comparação para a genética dos idosos brasileiros e ganha mais relevância considerando que muitos sobreviveram à pandemia, mesmo sendo um dos grupos de risco de maior destaque em relação à doença.

Ela explica que a ideia do projeto é entender como funcionam neurônios, células de vasos sanguíneos e as células musculares de pessoas que se mantêm saudáveis após os 90 anos. "Saber os mecanismos que as protegem dos aspectos físicos do envelhecimento poderá abrir caminho para novos tratamentos que beneficiem a todos”, afirma.

Diretora técnica da Cuidare Brasil, rede de franquias de cuidadores de pessoas, Izabelly Miranda afirma que a preocupação com uma velhice de qualidade vem crescendo porque as pessoas buscam se manter ativas entre 20 e 30 anos a partir da chegada da terceira idade.

Ela lista algumas necessidades importantíssimas para um envelhecimento saudável, como a importância do acompanhamento por um geriatra que possa ficar de olho no quadro de saúde e atento a eventuais anomalias.

Ela também pontua que a prática de exercícios físicos, como caminhada, hidroginástica e pilates, desde que realizados com acompanhamento de um profissional da área, auxiliam bastante no no equilíbrio, na boa condição cardíaca e na resistência respiratória e muscular.

Por fim, a necessidade de companhias. É fundamental para a saúde mental do idoso que ele tenha companhias. Amigos e familiares são pessoas importantíssima nessa ponto porque a pessoa idosa também precisa se sentir alguém - para além de uma pessoa que está no final da vida ou apenas 'cumprindo tabela' por ter chegado a uma determinada idade. Ter o carinho e companhia de pessoas queridas faz toda a diferença para que eles sejam o que de fato são: gente como a gente. Com muita experiência e história, tanto para contar, quanto escrever.