Salão ao ar livre: empreendedores informais inovam em Salvador

Com a lenta recuperação econômica do país e o alto índice de desemprego, baianos estão buscando alternativas criativas para sobreviver

  • D
  • Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho

A fila de espera tinha cinco mulheres, todas confortavelmente sentadas. Dois designers de sobrancelhas e três manicures mostravam destreza e pressa. O cabeleireiro não apareceu para trabalhar. “Você sabe, né? Fim de ano tem funcionário que some!”, tentava se explicar Fábio Cândido de Carvalho, 32 anos. Dono do “estabelecimento”, Fábio queria aproveitar ao máximo o movimento de fim de ano para lucrar um pouco mais.“Natal foi uma loucura. Agora o pessoal quer ficar bonito para a virada. A gente tem que dar conta”, disse.A cena descrita seria de um salão de beleza como outro qualquer se ele não estivesse localizado em plena Avenida Sete de Setembro, no Relógio de São Pedro, Centro de Salvador. Sob dois toldos improvisados, Fábio e sua trupe, treinada por ele, faziam a alegria dos clientes que não tinham tempo e dinheiro para ir em um salão com paredes e ar-condicionado. Com o Brasil em lenta recuperação econômica, com perspectiva de crescer em 2019 apenas 0,9%, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) – os números oficiais só serão fechados no primeiro trimestre desse ano –, sem falar na falta de emprego que atinge 12,4 milhões de pessoas, o baiano, como qualquer brasileiro desempregado, tem sido obrigado a se virar para conseguir sobreviver. Fábio e sua equipe fazem sobrancelhas, unhas e cabelos ao lado do Relógio de São Pedro, no Centro de Salvador (Foto: Arisson Marinho) Se bem que Fábio nem baiano é. Há um ano, veio de Aracaju, onde nasceu, para ampliar o seu mercado. Até janeiro do ano retrasado, passou 15 anos trabalhando em um salão nos mesmos moldes no calçadão do Centro da capital sergipana, entre os bairros de São Cristóvão e Laranjeiras. “Mas, lá eu não trabalhava para mim. Aqui, sou eu que comando”, comemorou Fábio, sem revelar quanto fatura por semana. Seus funcionários não têm qualquer vínculo empregatício. O acerto é de que 30% do que eles faturam tem que ir para o bolso do “chefe”.

Fábio, que também é designer de sobrancelhas, aprendeu o ofício com Gledson do Mutirão, um cabeleireiro e ex-vereador de Aracaju conhecido por realizar mutirões em que ensina corte de cabelo e design de sobrancelhas de graça. Fábio resolveu passar os seus conhecimentos para ex-camelôs da Avenida Sete. Eles, então, se tornaram seus funcionários informais. “Vale muito a pena. O que eu tirava em uma semana na banca, tiro em um dia aqui”, disse Matheus Santos Oliveira, que antes vendia suco de laranja na rua. No salão de Fábio, fazer as sobrancelhas custa R$10, o corte de cabelo R$12 e pé e mão R$20. O empreendedor aprendeu o ofício de designer de sobrancelhas com um cabeleireiro e ex-vereador de Aracaju (Foto: Arisson Marinho) Informais De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em outubro do ano passado, o país tinha 38,8 milhões de trabalhadores informais, que representam 41,4% do total de ocupados. Este é maior índice registrado desde que o instituto iniciou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O Trabalho de Conclusão de Curso recém elaborado pela jornalista Záfya Tomaz revelou números da Bahia. Segundo Záfya apurou com o próprio IBGE, os trabalhadores informais chegam a representar 60% da população ocupada baiana.

Para estes, a propaganda é no boca a boca. “Soube com minha vizinha que estavam fazendo a sobrancelha na rua, aqui no Relógio de São Pedro. Estava de passagem para o trabalho e parei”, contou a assistente de loja Victória Santos, 19 anos. As pesquisas do IBGE consideram cinco categorias de trabalho como informais: trabalhador autônomo, empregada doméstica sem carteira assinada, empregador sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), trabalhador do setor privado sem carteira assinada e trabalhador familiar auxiliar.

Fábio é uma mistura de ambulante (trabalhador autônomo) com empregador sem CNPJ. Ele já pensou várias vezes em se tornar um Micro Empreendedor Individual (MEI). “Mas ainda não juntei dinheiro suficiente”, ponderou ele. “Os impostos são muito pesados”, avaliou.

Varejo Uma das principais opções para quem busca trabalho é o varejo. Na Bahia, onde até o terceiro trimestre havia 1,170 milhão de desempregados, também de acordo com o IBGE, o setores varejista de produtos novos e usados, alimentação e bebidas e o comércio varejista não-especializado são os que mais têm atraído o trabalhador. Até novembro, segundo informações do Serviço Brasileiro de Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o setor varejista de produtos novos e usados contabilizou 90.907 estabelecimentos, enquanto o de alimentação e bebidas 56.436 e o comércio varejista não-especializado 54.277.

Em Salvador, a Relações Públicas Daniela Bastos, 34, que atua como confeiteira desde 2011 quando abriu a Dani Brigadeiros, tem expandido os negócios com a produção de brigadeiros (são 32 sabores diferentes) e bolos para entrega em pequenas e grandes quantidades – neste caso, para eventos.  Ela pegou gosto pelo ramo enquanto trabalhava em uma empresa de formatura. Passou a fazer brigadeiros e a comercializar para amigos, os quais foram espalhando para outros amigos, até que as encomendas cresceram tanto a ponto dela se dedicar somente a isso.

Moradora do bairro de Pernambués, Daniela entrega brigadeiros e bolos principalmente nos bairros da Pituba, Itaigara Barra e na Graça. E ela nem tem loja física – sua principal vitrine é a rede social Instagram, onde a conta @dani_brigadeiro já possui mais de 47 mil seguidores. Hoje, Daniela tem produção mínima mensal de 2 mil brigadeiros e 50 bolos. Ela trabalha com mais três funcionários, uma na produção, um na entrega e outro para servir nos eventos. Para crescer, ela contou, teve de fazer alguns ajustes e tomar cursos tanto de confeitaria como de gestão.“Como não sabia muita coisa sobre administração de empresa, fiz uma pós-graduação em gestão de negócios. Neste Natal, por exemplo, decidi focar em oito produtos que tiveram mais saída ano passado, e percebi que eles eram também o que levam menos tempo para produzir e com menos custos”, declarou. “Então hoje, véspera de Natal, já estou tranquila”, afirmou.Baixo investimento A busca maior por essas áreas, como de varejo e alimentação, na avaliação da gerente do setor de gestão estratégica da unidade baiana do Sebrae, Isabel Ribeiro, se dá por conta do baixo nível de capital de giro para investir em negócios mais tradicionais. “São negócios para atender necessidades imediatas da população”, ela esclareceu.

Dentre eles, estão pequenos salões de beleza, restaurantes, lanchonetes e comércio de vestuários. “Recentemente, temos visto também surgirem na Bahia as startups, empresas emergentes que, geralmente, têm base tecnológica e são voltadas para aprimorar um modelo de negócio”, revelou.“Temos visto que existe, sobretudo em Salvador, um espaço onde os jovens que saem das universidades aprimoram suas ideias em diversas áreas, o que favorece o desenvolvimento da economia criativa”, comentou Isabel, que tem notado também, com a chegada do verão, uma busca na área de serviços do turismo.“Pequenos hostels estão sendo abertos por pessoas que moram em áreas próximas a pontos turísticos na cidade, com o oferecimento, inclusive, de café da manhã. E estão buscando atuar de maneira formal, buscam apoio e orientação do Sebrae sobre os serviços e dicas de empreendedorismo”, apontou.

Para Isabel Ribeiro, essa movimentação na economia poderá ser mais intensiva neste novo ano, caso a projeção de crescimento que o FMI tem para o Brasil, de 2% do crescimento, se confirme para 2020, ano em que reformas importantes como a da Previdência e a Tributária devem estar mais consolidadas.

“Esse ano foi de saída de um estágio quase de depressão, e ano que vem, acredito, o impulso será bem maior, sobretudo se as reformas que o mercado necessita e espera que ocorra sejam concretizadas. Tivemos avanços neste ano, mas o mercado espera que ocorra mais para ter confiança em fazer os investimentos”, avaliou.

Perspectivas para a Bahia Para o Sebrae-BA, os eixos com maiores hipóteses de favorecer e estimular o empreendedorismo e crescimento sustentável de pequenos negócios nos próximos quatro anos (2020-2023) são os de ciência, tecnologia e inovação; cultura, desenvolvimento produtivo, rural e urbano; e educação, igualdade racial, inclusão sócio-produtiva, infraestrutura e sustentabilidade.

Estruturar, fortalecer e consolidar o sistema de Ciência, Tecnologia, Inovação e o empreendedorismo inovador, na avaliação do Sebrae, funcionam como mecanismo de promoção do desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental de forma sustentável.

Já a valorização da diversidade – em especial a identitária, territorial, de gênero e raça – favorecem uma melhor estratégia na geração de trabalho, renda, inclusão social e produtiva e de promoção da paz social, a partir do momento em que se articulam atores para a promoção e fomento das diferentes atividades artísticas e manifestações populares.

No desenvolvimento rural, a sustentabilidade estimula uma economia rural dinâmica e impulsionadora da desconcentração e diversificação regional produtiva, com valorização do agronegócio e da agricultura de base familiar, dos pequenos e médios agricultores e aquicultores, com a inclusão de mulheres, jovens e povos de comunidades tradicionais.

Na avaliação do Sebrae, é essencial fomentar a produção agroindustrial e agroecológica, considerando a segurança alimentar e nutricional, bem como as cadeias produtivas do agronegócio e os sistemas produtivos da agricultura familiar e sua comercialização. É necessário, ainda, investir em políticas de crédito, no seguro produtivo e na formação continuada nos diferentes temas do desenvolvimento rural, inclusive em empreendedorismo, cooperativismo e associativismo.

Na área urbana, promover a melhoria da qualidade de vida e reduzir as vulnerabilidades dos cidadãos, mediante o aumento do acesso à infraestrutura, aos equipamentos e aos serviços urbanos de qualidade (saúde e educação), deve ser uma das prioridades, na avaliação do Sebrae.

Seis passos para abrir seu negócio

A abertura e o gerenciamento de um novo negócio exigem um conjunto de habilidades e conhecimentos como entender o mercado, o público e planejar bem cada etapa. Uma boa administração considera, também, estratégias de marketing, um fluxo de caixa controlado e passa, ainda, por muita criatividade e inovação.

Veja abaixo um roteiro elaborado pelo Sebrae-BA com seis passos para seguir e iniciar bem o seu novo negócio:  1. Saiba que negócio abrir Você quer se tornar um empreendedor mas não sabe por onde começar ou que negócio abrir? Então, confira os menus Ideias de Negócios e Tipos e Ramos no site do Sebrae. Confira sugestões de como ganhar dinheiro, descubra o que é preciso ter para montar um negócio e veja como o Sebrae classifica e apoia a atividade escolhida.  2. Veja se você tem perfil Para tornar um negócio realidade, é preciso ter perfil empreendedor, conhecer a realidade do mercado e organizar um plano de negócios.  3. Reúna informações sobre o negócio  Em seguida você precisa coletar informações para dar subsídio consistente à criação da empresa, pesquisando dados sobre:Mercado; Finanças; Marketing; Localização do empreendimento. Para isso, saiba detalhadamente quais informações obter e como fazer o levantamento.  4. Organize-se  A quarta iniciativa é organizar as informações coletadas. Ao conhecer o mercado, você conseguirá construir o plano de negócios e definir estratégias para posicionar corretamente a sua empreitada.  5. Como obter crédito Para obter crédito, você pode precisar de dicas de gestão de dinheiro e de como conseguir auxílios financeiros para as suas necessidades profissionais. No Sebrae, você terá auxílio com os seguintes tópicos:Fornecedores e os prazos de pagamento; Financiamentos e análise das necessidades; Renegocie o pagamento de empréstimos; Qual o melhor financiamento para o seu negócio. Que garantias a empresa deve apresentar para obter crédito.  6. Coloque a mão na massa A última etapa é registrar o negócio e torná-lo realidade. Saiba o que é necessário para formalizar o empreendimento. No site do Sebrae você encontrará informações e dicas sobre como registrar marcas e patentes e os seguintes materiais:Um guia prático para o registro de empresas; Dicas e procedimentos para a formalização do nome da empresa; Um passo a passo para entender as diferentes constituições de empresas e outras formas de atuação; Curso EAD Sebrae Iniciando um Pequeno e Grande Negócio.  Dicas de empreendedorismo para começar bem

Em meio a tempos de crise abrir o próprio negócio vem sendo uma alternativa de conquistar independência financeira e diminuir o desemprego. Para ter sucesso ao abrir uma empresa é preciso definir um planejamento estratégico e financeiro.

Ao abrir um negócio, podem surgir desafios e o empresário deve ter resiliência sabendo superar os problemas e lidar com as mudanças de inovações do mercado. Aproveitando, assim, as melhores oportunidades para o setor que atua.

Veja dicas:Planejamento: Para iniciar um empreendimento é importante fazer um plano de negócios, o modelo Canvas ajuda na organização e planejamento da sua empresa. A concorrência no mercado é grande, então é necessário pensar em estratégias que tragam um diferencial para conquistar a preferência do público; Definir público: Estabeleça o perfil do cliente que você deseja trabalhar e busque meios de capturar consumidores de acordo com o segmento desejado. Quanto melhor você conhecer seu cliente, maior será a possibilidade da sua empresa alcançar o sucesso; Organize suas finanças: Crie um plano de organização financeira, utilize planilhas para o controle de ganho e gastos mensais. Essa organização fará com que o empresário tenha domínio e equilíbrio de sua atividade financeira; Habilidade de comunicação: Criar uma boa comunicação interna e externa é de fundamental importância. Manter seus clientes, fornecedores e colaboradores informados sobre as novidades e eventos da empresa contribui para que ela fique na memória dos mesmos e, consequentemente, leve-os a procurar o seu negócio; Inove: É importante ser criativo e procurar as novidades que estão acontecendo no mercado. Está por dentro das atualizações garante que sua empresa tenha um diferencial das demais.