Salvador: atendimento nos gripários aumenta 87% entre abril e maio

Filas, escalada no número de casos e aumento da ocupação em UTIs acendem o sinal de alerta na cidade

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 18 de maio de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Os números da covid-19 voltaram a subir em Salvador. De acordo com dados disponíveis no site da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no dia 17 de abril, o acumulado de casos era de 183.236. Um mês depois, nesta segunda (17), o número subiu para 199.810. A taxa de ocupação de UTI também saltou de 75%, na última semana, para 81% no último boletim divulgado. Outro indicativo de alerta é a quantidade de atendimentos nos gripários de Salvador, que vêm acumulando filas. Entre abril e maio, o aumento da procura chegou a 87%.

Nos 13 primeiros dias de abril, os seis gripários da cidade atenderam 3.557 pacientes, segundo dados da SMS. Já no mesmo período de maio, o número foi de 6.650. Foram 3.093 casos a mais, o que representa um aumento de 87%. 

Até o dia 16 de maio essas unidades já haviam atendido 7.761 pacientes, sendo que em 11 dias o número de pessoas atendidas passou de 400 em 24 horas. No mês de abril inteiro foram 9.897 atendimentos, com oito dias acima de 400 casos.

Além disso, também já foi registrado aumento dos números entre a primeira e a segunda semanas de maio. Do dia 1º até o dia 7, foram 3.352 pacientes, com uma média de 479 atendimentos diários. Já do dia 8 ao dia 14, foram 3.727 pessoas atendidas, sendo uma média diária de 532. 

Os gripários atendem pacientes que apresentam sintomas de síndrome gripal, como covid, influenza e dengue, por exemplo. Na semana passada, ao anunciar o início da fase Amarela, o prefeito Bruno Reis afirmou que essas unidades estavam com alta demanda por conta das doenças comuns desse período. A situação não mudou. O dia mais caótico foi em 12 de maio, quando 659 pessoas foram atendidas. De 01 a 13 de abril, os 6 gripários da cidade atenderam 3.557 pacientes (Foto: Marina Silva/CORREIO) Na tarde desta segunda (17), no gripário dos Barris, a fila de espera era grande. Adilson Rodrigues, de 53 anos, era um dos que aguardavam atendimento. Por conta do cansaço que estava sentindo, a solução foi deitar na calçada enquanto esperava. “Deitei porque estou cansado, estou com o corpo mole, fraqueza. Eu fiquei dois dias sentindo calafrios e suando muito, aí depois surgiu dor de cabeça e a garganta ressecada. Isso tudo começou na quarta-feira (12), aí hoje decidi vir”, disse ele.

Adilson chegou por volta das 8h e, às 15h, ainda não tinha sido atendido. O número da sua ficha era 121. “Pelo que eu vi, estava atendendo a ficha 43 quando eu cheguei, aí depois disso só vi chamando mais 10 pessoas. E eles estão passando na frente quem chega de emergência, em estado bem complicado já. Desde a hora que eu cheguei, vi muita gente chegar aqui assim”, completou.

Josevan Pereira, de 45 anos, também chegou pela manhã, pouco depois de Adilson, e recebeu a ficha 134. Ele estava com dor de cabeça, diarreia e fraqueza nas pernas e disse que, desde a hora em que chegou, só viu a fila aumentar. “Estão entrando de 10 em 10, mas está demorando muito. Desde a hora que eu cheguei até agora, a fila já aumentou bastante. E muita gente já desistiu, foi para casa, porque não estava aguentando ficar aqui. Pelo que eu estou vendo, tem gente com ficha já de número 200 ou mais”, contou.

E Josevan estava certo. Ana Paula Santos, de 24 anos, levou a mãe, Vera Lúcia Santos, de 42 anos, para fazer o teste. Elas chegaram por volta das 14h e receberam a ficha de número 235. Dona Vera estava com dor no corpo, dor de cabeça, febre e tosse seca. “Ela não está conseguindo nem ficar em pé, aí tentamos pedir uma prioridade, mas disseram que tinha que aguardar mesmo. Pelo menos consegui colocar ela aqui no banco porque, como você pode ver, tem gente no chão mesmo”, disse a filha, Ana Paula. 

Outra paciente que aguardava, Natália Santos, de 23 anos, disse que era a ficha de número 60 que ainda estava sendo chamada. Notícia ruim também para ela, que pegou a ficha 214. “Estou com uma tosse seca, dor de cabeça, febre e dor no corpo. Isso desde sábado e não sei como peguei. Minha sobrinha teve sintomas, mas fez o teste e deu negativo. De qualquer forma, decidi vir buscar atendimento e fazer o teste”, contou Natália. 

Em entrevista à TV Bahia, o médico Ivan Paiva, coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, confirmou o aumento dos números de atendimentos e acrescentou que também está sendo notada uma maior gravidade dos casos. “Vínhamos com um aumento, mas até então não tínhamos aumento da demanda de leitos. As pessoas vinham, eram atendidas e testadas e, por terem sintomas leves, eram encaminhadas para casa. Mas, na última semana, já tivemos aumento da procura por leitos tanto de enfermaria quanto de UTI”, afirmou Paiva.  Gripários têm recebido mais casos graves (Foto: Marina Silva/CORREIO) Taxa de ocupação volta a subir

A taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos também não agradam e acendem o sinal de alerta. A taxa aumentou quatro pontos percentuais nos últimos sete dias em Salvador, saindo de 75% para 79%. No boletim desta segunda (17), a taxa subiu para 81%.

“Faço um apelo, para que não tenhamos que adotar novas medidas de isolamento social, precisamos, todos, nos cuidar. Há o risco de chegar uma terceira onda, não só a Salvador, mas a todas as cidades do Brasil. Isso aconteceu no mundo, e as histórias da pandemia registram uma terceira onda, então, precisamos nos cuidar”, disse o prefeito em coletiva de imprensa nesta segunda (17).

Vacina da gripe

O coordenador de Urgência e Emergência de Salvador, Ivan Paiva, também lembrou durante a entrevista que, nesta época do ano, o aumento de casos de covid-19 pode coincidir com o aumento de outras doenças gripais, dificultando o diagnóstico. Por isso, o médico reforçou a importância da aplicação da vacina da gripe e pediu para que o grupo atendido vá até os postos para receber o imunizante. 

Em Salvador, 109 postos estão aplicando a vacina da gripe, das 8h às 16h. Os públicos atendidos são: crianças com idade entre seis meses e menores de seis anos, gestantes, puérperas, trabalhadores da saúde, professores da rede pública e privada, além dos idosos com idade igual ou superior a 60 anos. Vale lembrar que os grupos prioritários que já têm acesso à vacina contra a covid-19 precisam estar atentos ao intervalo de 14 dias para a aplicação do imunizante contra a gripe.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro