Salvador entra na rota dos grandes eventos corporativos

Novo centro de convenções vai atrair turistas de maior poder aquisitivo

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  • Geraldo Bastos

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Igor Santos/Secom

A inauguração do novo Centro de Convenções de Salvador (CCS), no próximo dia 23, vai colocar a capital baiana - definitivamente - na rota do turismo corporativo e de eventos do país. Com isso,  a  expectativa de hotéis,  pousadas, bares, restaurantes e de prestadores de serviços, como os taxistas, é de um forte incremento nos negócios e  nas receitas nos próximos anos.

A confiança vem dos números: o turista estrangeiro que visita o Brasil a negócios ou para participar de eventos, por exemplo  gasta, em média, US$ 329,39 por dia - quase cinco vezes mais que o turista de lazer (US$ 73,77), conforme  pesquisa do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). 

E mais: é um setor que só faz crescer no país. Levantamento da Associação Brasileira das Agências de Viagens Corporativas (Abracorp) mostra que, no primeiro semestre do ano passado,  os gastos destes turistas registraram uma alta de 14,8%, saindo de R$ 4,85 bilhões, nos seis primeiros meses de 2018, para R$ 5,57 bilhões.

Com o novo Centro de Convenções de Salvador, na orla da Boca do Rio, a tendência é que, nos próximos anos, esse segmento mais rentável para o turismo cresça de forma significativa também em Salvador. O CSS já tem 32 eventos prospectados pela  GL Events, alguns neste ano, e outros agendados até 2024, a exemplo de grandes congressos da aérea de médica, incluindo eventos mundiais, latino-americanos, sul-americanos e nacionais.

De acordo com o presidente da Salvador Destination, Roberto Duran, quem visita uma cidade a negócios não costuma economizar. “Como a viagem é paga pela empresa, ele sempre escolhe o me lhor hotel, os melhores restaurantes e querem mais conforto nos meios de transporte e de deslocamento”, explica. Duran ressalta que a redução do percentual desse público, em Salvador, nos últimos seis anos se deu por conta do fechamento do antigo centro de convenções  e se agravou ainda mais após a falência de grandes hotéis que sediavam eventos, a exemplo do Othon (Ondina) e do Pestana (Rio Vermelho). 

“Perdemos significativamente esse público, mas a nossa expectativa é reconquistá-lo. O turismo de negócios não é uma ação imediata, e sim a médio e longo prazo. Temos trabalhado bastante para que em 2021 já tenhamos bons números nesse aspecto. O novo centro é a ferramenta mais propulsora para esse tipo de negócio”, assinala.

Sonho realizado 

Para o  presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, o novo centro de convenções  atende a um anseio de "muitos anos" do trade turístico  de Salvador. "Não são apenas os hotéis, bares e restaurantes que ganham com este equipamento.  É quem constrói um hotel, reforma uma pousada, fornecedores de equipamentos, como TVs, de ar condicionado, de hortifruti. São mais de 50 setores que interagem com o turismo e todo mundo acaba ganhando", afirma ele, lembrando que o turismo responde hoje  por 20% do PIB de Salvador. 

Pessoa  conta ainda que a entrada em operação do CCS é um "sonho realizado" e vai ajudar a equilibrar as contas   no período de baixa estação. Ele estima que nos últimos oito anos o setor deixou de faturar mais de R$ 1,6 bilhão  somente em diárias de hotéis pela falta de um centro de convenções. "Fantástico que o prefeito ACM Neto  tem entendido a importância que o  turismo tem para a cidade", diz ele, acrescentando  que nos últimos  anos os grandes eventos corporativos, no Nordeste, foram realizados em Recife e Fortaleza. "Estávamos orfãos de um grande equipamento",  afirmou. 

Luciano Lopes, presidente da seccional baiana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), estima que, com o novo centro de convenções, a taxa de ocupação média dos hotéis de Salvador salte dos atuais 62%  para até 80% em  quatro anos. “É um número muito bom” Ele conta que o turista que chega para participar de ume vento corporativodurante a semana costuma ampliar a estadia para o final de semana ou então chega alguns dia antes. "É um público muito qualificado, com renda maior", destacou, informando que a rede hoteleira de Salvador dispõe hoje de 40 mil leitos. 

Taxistas esperam faturar mais

A Associação Geral dos Taxistas está otimista com a abertura do novo Centro de Convenções de Salvador. A expectativa do presidente da entidade, Dênis Paim, é que a renda da categoria tenha um aumento de até 70% com as corridas, sobretudo quando ocorrerem no equipamentos grandes feiras e congressos (mais de 30 eventos já estão agendados para os próximos anos).

“Quando o turista chega, a primeira coisa que ele faz é procurar o taxista para saber como está a cidade. Quando tínhamos o centro de convenções funcionando, havia uma opção a mais de corrida. Sempre houve grandes eventos, convenções, formaturas, vários encontros importantes nacionais e internacionais. Movimentava muito a cidade”, lembra ele, que trabalha como taxista há 12 anos.

Paim avalia que, após o fechamento do antigo centro de convenções, em Armação, a economia da cidade esfriou e o impacto foi sentido pelos profissionais. “Agora, com o novo centro, com certeza a cidade vai voltar a ser o que era antes. Estamos todos aguardando e dando boas-vindas a esse equipamento”, assinalou ele. 

Salvador conta atualmente com 7,2 mil veículos cadastrados para serviço de táxi junto à Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). Esses profissionais se beneficiam diretamente do turismo na cidade. Agora, com o novo Centro de Convenções, contam com a retomada do turismo de negócios e eventos para melhoria do movimento de passageiros.

Bares e restaurantes 

Júlio  Calado, diretor institucional  da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel),  diz  que a abertura do centro de convenções vai ser "excelente" para o setor, uma vez que irá  garantir um maior  movimento nos estabelecimentos comerciais  da capital baiana no período de baixa estação. 

"O turismo em Salvador é muito forte no verão. Na alta temporada os bares e restaurantes têm um bom faturamento, uma boa equipe, mas daí vem o inverno e a queda é muito grande. E o que acontece? O empresário passa o inverno inteiro tentando se manter. Ou seja, ele chega no verão seguinte sem fôlego para grandes investimentos", conta.

Segundo ele, o centro de convenções vai ajudas neste aspecto. "No período mais difícil para o segmento de bares e restaurantes teremos então as convenções, as grandes feiras, congressos, formaturas, shows, dentre outros eventos, com milhares de pessoas circulando em vários pontos da cidade", observou.  "É um turista diferenciado. Não é o mesmo turista de verão. O turista corporativo gasta três vezes mais. É  um turista que ajuda a sustentar vários negócios, garantindo milhares de empregos", acrescenta.