Santa Luzia: fiéis começam a homenagear a protetora dos olhos

Tríduo teve início nesta segunda com missa; festa e procissão serão na quinta (13)

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 17:36

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Os devotos de Santa Luzia, a protetora dos olhos e padroeira dos oftalmologistas, já começaram as homenagens nesta segunda-feira (10), quando aconteceu a missa que deu início ao tríduo, na Igreja Santa Luzia e Nossa Senhora do Pilar, no bairro do Comércio, em Salvador.

Até a quarta-feira (12), as missas acontecem sempre na Matriz, às 9h, e, neste ano, o tema da festa é “Santa Luzia e os Leigos”. Já no dia dedicado à santa, 13 de dezembro, os devotos vão participar de missas às 6h, 8h, 15h e 17h, também na igreja no Comércio.

Já o ponto alto da festa, na quinta, será a Missa Solene presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida, às 10h, seguida de procissão com a imagem da Santa pelas principais ruas do Comércio, retornando até a matriz.

E as homenagens não param por aí. Na sexta-feira (14), às 9h, vai ser celebrada uma missa em memória às almas dos devotos falecidos, também na matriz.

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Benção Uma curiosidade é que dentro da Igreja de Nossa Senhora do Pilar existe uma gruta, datada do final do século XVII, onde a água corre dia e noite, sem nunca secar, e é procurada pelos fiéis, que lavam os olhos. Dona Maria Isabel Gonçalves, 59 anos, diz que o líquido e a santa fazem milagres.

Em 2014, ela sentiu um incômodo no olho esquerdo e foi diagnosticada com herpes zóster na córnea. “Primeiro, o oftalmologista me disse que era conjuntivite e depois veio a notícia e a gente ficou sabendo da gravidade do caso. Eu comecei a perder a visão e tive, também, glaucoma”, contou ela.

Dona Maria, que é sergipana, mas mora no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico, há 39 anos, afirmou que foi muito difícil o processo de perda da visão, mas que a fé em Santa Luzia a salvou.“Se eu pudesse ter escolhido, a doença poderia ter atingido qualquer parte de meu corpo, menos o meu olho. E, para piorar tudo, os médicos estavam com medo de operar e a doença voltar com mais força”, disse.A comerciária ainda destacou que os médicos pediram para ela ter fé. Foi quando ela entregou tudo nas mãos de Santa Luzia. “Primeiro a gente tem fé e depois acredita nos médicos. Foi isso o que me salvou. Fiz duas cirurgias em maio deste ano e foram bem sucedidas. Eu recuperei 85% da visão do olho esquerdo e sinto que tudo clareou ainda mais”, declarou.

Nesta segunda-feira (10), início do Tríduo de Santa Luzia, Dona Maria Isabel estava ajoelhada na Igreja Matriz, agradecendo pela benção e milagres recebidos.“Eu devo tudo a ela. Vou participar das missas do tríduo e, dia 13, vou acompanhar a procissão e toda a festa em homenagem à Santa Luzia”, contou.E claro que ela não saiu da Igreja de Nossa Senhora do Pilar sem levar para casa algumas garrafinhas cheias da água abençoada que sai da fonte secular. “Enchi várias, ajoelhei, rezei e agradeci por tudo”, concluiu Maria Isabel.

Música e fé Quem também é veterano na festa de Santa Luzia é o professor de música Luiz Rosado, 70. Ao lado do filho, Fábio Antônio, 40, eles fazem parte da equipe de música da Igreja de Nossa Senhora do Pilar.

“Eu sou devoto de Santa Bárbara (Iansã) e de Santa Luzia e, posso afirmar, que ela é poderosa. E não é só em relação à cura dos olhos, mão. Ela faz milagre com tudo. Basta acreditar e ter fé”, disse ele. Fábio Antônio com o pai, Luiz Rosado, ambos devotos de Santa Luzia, na frente da Igreja do Pilar (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O tecladista e violonista diz que, quando entra na Igreja de Santa Luzia, se sente como se estivesse em casa. “E a mesma coisa de estar entrando na minha residência. Eu sinto paz. Eu vejo devotos e fiéis de todas as partes do estado, oferecendo óleos e presentes à Santa e fazendo pedidos. É uma energia muito forte e bonita. Quando não posso ir à Igreja, me sinto doente”, contou.

A celebração desta quinta-feira (13) começa com uma alvorada à 5 horas da manhã e os devotos vão poder assistir missas às 6h, 8h e, a grande missa festiva, às 10h, seguida da procissão pelas ruas do Comércio. 

Mudança E, para somar às curiosidades da celebração de Santa Luzia, o pesquisador e historiador Nelson Cadena, que é colunista do CORREIO, explicou que a festa mudou de lugar.

“Ela é uma das festas mais tradicionais da cidade. Começou naquele espaço que hoje é o Solar do Unhão e mais tarde se transferiu para a Igreja do Pilar, que muita gente se confunde e chama de Igreja de Santa Luzia, pois o culto a ela se difundiu muito mais do que o da Nossa Senhora do Pilar", contou.

O pesquisador pontuou que a parte religiosa persiste - apesar do esvaziamento da festa profana. "Os baianos têm uma grande devoção à santa protetora dos olhos, e quem frequenta a festa anualmente percebe que a parte profana acabou. Se tornou uma festa estigmatizada pela violência, mas o lado religioso é resistente. Desde as 4h, as pessoas fazem uma fila gigantesca em volta da fonte milagrosa, e essa devoção é uma coisa muito forte”, destacou.

Ambulantes Como em todas as outras festas populares do calendário de Salvador, a celebração de Santa Luzia também é uma oportunidade de os ambulantes ganharem um dinheiro extra. Mas, é preciso ficar esperto, porque as inscrições para atuar na festa terminam nessa terça-feira (11).

Para se cadastrar, os interessados, com exceção das baianas de acarajé, devem acessar o site www.sca.salvador.ba.gov.br. De acordo com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), após realizar a inscrição digital e efetuar o pagamento da guia de recolhimento, os ambulantes devem comparecer à sede da Secretaria para garantir a vaga.

História Nascida em uma família rica e cristã, na cidade de Siracusa, na Itália, no ano de 283, Luzia era considerada uma das jovens mais belas do local. Aos cinco anos, perdeu o pai e cresceu sob os cuidados da mãe, que sofria de graves hemorragias.

Certo dia, ao peregrinar na cidade de Catânia, Luzia e a mãe acompanharam o Evangelho pregado durante a missa, que falava sobre a cura da mulher que padecia de hemorragias. A jovem, então, pediu ao Senhor que a mãe ficasse curada e foi rezar junto à imagem de Santa Águeda. No mesmo instante, a cura aconteceu.

Ao chegarem à casa onde elas moravam, começaram a distribuir todos os bens aos pobres. Ao perceber que Luzia e a mãe eram cristãs, um jovem que vivia no local denunciou as duas ao prefeito de Siracusa.

Na época, o Império Romano não dava a liberdade de professar a fé em Cristo, o que podia acarretar em pena de morte. Como Luzia se mostrou firme diante da fé que carregava, acabou sendo torturada e tentaram levá-la a uma casa de prostituição, mas os pés da jovem não saíam do chão.

Em seguida, tentaram queimá-la viva, mas as chamas nada fizeram contra ela. Por fim, os soldados arrancaram-lhe os olhos e entregaram a ela em um prato. No mesmo instante, na face de Luzia, brotaram outros olhos. Vendo que nada a fazia renegar a fé em Jesus Cristo, ela foi degolada, em 13 de dezembro de 304.

A partir deste dia, teve início a devoção à Santa Luzia, primeiro na Itália e depois por toda a Europa e pelo mundo. Atualmente, ela é conhecida como a “Santa da Visão”.

ServiçoO quê: Festa de Santa Luzia.Quando: Tríduo de 10 a 12 de dezembro, sempre às 9h; Festa no dia 13 de dezembro, com Missa Solene às 10h.Onde: Paróquia Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio.

*Com supervisão da editora Mariana Rios.