Santo própolis: como melhorar a imunidade em tempos de tantas novas doenças? 

Entenda os tipos mais populares deste remédio natural, para quê são indicados um e o que se sabe cientificamente sobre ele

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Abelha.org

Zika, chikungunya, doença de Haff, covid-19 e até a volta do sarampo. De cinco anos para cá, essas enfermidades têm sido uma ameaça ao Brasil e andam vitimando pessoas todos os dias. Um remédio natural, a própolis vem sendo intensamente estudada no país há pelo menos quatro décadas devido às suas propriedades capazes de combater doenças causadas por vírus, bactérias e fungos — aumentando a imunidade e promovendo uma blindagem do corpo comprovadamente eficiente contra infecções. Extraída de plantas e produzida pelas abelhas, essa substância resinosa é conhecida há milênios e pode ser mais uma aliada na manutenção da saúde nestes tempos de tantas doenças simultâneas.

Na natureza, as abelhas costumam usar a própolis para reparar brechas na colmeia a fim de protegê-la contra o vento, outros insetos e microorganismos inimigos. Sabidamente, o ser humano logo notou isso e passou a tirar proveito do material. Há registros de que, no Antigo Egito, a cera bruta da própolis chegou a ser utilizada para mumificação e tratamento de feridas.

Hoje, sabe-se que os compostos dela têm o poder de ativar células de defesa chamadas de macrófagos, responsáveis por engolir e destruir moléculas, incluindo partículas de bactérias e fungos, explica o farmacêutico Danilo Oliveira, professor da UniFTC de Vitória da Conquista, no Sul da Bahia. “Em outras palavras, é como se a própolis recrutasse essas células de defesa, que vão, então, deixar o organismo mais apto a se defender, trabalhando contra doenças infecciosas”, completa.

Muito recomendada para dores de garganta, a própolis ajuda, por exemplo, a diminuir inflamações nas vias aéreas. Mestranda em farmacognosia pela UFS, a baiana Rosana Moura Andrade explica que a forma exata como a própolis age ainda precisa ser melhor estudada pela ciência. Como é constituída por muitos componentes, não se sabe com precisão como essa combinação funciona conjuntamente, mas especula-se que esteja relacionada à ação dos flavonóides — compostos que não são produzidos pelo corpo humano e são achados justamente nos pigmentos das plantas.

Uma das pesquisas mais recentes, realizada em 2017 em parceria entre USP e Unicamp, revelou que a grande presença de flavonóides faz com que a própolis tenha ação antioxidante. Isso significa que ela age eliminando radicais livres, moléculas causadoras de danos celulares que levam ao envelhecimento precoce e que têm relação com doenças tumorais. Os flavonóides são o que há de maior destaque na própolis porque têm capacidade de reduzir as lesões causadas pelos radicais, que danificam proteínas como colágeno e elastina.

Graças à ação associada dos elementos que a compõem, ela tem relatados na literatura científica potenciais biológicos antibacteriano, antifúngico, antiinflamatório, antioxidante, antitumoral e imunomodulador. Ainda segundo o professor Danilo, o remédio natural é tão versátil que já foram catalogados mais de 100 produtos à base de própolis, sendo bastante usado em cosméticos, em produtos odontológicos para tratar gengivite e até no controle de pragas que atingem plantações de couve-flor.

Diferença O Brasil é um dos maiores exportadores de própolis do mundo e, por aqui, há pelo menos três tipos mais populares: marrom, verde e vermelho. Estes dois últimos são muito encontrados no Nordeste, sendo o vermelho o tipo mais raro do mundo, produzido originalmente por abelhas que vivem em Porto Calvo, uma zona de mangue em Alagoas. 

Os especialistas dizem que não é possível afirmar que existe uma própolis melhor do que a outra. Cada uma tem propriedades específicas, que variam de acordo com a espécie de abelha, a genética da rainha, o tempo de coleta e também os tipos de plantas das quais o inseto recolhe as substâncias. Alguns componentes estão presentes em todas as amostras de própolis, enquanto outros ocorrem somente em derivados de espécies particulares de plantas. 

Até o momento não há registros científicos de que o própolis cure ou previna o coronavírus. Portanto, não o tome tendo esta intenção, não substitua nenhuma outra medicação receitada pelo seu médico e nem cometa a besteira de fazer misturas malucas com outros ingredientes em casa. A própolis deve ser utilizada sob orientação médica, que indicará o tipo, forma e quantidade para cada caso.

“Não se pode pensar nele como uma terapia alternativa, que vai substituir algo. Deve-se pensar nele como um tratamento complementar”, salienta José Fernando de Araújo, doutorando em Química e professor de Farmácia da Unifacs. Aos adultos, recomenda-se, de forma geral, 30 gotas de extrato ao dia para fortalecer o organismo, indica o médico Marcelo Silveira, nefrologista do Hospital São Rafael e ligado ao Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor).

Os três tipos mais populares no paísMarrom Mais tradicional, facilmente encontrada nas farmácias, essa variante se destaca pela sua atividade antioxidante, antifúngica e antimicrobiana. Entre as existentes, essa é a que possui menos estudos científicos e costuma ser mais barata. Rosana Andrade explica que o valor não tem relação com a eficácia e, sim, com a disponibilidade do produto na natureza. 

- Preço do extrato  R$ 21,19 (Drogasil)Verde Obtida a partir do alecrim-do-campo, também conhecido como vassourinha, planta nativa do Brasil, essa própolis é especial porque, além das conhecidas ações antioxidante, antifúngica e antimicrobiana, ela tem um componente chamado artepillin C, substância que tem boa atividade antitumoral, segundo pesquisas conduzidas no Japão. 

- Preço do extrato  R$ 16, 99 (Drogaria São Paulo)Vermelha Produzida através da resina da planta rabo-de-bugio, existente nos manguezais alagoanos, a própolis vermelha tem sido motivo de grande interesse e várias pesquisas têm apontado que este tipo combate células cancerígenas. Um estudo preliminar feito pela USP de São Carlos descobriu oito substâncias inéditas nela. Destas, uma tem poder de inibir o crescimento de células de câncer de mama, próstata, cérebro e ovário, levando 50% delas à morte em testes iniciais — eficácia similar a da doxorrubicina em quimioterapias. No entanto, ainda carece de pesquisas sobre de que forma a substância age contra as células cancerígenas. Costuma ser a mais cara nas farmácias e é difícil encontrá-la.

- Preço do extrato:  R$ 55 (Mercado Livre) (Foto: Divulgação/UFAL)