Santuário de Santa Dulce completa 10 anos e acumula mais de 15 mil cartas de orações

Local abriga restos mortais da freira baiana canonizada em 2019

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 27 de maio de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

O Santuário Santa Dulce dos Pobres, que abriga os restos mortais da freira baiana canonizada em 2019, completa 10 anos nesta quinta-feira, 27, e acumula mais de 15 mil cartas de pedidos e agradecimentos de seus devotos, que transformaram o templo em uma segunda casa. Para comemorar a data, acontecerá, logo mais às 8h30, uma missa solene presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, cardeal Dom Sergio da Rocha. Por conta da pandemia, o número de fiéis será reduzido a 30% da capacidade do local. Mas quem não comparecer, poderá assistir a cerimônia pelas redes sociais: Instagram e Facebook (@santuariosantadulce) e YouTube (santuariosantadulcedospobres).  

Desde o início de maio, uma programação especial vem sendo realizada para festejar os 10 anos de dedicação do Santuário da Santa Dulce. A imagem e a relíquia, por exemplo, estão em visita por diversas paróquias de Salvador, sempre aos domingos, até o dia 30. Ontem, também foi rezada uma missa pelos 107 anos de Santa Dulce.

A destinada à celebração de missas do santuário tem capacidade para 1.200 pessoas sentadas. O local abriga ainda a Capela das Relíquias, onde está o corpo de Santa Dulce e uma réplica sua em tamanho natural. No chão, há uma urna que recebe os pedidos de oração e agradecimentos. Além desses papeis, o Santuário também recebe cartas e e-mails, diz a assessoria das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). 

Outro detalhe que chama a atenção são as grades que delimitam o espaço repletas de fitinhas coloridas em homenagem à santa, em alusão às fitinhas do Senhor do Bonfim. A prática partiu dos próprios devotos e, hoje, o Santuário oferta as fitas e também fotos de Santa Dulce com um terço em sua honra escrito no verso. 

Construída em 2003, ao lado da Osid, a edificação que hoje é o Santuário Santa Dulce dos Pobres foi batizada inicialmente de Igreja da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em homenagem à Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a qual pertenceu Irmã Dulce. 

O rito da dedicação aconteceu em 27 de maio de 2011, ocasião em que a igreja foi elevada a Santuário da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, pelo então Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger, e recebeu autorização para realizar celebrações religiosas. Já em 13 de outubro de 2019, por conta da canonização de Irmã Dulce, o espaço passou a se chamar então Santuário Santa Dulce dos Pobres, se juntando a outros 11 santuários de Salvador. 

Felicidade Santos, 52, frequentava as missas do santuário desde a sua inauguração. Hoje ela participa da proclamação da palavra e é ministra da eucaristia. Ela explica a motivação da sua conexão: “Santa Dulce me atraiu com esse evangelho concreto que ela ergue. A gente se sente atraído por querer trilhar um caminho de santidade, assim como Santa Dulce fez e, aqui a gente sente a presença dela e o seu chamado. Aqui tem as marcas, as pegadas, que nos orientam para conquistar a santidade. Santa Dulce está viva aqui nesse local”, declara.  Mesmo com restrições para evitar aglomeração na pandemia, fiéis comparecem ao santuário para honrar Santa Dulce (Foto: Paula Fróes/CORREIO) No local do antigo Círculo Operário

A igreja começou a ser erguida em 2002, no mesmo local onde na década de 1940 Irmã Dulce havia construído o Círculo Operário da Bahia e o Cine Roma, onde se apresentaram personalidades como Raul Seixas e Roberto Carlos. “Era oferecido atendimento médico e atividades como curso de culinária e de corte e costura, além de atividades para as crianças. Também tinha um cineteatro, onde hoje acontecem as celebrações”, conta a superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), Maria Rita Pontes.

“A partir da década de 70, o espaço foi fechado e, na década de 90, eu fiquei pensando que aquele local poderia se reinventar, mas os recursos eram escassos. O espaço ficou ali, como se Deus estivesse guardando aquilo para algo mais sublime”, diz a superintendente.

Com o início do processo de canonização, ainda em 2000, houve a recomendação do Vaticano de que fosse construída uma igreja para abrigar os restos mortais de Irmã Dulce. A partir de 2002, foi iniciada então a campanha de construção, chamada de Campanha do Tijolo. Foram fabricados pequenos tijolinhos que as pessoas poderiam adquirir pelo valor de 10 reais para que o espaço fosse transformado em igreja. 

Dona Ildete dos Santos, de 66 anos, é devota de Santa Dulce, frequentadora do Santuário e acompanhou sua história de construção. “É uma felicidade enorme ver isso assim hoje. Eu acompanhei a construção, distribuí os tijolinhos da campanha de arrecadação. Eu frequento esse local desde o início. Eu cheguei até a conhecer Irmã Dulce pessoalmente e fazer campanhas junto com ela”, conta. 

Além da Campanha dos Tijolos, posteriormente, também foi feita uma campanha de arrecadação para instalar bancos para as missas, já que no local apenas havia cadeiras de plástico. A superintendente Maria Rita revela que, em cada um dos 90 bancos, existe uma placa com o nome do doador, como uma homenagem. 

“Depois de 2005, um pintor italiano, Battista Mombrini, fez a pintura que fica no fundo do altar, onde antes ficava apenas uma parede branca. Em 2010, construímos a Capela das Relíquias, que recebeu os restos mortais transladados da Capela do Convento Santo Antônio. Em 2019, o local foi reformado e Santa Dulce recebeu um novo túmulo, agora de vidro, também fruto de doação”, completa.  

E o espaço ainda não está totalmente finalizado. Maria Rita conta que um dos projetos é a Sala de Devotos, para acolher as homenagens que as pessoas levam até o Santuário. Quando alcançam graças, os devotos levam objetivos que simbolizam o ato, como uma casinha para quem conquista a casa própria e fotos de casamentos e formaturas. “É um material muito rico que não descartamos e queremos exibir. É um projeto pronto para o qual ainda falta recurso”, pontua a superintendente. Também há um projeto de transformação do terraço do Santuário em um espaço de visitação para turismo religioso, com uma passarela e um mirante.  Cada contribuinte da Campanha do Tijolo recebia uma miniatura Covid reduziu visitas ao santuário

A pandemia interrompeu um período glorioso para o Santuário Santa Dulce dos Pobres. Em 13 de outubro de 2019, Irmã Dulce virou Santa Dulce e foi canonizada pelo papa Francisco, tornando-se a primeira mulher comprovadamente nascida no Brasil a ser canonizada, e a 37ª santa brasileira. 

De acordo com o gestor do Complexo do Santuário, Márcio Didier, as visitações chegaram a alcançar um pico de 32 mil pessoas por mês, após a canonização. Com a pandemia e as restrições, os números caíram significativamente. O mês de abril deste ano fechou com 12 mil visitações. Ainda assim, a quantidade é bem maior do que antes da canonização, quando o espaço recebia uma média de 6 mil visitantes por mês. 

“A pandemia diminuiu as visitações e também as arrecadações, de uma forma geral, mas trouxe benefícios também. Hoje, temos a possibilidade e a oportunidade de evangelizar muito mais pessoas e em muitos lugares mais, sem sair de onde estamos. Estamos recebendo participações e depoimentos de diversos cantos, até mesmo da China. É uma surpresa e uma alegria”, conta o gestor. 

Atualmente, as missas celebradas no Santuário estão sendo transmitidas através das redes sociais, pelos canais no Youtube, Instagram e Facebook. Os canais já somam mais de 30 mil inscritos e as missas deste ano já somam cerca de 1 milhão de participantes. 

O gestor também conta que uma maior parte do dinheiro disponível e arrecadado passou a ser destinada à área da saúde e às ações sociais. “Temos planos para ampliar o espaço, projetos para realizar, mas isso vai ficar para depois. A prioridade é ajudar o próximo. Agimos como Santa Dulce agiria”, finaliza Didier. 

Santuários de Salvador

O Santuário Santa Dulce dos Pobres está entre os 12 santuários de Salvador. Confira a listaSantuário Arquidiocesano Nossa da Conceição Aparecida, criado em 12 de outubro de 2017 Santuário Nossa Senhora da Piedade, criado em 01 de agosto de 2016 Santuário Arquidiocesano Santa Dulce dos Pobres, criado em 27 de maio de 2011 Santuário Mariano Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição da Praia, criado em 26 de novembro de 2010 Santuário São José, criado em 5 de março de 2009 Santuário Nossa Senhora Educadora, criado em 18 de março de 2004 Santuário Mãe Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt, criado em 25 de março de 2001 Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, criado em 9 de outubro de 1981 Santuário Nossa Senhora de Fátima, criado em 28 de janeiro de 1981 Santuário Nossa Senhora Auxiliadora, criado em 1938 Santuário Cristo Rei e São Judas Tadeu, criado em 28 de outubro de 1937 Santuário Arquidiocesano do Coração Eucarístico de Jesus (Igreja de São Raimundo), criado em 1933 (Fonte: Pascom)

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro