São Paulo Fashion Week abre temporada de Inverno com moda comercial

Evento aproxima passarela do calendário do varejo e tem desfiles que focam no consumo imediato

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  • Gabriela Cruz

Publicado em 14 de março de 2017 às 06:44

- Atualizado há um ano

A estilista Raquel Davidowicz no final do desfile da Uma (Fotos: Agência Fotosite/divulgação)Basta dar uma olhada no que foi apresentado no primeiro dia da São Paulo Fashion Week para perceber que a moda conceitual está com seus dias contatos. Já não é assim nos desfiles mais aguardados do mundo, como o da Chanel, Prada e Louis Vuitton – que arrasam nos cenários mas não inventam demais nas roupas - e provavelmente não será mais assim nas passarelas brasileiras. O que se quer hoje, em tempos de crise, é vender.

"Os desfiles são hoje mais importantes do que nunca porque, além de ser uma fonte direta de conteúdo e informação, são uma ferramenta de comunicação poderosíssima para gerar desejo e recall imediato de marca", afirma Paulo Borges, diretor criativo e idealizador do evento que, em sua 43ª edição, inaugura o novo calendário da semana de moda, que agora acontece em março e final de agosto, aproximando a passarela ao calendário do varejo.Linha final do desfile de João PimentaAnimale, Uma – Raquel Davidovitz, João Pimenta, Lilly Sarti e Osklen entenderam bem isso e abriram o SPFWn43 nesta segunda-feira (13) com coleções pouco de conceituais e alto grau de desejo despertado. Todas casam com os tempos de consumo imediato – tá aí o see now, buy now – em que o foco está na qualidade dos produtos e na estética das peças desfiladas. Antigamente, chamar uma coleção de comercial era uma ofensa. Hoje, é um elogio ao estilista, que soube traduzir muito bem uma necessidade coletiva.Backstage do desfile da Animale: guarda-roupa urbanoO desfile da Animale, assinado pelo estilista baiano Vitorino Campos, parecia uma visita ao closet perfeito da mulher urbana. E foi, já que a coleção é inspirada na Itália. Tinha peça com forte potencial para virar hit de tudo que era jeito: jaquetas de couro, saias de alfaiataria com fenda assimétrica, ótimas pantacourts jeans combinadas com botas de cobra flúor, camisaria, transparências, sobreposições, roupas de festa e acessórios incríveis. E o melhor: foi realizado na flagship da grife na Oscar Freire, onde muitos destes itens “fresquinhos” já estavam disponíveis para consumo imediato.

Lilly Sarti fez o mesmo ao identificar o que sua cliente gosta e quer. Não é à toa que foi aplaudidíssimo. Tinha de saia mídi a balonê, de ombreira à ciganinha, de veludo à transparência... foi assim também na Osklen, que desfilou várias peças-chave de tirar o fôlego dos fãs da marca, como o macacão masculino de moletom preto, que fez gente querer sair do banco do desfile e correr para a loja mais próxima.Um dos looks do desfile de Lilly SartiFuturo já É claro que nem tudo é perfeito. O see now by now exige uma estratégia de produção e um novo calendário que nem todas as marcas conseguem adotar. Nomes fortes da semana de moda, como Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Ronaldo Fraga, Iódice e Helô Rocha pularam essa edição. As duas primeiras alegaram justamente não ter como oferecer essa entrega imediata.  "A mudança é inevitável. O que funcionava até ontem já não funciona mais. Estamos construindo o futuro e aprendendo juntos", avalia Paulo Borges. 

As saídas das

grifes abriram espaço para o novo. Seis estreias marcam essa temporada: Alexandrine (com Dinho Batista), A.Niemeyer, Tig, Two Denin, Fabiana Milazzo e Sissa, sem falar da Memo (com Lilly Sarti) e LAB, que vão para seus segundos desfiles. Ao todo, serão 31 coleções apresentadas até sexta-feira (17), a maioria no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Além dessas, outras seis marcas integram a temporada com desfiles, só que no lineup do Projeto Estufa, criado pelo evento em parceria com a C&A: Vale da Seda por Enéas Neto, Helen Rodel, LLAS, CA.CE.TE Company, Era, BEIRA.

Looks do desfile da OsklenCorte de verbaNa programação do SPFWn43 também estão outras ações, como exposições, seminários e palestras, além de iniciativas que se associaram à visibilidade do evento para mobilização social, como o programa Cidade Linda, apresentado ontem pelo prefeito de São Paulo, João Doria, que foi até a Bienal.

A organização da semana de moda convidou Amir Slama, Cavalera, Ellus, Juliana Jabour e Ratier para criar cinco diferentes artes que resultaram em estampas que simbolizam o amor e o cuidado com a cidade, apresentadas durante uma coletiva de imprensa ontem.

Na oportunidade, Doria falou ao Estadão sobre o corte de investimentos de 37% na SPFW. “Nós estamos fazendo um ajuste em todas as áreas com exceção de saúde e educação para suportar com responsabilidade fiscal este ano difícil”, justificou. Ele garantiu que a prefeitura continuará apoiando o evento em 2018.