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Sarampo: doença afeta bebês desde a barriga da mãe


 

Doença da mãe pode causar aborto e deixar sequelas no feto, como problemas oftalmológicos

  • Mario Bitencourt

Publicado em 27/10/2019 às 07:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 10:48:05
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Uma das principais causas de cegueira infantil em países em desenvolvimento, como o Brasil, é o sarampo. A doença, que já registrou mais de 6 mil casos no país nos últimos três meses, com 13 mortes, pode afetar os bebês ainda na barriga da mãe. Além do risco de aborto, são grandes as chances de que a doença da mãe traga consequêcias ao feto.

Elas vão desde a cegueira até outros problemas oftalmológicos, como catarata, opacidade na córnea, conjuntivite (inflamação na conjuntiva), ceratite (inflamação na córnea) e até a retinopatia do sarampo, o que pode levar a cegueira irreversível.

Isso acontece porque o sarampo oferece mais risco ao feto entre o meio e o final do terceiro mês de gestação. É nesse período que ocorre o desenvolvimento do globo ocular - por isso, a doença pode interferir na formação perfeita dos olhos.“São problemas oculares graves, mas não incuráveis”, explica o cirurgião oftalmologista Ruy Novais Cunha Filho, do Day Horc Hospital de Olhos, em Salvador.No entanto, todas essas sequelas podem ser evitadas com uma atitude simples: a vacinação da mãe antes do início da gestação.

Filho explica que o problema com a cegueira infantil nos países em desenvolvimento está justamente na falta de imunização - nesses países, os programas de vacinação para o sarampo são menos estabelecidos.

“Por isso, é de suma importância que toda a população esteja vacinada contra a doença, já que as contraindicações para a vacina são muito raras”, afirmou.

Quando vacinar? Mas, uma das contraindicações é fundamental: mulheres grávidas não podem se vacinar contra o sarampo, alerta o médico obstetra Lívius Ribas, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba). 

“A vacina contra o sarampo possui uma quantidade pequena do vírus que faz com que fiquemos imunes à doença. Mas, essa quantidade, mesmo pequena, é suficiente para afetar o feto, por isso o correto é tomar a vacina antes ou depois da gravidez”, comenta o obstetra (veja lista abaixo).

Presidente do Sogiba, o médico obstetra Caio Nogueira Lessa observa que o bebê de mãe já vacinada fica imunizado contra a doença até os seis meses de vida, quando precisa ser vacinado.

Desde que os casos começaram a se intensificar, nos últimos 90 dias, o Ministério da Saúde iniciou uma campanha de vacinação em que o principal alvo são crianças de 1 ano a 1 ano, 11 meses e 29 dias.“O sarampo, quando ocorre com a gestante, leva um risco muito grande de aborto ou de parto prematuro. O que não vimos ainda é má formação por conta da doença”, declarou Lessa.A doença é infecciosa, extremamente contagiosa, transmitida pela tosse e espirro, e pode ser contraída por pessoas de qualquer idade. A única proteção é a vacina.

Cuidados com bebês Mãe do pequeno Benjamim, de apenas três meses, a gestora em Recursos Humanos e representante de vendas Thiciane Pereira, 31 anos, moradora do bairro de Massaranduba, em Salvador, tem adotado algumas precauções.

“Os casos de sarampo têm assustado toda a Bahia, mas no meu caso não me causou nenhum contratempo por eu já estar imunizada. Agora, é esperar a época certa para vacinar meu filho”, disse. Enquanto isso, ela evita ir a locais fechados com o bebê ou deixar que outras pessoas toquem nas mãos dele.

Na Bahia, dos 584 casos notificados como suspeitos de sarampo, 23 já foram confirmados, 251 estão em investigação e os demais foram descartados. Os casos confirmados ocorreram em Santo Amaro (12), Gandu (5), Ituberá (2), Jacobina (1), Palmeiras (1), Salvador (1) e Andorinhas (1). As faixas etárias de 5 a 9 anos, 15 a 19 anos e 20 a 29 concentraram 52,1% dos casos confirmados do estado.

Mas, de acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), a maior incidência foi na faixa etária de menos de 1 ano de idade - 1,31 casos  para cada 100.000 habitantes. Já a maior proporção de casos confirmados foi no sexo masculino - 17 casos (74%).

As crianças são mais suscetíveis às complicações da doença, que podem evoluir para óbito. Nos últimos 90 dias, no Brasil, das mortes confirmadas por conta do sarampo, sete (53,8%) foram de menores de cinco anos de idade, dois (15,4%) na faixa etária de 20 a 39 anos e quatro (30,8%) em adultos maiores de 40 anos.

Sem vacinação Em Santo Amaro, no Recôncavo, cidade que concentra o maior número de casos confirmados da doença, as pessoas contaminadas não tinham registros de vacinação contra o sarampo, afirma o secretário municipal de Saúde, Holmes Rocha Santos Filho.

A Prefeitura de Santo Amaro também confirmou que os casos de Ituberá e de Gandu atingiram pessoas que estiveram em Santo Amaro, se contaminaram e transmitiram a doença ao retornar.“Quando os primeiros casos surgiram, há uns três meses, tratamos logo de verificar a questão da vacinação e constatamos essa ausência. Desde então, estamos vacinando pessoas de todas as idades, em campanha permanente”, afirmou o secretário de Saúde da cidade.De acordo com a Sesab, do público-alvo a ser vacinado em toda a Bahia - 849.361 crianças de 1 ano a 1 ano, 11 meses e 29 dias - 679.488 já foram vacinadas, o que indica uma cobertura vacinal de 82%.

A Sesab informou que não tem informações sobre a quantidade de crianças que receberam a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) na Bahia, no sábado (19), quando houve em todo o país o Dia D de vacinação. O público-alvo era formado por crianças com idade entre seis meses a cinco anos.

Na Bahia, ainda de acordo com a pasta, dos casos notificados, cinco foram importados - quando a pessoa já chega doente ao estado - entre não residentes do estado, sendo dois em Caetité, um em Souto Soares, um em Salvador e um em Porto Seguro.

Casos nacionais No Brasil, os casos de sarampo voltaram a circular em 2017. No ano anterior, o país havia recebido da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo, após um ano sem notificações.

Antes já tinham casos registrados como surtos, entre 2013 e 2015, decorrentes de pacientes vindos de outros países. Foram 1.310 casos da doença, com o maior número de registros em Pernambuco e Ceará, de acordo com o Ministério da Saúde.

Mas, nos surtos de sarampo ocorridos nesses estados, as ações de bloqueio realizadas pelo Ministério da Saúde, em conjunto com os estados e municípios, foram eficientes e resultaram na interrupção da transmissão da doença.

Em 2017, contudo, casos de sarampo em venezuelanos que adentraram o país pelo estado de Roraima foram confirmados, ocasionando um surto da doença no estado, com ampliação de casos da doença para Manaus (AM).

O Ministério da Saúde informou que permanece monitorando a situação do sarampo no país, especialmente em Roraima e no Amazonas, e as medidas de controle e prevenção já estão sendo realizadas.

De acordo com o último boletim epidemiológico de sarampo, do Ministério da Saúde, nos últimos três meses, 96% dos casos confirmados estão concentrados no estado de São Paulo, em 192 municípios.

O ministério informou ainda que distribuirá este ano 60,2 milhões de doses da vacina tríplice viral. Este valor representa a maior oferta de vacinas contra o sarampo dos últimos dez anos, diz a pasta.

VACINAS PARA GESTANTES RECOMENDADAS: - Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche) – dTpa ou dTpa-VIP - Dupla adulto (difteria e tétano) – dT - Hepatite B - Influenza (gripe)

RECOMENDADAS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS: - Hepatite A - vacinação deve ser considerada, já que há risco frequente de exposição no Brasil - Hepatite A e B - pode substituir a vacinação isolada de hepatites A e B - Pneumocócicas - VPC13 e VPP23 são vacinas inativadas, portanto sem riscos teóricos para a gestante e o feto - Meningocócicas conjugadas ACWY/C - são vacinas inativadas, sem risco teórico para a gestante e o feto - Meningocócica B -  A vacina é inativada, sem risco teórico para a gestante e o feto - Febre amarela - gestantes que viajam para países que exigem o Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP) devem ser isentadas da vacinação pelo médico assistente, se não houver risco de contrair a infecção.  É contraindicada em nutrizes até que o bebê complete 6 meses; se a vacinação não puder ser evitada, suspender o aleitamento materno por dez dias.

NÃO RECOMENDADAS: - Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) - pode ser aplicada no puerpério e durante a amamentação - HPV - se a mulher tiver iniciado esquema antes da gestação, suspendê-lo até puerpério. Pode ser aplicada no puerpério e durante amamentação - Varicela (catapora) - Pode ser aplicada no puerpério e durante a amamentação - Dengue - vacina contraindicada em mulheres soronegativas, que estejam amamentando e imunodeprimidas

Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações