Sem registros há 13 anos, dengue tipo 2 volta a circular em Salvador

Não há informações concretas sobre quantas pessoas foram contaminadas

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 05:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/ Arquivo CORREIO

Se você tem filhos que nasceram a partir de 2007 em Salvador, preste atenção: o vírus da dengue tipo 2, que circulou há 13 anos na capital baiana e em outras cidades do interior e gerou uma epidemia, com quadros graves da doença, voltou a circular na capital, junto com o tipo 1 – ambos também estão no interior.

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), os casos de dengue tipo 2 começaram a ser registrados no final do primeiro semestre, mas ainda não há informações concretas sobre quantas pessoas foram contaminadas com esse tipo de dengue.“Não é que seja um vírus novo, a dengue 2. O problema é que tem um ‘bolsão de suscetíveis’ [pessoas que nunca foram contaminadas] e que poderá ocasionar um grande número de pessoas doentes”, explicou a subgerente de Arboviroses da SMS, Isolina Miguez.O tipo 2 do vírus se apresenta com quadros graves, com hemorragias e mortes com até quatro a cinco dias depois de a pessoa ser infectada.

Tanto pessoas que já tiveram o tipo 1 da dengue quanto quem nunca teve tipo algum da doença corre risco, caso seja contaminada com o tipo 2. De acordo com informações do DataSUS, do Ministério da Saúde, somente entre 2007 e 2017 nasceram em Salvador 403.148 pessoas – nenhuma delas teve o tipo 2 da dengue.

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Mas, segundo o médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, Antônio Carlos Bandeira, o que vai interferir mesmo no agravamento da doença será a forma como o sistema imunológico da pessoa infectada responderá. “O tipo 2 dá a impressão de que consegue fazer um quadro grave maior, o indivíduo morre em quatro a cinco dias”, disse ele.

“Tudo tem a ver com o sistema imunológico da pessoa, como ela reage a partir da infecção. Quem já teve dengue 1 e tem dengue 2 a infecção é pior. Quanto mais episódios tiver, pior. Mas se já teve tipo 1 e o vírus transmitido pelo mosquito for o tipo 1, ele vai ser dissolvido no sangue, a pessoa fica imune”, afirmou Bandeira.

Casos registrados No período de 30 de dezembro de 2018 a 27 de agosto de 2019, foram notificados na Bahia 59.246 casos prováveis de dengue no estado, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab). No mesmo período de 2018, foram 7.697 casos prováveis, o que representa aumento de 669,7%. No total, 376 municípios realizaram notificação para esse agravo.

Até o momento, foram notificados 63 óbitos por dengue, sendo que 29 foram confirmados laboratorialmente (12 em Feira de Santana, três em Salvador, duas em Paulo Afonso e um nas cidades de Candeias, Rafael Jambeiro, Saubara, Jacobina, Paripiranga, Presidente Dutra, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Candiba, Camaçari, Mulungu do Morro e Euclides da Cunha).

Ainda de acordo com a Sesab, 15 óbitos foram descartados e 19 permanecem em investigação. Com relação à chikungunya, foram notificados 5.399 casos prováveis no estado este ano, enquanto que em 2018, no mesmo período, houve 3.887 casos prováveis, aumento de 38,9%. No total, 178 municípios notificaram chikungunya.

Até o momento, há registro de oito óbitos por chikungunya, sendo dois em Feira de Santana (confirmados por critério laboratorial) e dois em Candeias (um confirmado por critério laboratorial e um confirmado por critério clínico epidemiológico), três em Madre de Deus (confirmados por critério laboratorial) e um em Salvador (confirmado por critério laboratorial).

Sobre zika, houve 1.968 casos prováveis no estado, também entre 30 de dezembro de 2018 e 27 de agosto de 2019. No mesmo período de 2018, foram notificados 1.167 casos prováveis – aumento de 68,6%. Segundo a Sesab, 167 municípios realizaram notificação a zika. Não há registro de óbitos por zika na Bahia este ano.

Providências A subgerente de Arboviroses da Secretaria Municipal da Saúde, Isolina Miguez, informou que, para intensificar as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, a Prefeitura de Salvador está implementando nos bairros mais vulneráveis uma armadilha na qual o mosquito coloca os ovos. Eles chegam a se desenvolver, mas não conseguem sair quando nascem.

“Já colocamos mais de 300 armadilhas dessas no bairro de São Caetano e estamos com outras 5 mil para serem colocadas em outros bairros de Salvador”, afirmou Isolina, que está preocupada com a não reposição de inseticida para combater o mosquito por meio do carro fumacê.

“Desde maio que o estoque não é reposto e o que temos só dá para mais dez dias, no máximo, e é de uma reserva de emergência que temos e estamos usando somente em conglomerados de casas”, afirmou.

Procurado para saber quando seriam enviadas mais remessas do inseticida, o Ministério da Saúde não respondeu.

A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) não informou sobre dados da dengue tipo 2 em Salvador este ano. Segundo a Sesab, o tipo 2 da dengue está mais presente em cidades do Norte, Centro Norte e Centro-Leste (região de Feira de Santana), que apresentaram ainda casos do tipo 1 do vírus, mais predominante em cidades do Sudoeste baiano.

No interior do estado, uma adolescente de 16 anos, de Presidente Dutra, foi contaminada com o tipo 2 da dengue e morreu no dia 11 de junho, um dia depois de ter sido internada no Hospital Regional Doutor Mário Dourado Sobrinho, em Irecê. Ela foi internada já com fortes dores abdominais.

Hidratação correta Segundo o infectologista Antônio Bandeira, o problema da dengue, seja qual tipo for, está muitas vezes no tratamento, ou no manejo com o paciente, que não é orientado corretamente, sobretudo com relação à hidratação, que “tem de ser rigorosa, não é só dizer pra beber uma água de coco e muito líquido”.

“O médico tem de receitar o paciente a beber de cinco a seis litros de água, sucos, água de coco por cinco a seis dias seguidos, de forma intensa. É uma hidratação rigorosa, com solução oral que contenham eletrólitos, como sódio, potássio e magnésio, pedialite (soro de reidratação oral). Pacientes bem hidratados se recuperam bem”, falou.

Importante também, diz Bandeira, é estar atento aos sintomas de agravamento da doença, como dores abdominais constantes e vômitos. “Sentindo isso, a pessoa deve ser levada para o médico urgente para que seja feito o tratamento mais intensivo e o quadro de saúde não se agrave”, declarou.