Séo Fernandes, irmão de Saulo, lança primeiro álbum gospel

Músico foi vocalista da Chica Fé no início dos anos 2000 e hoje é pastor religioso

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  • Roberto Midlej

Publicado em 3 de julho de 2017 às 06:11

- Atualizado há um ano

(Foto: Divulgação)A trajetória de Séo Fernandes na música começou na Chica Fé, banda do segundo escalão da axé music. Ele entrou no grupo em 2001, em substituição ao irmão Saulo, que estava assumindo o vocal da Banda Eva, no lugar de Emanuelle.Mas a experiência não lhe realizou: além de cantar músicas com as quais não se identificava, Séo teve a traumática experiência de testemunhar o assassinato de uma pessoa na plateia, durante um show que fez em em Belém. “Vi ele tomar uma facada e agonizar em minha frente. Eu já estava frustrado por saber que a banda não fazia sucesso e além disso, percebia que queria falar de outras coisas nas canções”, diz o cantor de 35 anos, que, finalmente, está lançando um álbum com a sua cara, Graça, Tambor e Cordas (Sony Music), só com composições próprias, todas ligadas à religiosidade.RitmosO disco é uma mistura de gêneros musicais, com destaque para um dos preferidos de Séo: “O samba-reggae é o ritmo mais lindo do mundo e eu sempre quis ser percussionista, sempre fui fã de Ilê e Olodum. ”, diz o cantor. “A música da Bahia tem muitas variações e não tem como não ser influenciado por ela. O disco reflete a musicalidade que eu herdei. Tem bossa, MPB, talvez influência até da seresta, por causa de meu avô, que era seresteiro”.Para Séo, o álbum é também uma forma de se manifestar contra o preconceito: “Desde criança, sempre me preocupei com isso. Não aceitava nenhum tipo de discriminação. Não entendia, por exemplo, por que o portador de Síndrome de Down é tratado como doente”. Séo diz também que sempre buscou se aproximar da cultura negra: “Sempre quis este cabelo rastafári e sempre quis ser negão, mas não consegui”, brinca o cantor. A alma negra de Séo pode ser percebida no ijexá Identificação, uma música que, segundo o cantor, fala de Cristo como substituto, que se identificou com os homens e os substituiu.A canção chegou a ser contestada na rede social por uma adepta do candomblé, lembra o cantor: “Ela viu o clipe e pensou: ‘como alguém usa outra religião para se promover e ganhar dinheiro com isso?’”. Depois, arrependida, a mulher voltou atrás e assumiu ter-se equivocado: “Eu te julguei e errei”, disse ela.PastorApesar do passado como cantor de Carnaval, Séo não tem planos de cantar suas novas canções no trio elétrico. “Mas não tenho nada contra o Carnaval. Só que eu não penso na música apenas como fonte de entretenimento, para animar o público. Meu foco é a mensagem que eu carrego. Isso, claro, pode até gerar alegria para o público”.Séo concilia a carreira de cantor com a atuação como pastor da Comunidade Revolução da Graça. “É uma igreja, mas gosto de usar o nome ‘comunidade’, que designa um toque mais ‘humano’, dá a ideia de doação, de amor”. As reuniões acontecem aos domingos pela manhã, às 9h30, no prédio da Associação Brasileira de Odontologia - Bahia, na Pituba.Apesar de musicalmente distante do irmão Saulo, Séo diz que a relação com ele, três anos mais velho, é muito boa: “É a mais agradável possível. Nos encontramos sempre na casa de minha mãe e não me lembro qual foi a última discussão que tivemos um com o outro”. Séo já teve o orgulho de ver três composições suas na voz do irmão, na época que ele ainda cantava na Banda Eva: Carnaval de Salvador, Diz que Vai Voltar e Tá Faltando um Beijo.