Setor de delivery enfrenta falta de plástico no mercado baiano

Salto no serviço de entrega durante pandemia provocou desabastecimento em bares e restaurantes

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  • Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2020 às 08:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Depois que o delivery se tornou uma saída viável para a sobrevivência de bares, restaurantes e pizzarias na pandemia, um elemento básico desse tipo de serviço tem se tornado motivo de preocupação  para os empresários. Isso porque a demanda é tanta que os fornecedores de embalagem descartáveis não têm conseguido suprir as necessidades, gerando  mudanças importantes de preço e prazo de entrega.

O aumento nos preços ultrapassou 60% e a entrega ficou pelo menos 20 dias mais longa. “É uma resposta natural a esse incremento do delivery que ocorreu por conta do isolamento. De imediato, esse impacto é sentido porque as embalagens são fundamentais para esse tipo de serviço”, comenta Luiz Henrique do Amaral, presidente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes na Bahia. Segundo a Associação, o número de empresas que recorrem ao delivery quase dobrou:  antes da pandemia, eram 25% dos associados; hoje,  43%.  

A dificuldade  tem sido verificada  até  por quem não incrementou a modalidade de entrega. É o caso da empresária Karla Baqueiro, responsável pelo boteco Bagacinho, na Barra: “Para o tamanho do meu negócio, eu tenho até um volume considerável de delivery, mas não é tão volumoso quanto outros estabelecimentos. E, mesmo assim, os fornecedores, realmente, não estão conseguindo acompanhar a demanda. Já estou precisando pesquisar fornecedores fora do estado para conseguir atender”.

Karla, que opera o delivery somente nos fins de semana, explica que conta com apenas um fornecedor e que, na impossibilidade de ser atendida por ele, recorre a lojas de embalagem próximas ao bar. Para os pedidos da última semana, ela chegou a procurar as embalagens em duas lojas, sem conseguir tudo que queria. “A preocupação  é que chegue uma segunda onda e a demanda aumente de novo”, destaca a empresária.

 Mesmo quem trabalha com pedidos agendados tem sentido dificuldade. É o caso do restaurante Caminho de Casa, com unidades no Rio Vermelho e no Itaigara. “Estamos tendo muito aumento de preços por parte dos fornecedores, que  diminuíram o prazo de pagamento. Como estamos com poucos clientes, a gente não consegue repassar o preço  para não impactar ainda mais no movimento do restaurante”, explica Marcelo Góes Lerner, sócio do estabelecimento. 

“É lógico que a demanda cresceu, com muitos restaurantes e bares precisando  atender por delivery, e isso aconteceu numa escala global”, diz Diógenes Antunes, da DOA Soluções e Embalagens, um dos principais fornecedores de embalagens para alimentos prontos - as conhecidas marmitas de papel - do estado. Na DOA, pedidos enviados a partir do último dia 10 só têm previsão de entrega para a segunda semana de janeiro. Antunes explica que a mudança nos hábitos de consumo e aumento dos pedidos de entrega começou a ser sentido pelo setor em maio e que desde setembro passou a refletir em mudança nos preços. “O aumento na demanda gera falta de matéria prima de vários tipos”, diz ele, que também precisou alterar seu prazo de produção de 15, para 35 dias úteis. 

Pizzarias Um dos setores que mais tem sofrido com a falta das embalagens, as pizzarias não estão encontrando os produtos tão necessários para fazer as entregas. A Pizza 15, na Boca do Rio, é uma das que enfrenta as dificuldades. O restaurante trabalha com as caixas mais baratas do mercado (aquelas sem marca da empresa) e mesmo assim já percebe mudança no valor do insumo.

“Desde o início da pandemia, estamos enfrentando dificuldades com insumos. Antes era o queijo, agora são as embalagens que subiram absurdamente de preço ”, diz o empresário Luã Reis, que usa 210 caixas de pizza, em média, num final de semana. Cada pacote com 25 caixas, que antes saia por R$ 16, agora sai por R$ 26, um aumento de 62,5%.  “A gente não consegue passar esse aumento para o cliente”, explica Reis.

Outra preocupação dos donos de pizzaria é no que diz respeito ao prazo de entrega. Quem trabalha com as caixas personalizadas viu o tempo de espera aumentar muito, gerando a necessidade de uma estocagem maior.  “As pizzarias são muito pequenas e comprar caixa com tanta antecedência acaba gerando uma questão de estoque também”, garante Gustavo Candotta, da  Pizza Santa Fé, em Lauro de Freitas, que a cada pedido estoca 2 mil caixas. Entre o último e o penúltimo pedido, ele diz que identificou  um aumento de mais de R$ 1 mil: “Vai chegar o momento de ter que repassar o valor para o cliente”. 

Novo app Com tanto aumento da demanda, Salvador ganhou mais um aplicativo de entrega de comida. Na última quarta, o 99Food começou a operar com mais de mil entregadores e restaurantes. Para o diretor executivo da 99Food, Danilo Mansano, o início das operações em Salvador é uma conquista dupla por ser um marco profissional e pessoal: “Como plataforma, nós temos a estratégia de refletir a cozinha local. Além dos mais, sou filho de baiana e passei muitas férias no Rio Vermelho”. 

Salvador é a 10ª cidade a receber o serviço no Brasil. Em cada local, busca entender o consumo dos usuários. A empresa ainda não possui dados dos soteropolitanos, mas sabe que um dos desafios na capital da Bahia é o transporte de pratos mais líquidos, como moqueca e caruru. Nesses primeiros dias de operação, o cliente terá taxa de entrega grátis e promoções. Resta saber se terá embalagem. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro