Setor florestal vai investir pelo menos R$ 2 bilhões na Bahia até 2024

Representantes da cadeia produtiva do eucalipto debatem os desafios que precisam vencer para continuar crescendo

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  • Georgina Maynart

Publicado em 8 de agosto de 2019 às 05:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Valter Pontes)

As áreas de florestas plantadas na Bahia registraram um crescimento anual de 9,4% entre 2017 e 2018. Uma expansão que tem estimulado os empresários do segmento, que pretendem investir pelo menos R$ 2 bilhões nos próximos cinco anos no estado.

“Estes investimentos serão realizados em novos plantios, em programas socioambientais, em pesquisas, inovação e modernização industrial”, afirma Wilson Andrade, diretor-executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF).

O setor quer aproveitar o momento e estreitar ainda mais os laços com universidades e centros de pesquisas que desenvolvem práticas sustentáveis e produtos inovadores a partir do eucalipto. “Queremos aproximar a indústria da academia e da sociedade. Realizar ações de cooperação com universidades estaduais e federais. A ideia é trocar informações, dialogar cada vez mais, para que possamos crescer juntos”, completa Andrade.

Segundo o relatório Bahia Florestal, lançado ontem (7/8) em Salvador, durante a aertura do IV Congresso Brasileiro de Eucalipto, o estado possui 657 mil hectares de plantações florestais, o que lhe garante o quarto lugar no ranking nacional no cultivo do eucalipto. A árvore ocupa cerca de 94% da área cultivada por floresta, seguida pelas seringueiras. Ainda de acordo com o documento, as fazendas baianas já possuem a maior produtividade do país no cultivo de florestas plantadas, ultrapassando 30 metros cúbicos por hectare ao ano. E que cerca de 20% dos plantios florestais do estado são mantidos por pequenos e médios produtores.

O congresso reúne até hoje os principais representantes nacionais do setor, além de produtores rurais baianos, autoridades políticas e pesquisadores.“Acreditamos que as florestas plantadas podem atender a demanda crescente mundial. O mundo precisa plantar 250 milhões de hectares até 2050. Nós podemos fornecer esta bioeconomia que exige cada vez mais sustentabilidade, que retém carbono e preserva as florestas nativas. Usamos cada vez mais tecnologia e ciência aplicada aos nossos produtos e queremos mostrar isso para todos”, afirma Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

SUSTENTABILIDADE

Atualmente 634 empresas de base florestal atuam na Bahia. Elas produzem derivados da madeira nos segmentos de celulose e papel, madeira sólida e material energético. Juntaos, esses cultivos respondem por 7% da produção nacional de madeira e por 15% da celulose gerada do país. E é este uso múltiplo sustentável do eucalipto é um dos principais temas do congresso. Na Bahia, mais de 65% das áreas de cultivo já possuem certificados de sustentabilidade.

Cerca de 65% dos plantios florestais da Bahia estão na região sul do estado. O litoral norte concentra 23% da área plantada, a região oeste cerca de 6%, e 4% estão na região sudoeste.

Wilson Andrade e Moacyr Fantini Junior, da Abaf (à esquerda) e Paulo Hartung, do Ibá (de azul) dão entrevista no IV Congresso Brasileiro de Eucalipto (Foto: Valter Pontes)

Uma das fortes tendências é o fortalecimento dos projetos que envolvem o sistema de integração entre pecuária, lavoura e floresta, o chamado IPLF. “Essa integração entre as culturas permite melhorar o aproveitamento econômico do solo, dos equipamentos e da mão de obra disponível durante o ano todo, favorecendo o abastecimento dos três setores, além de gerar mais emprego e renda no campo”, aponta o relatório.

Outro desafio do setor na Bahia é aumentar a verticalização da cadeia produtiva, e para vencê-lo é preciso incentivar a instalação de indústrias que beneficiem o eucalipto no próprio estado. Cerca de 80% da madeira consumida  aqui ainda vem de outros estados.

TRIBUTOS

As florestas plantadas são cada vez mais importantes para a economia baiana. Ano passado, o setor florestal industrial gerou R$ 14,2 bilhões para o Produto Interno Bruto, o que representa 5,4% do PIB do estado.

A cadeia produtiva do eucalipto é responsável ainda por 18,4% das exportações baianas e chegou a pagar, em 2018, mais de R$ 4,12 bilhões em impostos, o equivalente a 4,3% do total arrecadado em tributos no estado. De acordo com os dados, o setor emprega cerca de 234,5 mil pessoas no estado.“O Eucalipto é um produto do meio rural e temos que ter orgulho deste cultivo que gera empregos formais e leva benefícios para as comunidades ao redor. Este cultivo está ligado ao avanço tecnológico, as pesquisas e ao desenvolvimento social”, afirma Moacyr Fantini Junior, presidente da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF).  CONGRESSO

Durante o congresso brasileiro, estão sendo discutidos assuntos como segurança jurídica, estabelecimento de créditos fiscais, logística, liberação de compra de terra para empresas com capital estrangeiro e licenciamento ambiental mais ágil e seguro. 

“Ao contrário do que muitos pensam, nós defendemos o código florestal, cumprimos a lei integralmente, e queremos que ele seja cumprido com rigidez. Por isso propomos conversar mais com todos os setores, expor mais o que pensamos e implantamos, para evoluir mais neste processo”, acrescenta Hartung.

Dados da Ibá mostram que as florestas plantadas ocupam cerca de 8 milhões de hectares no Brasil, o correspondente a 1% do território nacional.

“Nós temos que discutir a questão fundiária e ambiental. Este é um grande desafio que temos que enfrentar, senão o Brasil não vai avançar”, disse Valdir Colatto, chefe do Serviço Florestal Brasileiro órgão ligado ao Ministério da Agricultura.

Em todo o país, os investimentos do setor devem ultrapassar os 22 bilhões de dólares entre 2019 e 2024.“As florestas plantadas, assim como a mineração e a produção de energias renováveis são fundamentais para o nordeste. Precisamos trabalhar melhor para agilizar estas atividades comprometidas com o desenvolvimento econômico”, afirmou Ricardo Alban, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia na abertura do congresso.