Shoppings Salvador e Barra têm movimento discreto e alívio em dia de reabertura

Lojistas relatam que, mesmo com delivery e drive thru, tiveram quedas significativas de lucro

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  • Wendel de Novais

Publicado em 24 de julho de 2020 às 18:58

- Atualizado há um ano

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. por Marina Silva/CORREIO

Após quatro meses, os soteropolitanos que aguardavam a reabertura dos shoppings centers, dos centros comerciais e das lojas de rua acima de 200 metros quadrados enfim puderam retornar aos espaços que ocupavam normalmente no mundo pré-pandemia. No Salvador Shopping e no Shopping Barra, não houve grande movimentação ou filas que provocassem aglomerações para entrar no shopping ou nas lojas. Clientes, lojistas e vendedores presentes na reabertura se mostraram contentes.

Entre os que se aventuram, diversos foram os motivos para que estes saíssem de casa no primeiro dia de retorno ao funcionamento das lojas localizadas nos shoppings. Teve quem foi pra resolver pepino, gente que foi para realizar pagamento, os que foram atraídos pelas promoções e até quem só tirou o pé de casa para relaxar enquanto caminhava pelos pisos dos shoppings.

Na fila dos primeiros clientes que chegaram nas instalações do Salvador Shopping, muitos foram os que relataram a necessidade de resolver questões urgentes nas lojas. "Tive que pagar a loja que não mandou boleto e não permite pagamento on-line. Mas não tenho preocupação com a contaminação. Me sinto segura e estou feliz pelo retorno porque vou conseguir resolver minhas coisas", contou Janice Lopes, 60, que chegou às 10h e acha que a reabertura é um sinal que a pandemia está sendo superada. O jardineiro Etevaldo Lima, 43, também chegou cedo e revelou que foi pagar contas que estavam tirando seu sono. "Eu cheguei aqui pra pagar contas na Oi e na Vivo. Uns boletos que eu não conseguia pegar pela internet e que estavam me deixando agoniado", declarou Etevaldo, que entende que, se seguir as recomendações dos shoppings para evitar a proliferação do vírus, não corre risco de ser contaminado. 

Daiane de Oliveira, 37 anos, chegou ao shopping às 9h, quando ainda faltavam três horas para a abertura do local. A assistente social marcou presença na reabertura para realizar um pagamento que não conseguiu fazer pela internet. "Eu só vim pra cá para pagar a Renner. Como eles não enviam boleto e não dá pra pagar a distância, não poderia ficar devendo. Só estou aqui para isso", afirmou Daiane.

Não foi só Daiane que precisou ir pessoalmente para resolver pendências com a Renner do Salvador Shopping.  Edilene Souza, 33, é atendente e foi até o shopping para retirar uma compra pelo drive thru. "Eu cheguei aqui com o intuito de retirar lá embaixo, mas a moça me informou que só poderia retirar na loja. Estou aguardando aqui, mas acho muito arriscado porque muitas pessoas não têm o entendimento dos cuidados e podem colocar os outros em risco", revelou.

Diferente dos que foram cumprir obrigações, houve clientes que foram até os shoppings para realizar compras e aproveitar as promoções da reabertura. César Dantas, 55, foi ao shopping para comprar uma camisa do Bahia como presente para um amigo.

"Tenho um amigo que vai viajar hoje e queria dar o manto de presente pra ele. Como tinha que ser rápido, aproveitei e corri pra cá", explica o empresário. Edvelton Cerqueira, 28, é técnico de enfermagem e quis aproveitar os preços baixos que imaginou que haveria nas lojas do Shopping Barra. "Tô quatro meses sem poder comprar nada e eu estava precisando. E como eu sei que a reabertura viria com preços baixo, tô tentando  aproveitar as promoções", disse Edvelton, que confia nos procedimentos realizados shopping e não vê riscos de uma ampla disseminação do vírus.

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Procedimento seguro A maioria dos entrevistados pela reportagem afirmou estar totalmente segura que a ida aos shoppings não representaria um risco de propagação do vírus entre os presentes. Para Karina Brito, gerente de marketing do Shopping Barra, a confiança dos clientes se deve a um esforço do estabelecimento para fazer do retorno uma situação segura. "Foram mais 120 dias de muito estudo e preparação. Desde que fechamos, realizamos pesquisas sobre os shoppings que reabriram pela Europa para conseguirmos trazer essa segurança para os clientes", afirmou.

Karina Dourado, gerente de marketing do Salvador Shopping, teve discurso parecido com a sua xará e fez questão de lembrar que a administração do shopping vai acompanhar os lojistas e orientá-los para que tudo seja feito de maneira segura. "Foi uma grande espera e uma enorme preparação para o retorno. Nós tomamos mais de 50 medidas operacionais seguindo os protocolos recomendados pelos órgãos públicos. Além disso, distribuímos cartilhas aos lojistas e vamos fiscalizar e auxiliar os lojistas informando e esclarecendo qualquer dúvida", clarifica Karina.

A fiscalização das lojas também é feita pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), que conta com fiscais que averiguam os espaços e orientam os lojistas a corrigir falhas na aplicação das medidas preventivas.

Na avaliação do secretário municipal de Urbanismo (Sedur), Sérgio Guanabara, do ponto de vista da fiscalização do funcionamento, o dia foi positivo e ocorreu com obediência aos decretos, sem multidões e com poucas autuações. “Não houve nenhum tipo de busca excessiva. As pessoas chegaram mesmo antes das 12h nos shoppings, mas não houve aglomeração”, observou. 

Ainda segundo o gestor, a quantidade de pessoas que compareceu aos centros foi de cerca de 30% do total do que costuma ser registrado em dias comuns. “É um motivo de orgulho para nós porque depois de quatro meses de medidas restritivas com o objetivo de salvar vidas, a gente teve condições de retomar essas atividades sem problemas”, comentou.

Durante as compras, permaneceu entre os clientes uma dúvida sobre a forma de compra de produtos vestíveis. O secretário esclareceu que é absolutamente proibido provar roupas, calçados e acessórios porque isso pode facilitar a transmissão do vírus entre as pessoas.

Todo esse cuidado refletiu na sensação de segurança dos clientes. Edvelton afirmou que o procedimento e a organização do Shopping Barra o tranquilizaram quando a possibilidade de contaminação. "Eu já estou me cuidando e tomando as devidas precauções. Somado a isso, tem o fato da estrutura está bem organizada e os procedimentos de segurança estarem sendo seguidos de maneira exemplar", declara. 

Gabriel de Souza, 19, saiu diretamente do trabalho para o Salvador Shopping, onde afirmou que faz praticamente tudo que é necessário para ele. "É aqui que eu compro roupa, pago conta, almoço e faço muitas coisas. Acho que tudo na vida pode ser evitado quando você tem cuidado. Mantendo o distanciamento e com todo esse procedimento do shopping, a proliferação do vírus pode ser evitada", afirma Gabriel. 

Houve também quem se sentiu seguro a ponto de levar as crianças para dar um passeio e relaxar um pouco da rotina que faz com que elas permaneçam em casa."Aproveitei pra sair um pouco de casa porque eles já estavam muito agitados e as crianças precisam sair para desestressar. Como a estrutura me passa segurança, não vi problema nisso", afirmou Ana Kátia Alves, 40, confeiteira que levou os filhos Kauan, 11, e Ana Clara, 8, para o Salvador Shopping.Respiro para lojistas e vendedores Os lojistas, que tiveram que se adaptar durante a pandemia e oferecer serviços de delivery e drive thru, por exemplo, comemoraram o retorno de uma interdição que custou caro. É o que confirma Renata Andrade, franqueada da Intimissimi, loja de lingerie localizada no Salvador Shopping."A gente se reinventou nesse período para continuar vendendo de múltiplas formas. Mesmo com isso, tivemos uma queda de 80% de lucro em relação ao anterior. A volta é fundamental porque o cliente compra mais quando está aqui e pode tocar no produto e esse contato dá a confiança que ele precisa para levar a mercadoria", explica.Lojista da Andare Calçados, Catarina Amador também adotou a iniciativa de fazer delivery, mas isso não impediu a queda de 90% no lucro em relação ao mesmo período de 2019. "A gente até tentou fazer isso mais para posicionar a marca e não esquecerem da Andare. Mas isso não solucionou o déficit substancial que tivemos. O retorno do funcionamento presencial é um alívio para nós, que esperamos que as vendas aumentem significativamente", relata Catarina.

Apesar das iniciativas e das múltiplas plataformas e opções de compras oferecidas on-line pelos lojistas, a queda das vendas e, consequentemente, do lucro foi inevitável. Além da crise que afetou os bolsos dos soteropolitanos, vendedores destacaram também a falta de confiança dos clientes em compras realizadas pela internet. Sem o contato presencial e as explicações de quem conhece os produtos como ninguém, o processo de convencimento dos possíveis compradores ficou defasado.

É o que defende Lucas Silva, 26, vendendor da IPlace, loja que vende produtos da Apple no Shopping Barra. "Tem algumas coisas que só conseguimos fazer quando estamos cara a cara com o cliente porque facilitamos o entendimento dele sobre o produto e assim vendemos mais naturalmente", informa. No caso dos vendedores, a reabertura das lojas representa o retorno de uma renda que é tão importante quanto o salário que eles recebem: a comissão por venda.

Em alguns casos, a comissão de um atendente é igual ou superior ao salário que ele recebe da loja. "O meu salário foi mantido. Eu recebia 70% do governo e 30% da loja durante a interdição. Mas a comissão é um diferencial enorme pra gente. Me afetou bastante financeiramente essa pausa no funcionamento da loja. As contas e os boletos não esperam. Muita gente não confia nas compras pela internet e isso vai aquecer as vendas por aqui e é muito bom pra gente que é vendedor", conta Daniel Reis, 30, atendente da Nagel, loja de informática e eletrônicos situada no Salvador Shopping.

Mariana Costa, 32, é atendente da Intimissimi e também salientou a importância das vendas comissionadas. "A diferença é abissal. Conseguimos trazer o cliente para perto e vender muito mais, o que é fundamental para nós que ganhamos com comissões".

Rodrigo Amorim, 22, é cabo da Marinha do Brasil e confirma as afirmações de Daniel e Mariana. "Eu como cliente confio muito mais na loja que tenho assistência do atendente, posso tocar o produto e ter certeza da qualidade. A assistência de quem vende é importante e passa confiança", afirma. 

Funcionários tranquilos Os funcionários mostraram confiança nos procedimentos de segurança realizados pela administração dos shoppings e o cuidados tomados pelas lojas no fornecimento de Equipamentos de Proteção de Individual (EPI) e nas orientações para fazer com que o contato com o cliente fosse mais tranquilo.

"Em relação aos procedimentos da loja e do shopping, eu estou totalmente tranquilo. A iPlace me forneceu o EPI necessário, me orientou e passou muita tranquilidade para o retorno que não é simples, mas é muito necessário para gente também", conta Lucas Silva. Essa tranquilidade também foi defendida por Daniel Guedes. "Tem álcool gel em cada pilastra do shopping. Todo mundo que entra passa por uma medição de temperatura. Todos os funcionários da Nagel estão devidamente protegidos. Acredito que o retorno esteja sendo executado da melhor maneira possível considerando a situação em que vivemos atualmente", declara.

Alguns dos funcionários mostraram apreensão, mas ressaltaram a confiança nas medidas preventivas. Para Mariana Costa, o medo é inevitável e real, mas os procedimentos ajudam a manter o ambiente seguro. "Sempre vai ter receio. Isso é difícil de tirar da cabeça. Mas estamos tomando todos os cuidados necessários e fico tranquila por isso. Afinal, estamos voltando por motivos plausíveis. Todo mundo aqui precisava voltar a ter a renda que perdeu", afirma.

Fonte de renda indireta E não é só quem está do lado de dentro dos shoppings que ganha com o retorno. Além das administrações dos shoppings, dos lojistas e dos vendedores, profissionais que têm sua renda ligada ao fluxo de pessoas no shopping respiram aliviados depois de longos quatro meses de aperto financeiro. "Se não tem gente na rua, eu não consigo vender. Trabalho sempre aqui nos arredores do Salvador Shopping e fui muito prejudicado com o fechamento do shopping. Antes vendia camisa de times e bolsas com um ponto e tudo. Agora, tive que me adaptar e começar a vender máscara como camelô mesmo. Essa volta é a chance que eu tenho para voltar a ganhar o dinheiro que é fundamental lá em casa", conta Leandro Neves, 38, comerciante informal. 

Marcos Santos, 46, é taxista e afirmou que o retorno do shopping é um respiro financeiro e uma chance de voltar a ter renda. "A volta ajuda demais financeiramente porque eu estava a mais três meses parado porque não compensava rodar sem fluxo de pessoas. Era desperdício de gasolina. É um alívio pra gente poder ver essa circulação de pessoas e, consequentemente, pegar mais clientes", relata Marcos, que estava parado em casa há quatro meses.

A reabertura dos shoppings também era muito esperada pelos motoristas de aplicativos, que ganham com o maior fluxo de pessoas nas ruas em decorrência do retorno. Pedro Bispo, 38, é motorista pelo POP e pela Uber e afirmou que estava ansioso pelo retorno. "De 10h às 13h, eu fiz 180 reais. Não faço esse dinheiro em um tempo tão pequeno já quatro meses. Hoje, realizei dez corridas. Durante a pandemia, fazia quatro de 5h às 8h30 e mais nada. Depois, tudo parava", diz.

Alterações físicas Os shoppings fizeram alterações no ambiente. Agora, os pisos em frente às lojas e em todas as áreas destes são repletos de marcas que orientam o distanciamento entre as pessoas presentes no local. No Salvador Shopping, tem marca até na escada rolante. Um degrau com o desenho de pés verdes, onde uma pessoa pode estar, é seguido por três degraus vermelhos, onde não se deve estar e que articulam o distanciamento entre quem utiliza as escadas.

Tanto no Shopping Barra como o Salvador, retiraram todos os bancos e assentos para evitar que as pessoas toquem as mesma superfícies ou se aglomerem ao sentar próximas umas das outras. As lojas contam com um aviso que informa qual a quantidade de clientes pode estar ao mesmo tempo dentro destas. A capacidade é definida pelos metros quadrados de cada uma das lojas. 

Mesmo com tantas alterações, o retorno foi considerado um sucesso pelos responsáveis dos shoppings e os lojistas que viram um fluxo que, mesmo pequeno, foi suficiente para aliviar a situação financeira das lojas.

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro