Símbolo da resistência negra, Pedra de Xangô deverá ser tombada em março

Neste domingo (12), aconteceu em Cajazeiras a 8ª edição da Caminhada da Pedra de Xangô, que reuniu devotos e simpatizantes do candomblé

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Bittencourt
  • Eduardo Bittencourt

Publicado em 12 de fevereiro de 2017 às 16:13

- Atualizado há um ano

Fé, alegria e resistência marcaram a VIII Caminhada da Pedra de Xangô, na manhã deste domingo (12), em Cajazeiras X. Neste ano, houve ainda um motivo a mais de comemoração. A previsão é que o monumento seja tombado pela Prefeitura de Salvador em março, durante o aniversário da capital.

Em maio do ano passado, foi homologada, pelo Plano Diretor do Desenvolvimento Urbano (PDDU), a Área de Proteção Ambiental (APA) da Pedra de Xangô, que era uma demanda do movimento negro. Ali será criado também o Parque em Rede Pedra de Xangô, que terá um posto avançado no Jardim Botânico. A informação é do subsecretário da Cidade Sustentável, José Augusto Saraiva Peixoto.

De acordo com Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, o tombamento é uma conquista do povo negro. “É um movimento importante para a religião de matriz africana e importante também no combate à intolerância religiosa”, disse. Com o tombamento do local, além do parque, deve ser criado um conselho que vai ajudar a cuidar do lugar. “A gente vai fazer justiça e criar um marco religioso dentro de Cajazeiras”, explicou Guerreiro. (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)FestaA animação tomou conta não apenas de mães e pais de santo, como de adeptos e simpatizantes do candomblé. A caminhada foi precedida por uma saudação a Exu, para abrir os caminhos dos devotos. Em seguida, os atabaques soaram e começaram os cânticos, dando início a caminhada, que saiu do começo da Avenida Assis Valente e foi até a Pedra de Xangô, num total de cerca de um quilômetro e meio. Enquanto o mar de branco fazia o trajeto, cânticos eram soados e até mesmo um grupo de roda de capoeira levava alegria e mostrava a fé dos devotos. Este é o oitavo ano que o evento acontece, sempre no segundo domingo de fevereiro. 

A história da Pedra de Xangô está associada a um símbolo de resistência. O monumento era usado por escravos que fugiam das fazendas localizadas na região, durante o século XIX, como esconderijo. Antes conhecida como Pedra do Buraco da Onça, ela ficava escondida por um matagal, que ajudava os escravos em sua fuga. Hoje, é considerada um monumento sagrado pelos religiosos de matriz africana. Idealizadora da caminhada, Mãe Iara de Oxum ressalta o caráter de resistência contra a intolerância religiosa do evento. “Nossa religião afrodescendente é uma religião de resistência. É muito prazeroso saber que o nosso povo está unido em prol de uma única causa, que é a nossa religião. A gente sofre preconceito em todos os momentos, no banco, na escola. E essa caminhada é mais um símbolo da nossa resistência”, diz. (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)Participando pela primeira vez, Quele Ribeiro, 36 anos, estava muito emocionada com o clima de fé e religiosidade que tomava conta do ambiente. “Estou muito emocionada. Acredito que meu pai Xangô é um homem de justiça e que ele vai fazer muita diferença em minha vida este ano”, conta. Fabya dos Reis, secretária de Promoção da Igualdade Racial, também falou sobre a caminhada: "Esse evento contribui no diálogo com a sociedade pela tolerância religiosa e pelo respeito com o candomblé. Hoje, mãe Iara e os povos dos terreiros fazem essa caminhada para defender o respeito a diversidade e o convite fraterno entre as religiões”, disse.