Sindicato de escolas particulares defende volta às aulas na pandemia; vídeo viraliza

'Estudos só confundiram', diz material que viralizou e gerou polemica nas redes sociais no último final de semana

Publicado em 27 de julho de 2020 às 21:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Um vídeo institucional produzido pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (SinepeRio), em defesa da volta às aulas, vem causando polêmica nas redes sociais neste o último final de semana. A discussão gira em torno do texto da narração, que coloca em xeque estudos sobre a pandemia do novo coronavírus e o distanciamento social, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e adotado em todo o mundo democrático.

A peça, de pouco menos de 1 minuto, mescla imagens de adultos, crianças e salas de aula e ao ar livre. A narradora, então, fala em cumprimento de regras e protocolos e afirma que as escolas privadas fizeram "o dever de casa" e estão prontas para reiniciar. O texto segue, então, com as afirmações que geraram toda a polêmica."Vimos que ciência é a vacina. Estudos só confundiram. Trancar todos em casa não é ciência. Confinar é desconhecer, é ignorar, subtrair vida, é fragilizar, debilitar, mexer com o emocional".Por fim, a narração conclui que as crianças precisam "voltar a se relacionar, brincar, refazer laços, amizades e rever os amigos".

"Vergonhoso, desumano, mentiroso e anti-ético o VT que o @SinepeRio  jogou aos leões, hoje. A vergonha aumenta quando a gente lê o Código de Ética deles e vê que eles o descumprem, neste vídeo. O negócio é levar vantagem em tudo, né?", comentou o usuário Afonso Borges, um dos primeiros a postar as imagens.

Ao longo desta segunda-feira (27), artistas e influenciadores digitais também criticaram o conteúdo do vídeo. "Falta de vergonha, de humanidade e - pasmem - conhecimento científico dá nisso. Esse vídeo é um horror!", escreveu a cantora Teresa Cristina. O cantor e ativista Tico Santa Cruz também se mostrou indignado e cobrou que as escolas privadas se pronunciem sobre o vídeo: "O Sindicato das escolas particulares do RJ fez esse vídeo INSTITUCIONAL, com conteúdo NEGACIONISTA em meio a uma pandemia que já matou mais de 85 mil pessoas! Temos que cobrar das escolas privadas uma posição sobre isso!".

“Esse vídeo é uma declaração de guerra aos professores da rede privada. A repercussão foi tão negativa e causou uma reação tão grande de mães, pais, professoras e professores que eles o retiraram de suas redes sociais”, conta o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-RJ), Afonso Celso. Ele lista “algumas barbaridades” contidas no vídeo, como a afirmação de que todas as escolas particulares estão preparadas para essa volta: “A gente tem visto que isso não condiz com a realidade”.

Os donos de escola, diz Afonso, engrossam uma postura fundamentalista que já predomina na Prefeitura do Rio e no governo federal. “O vídeo diz que as crianças estão sofrendo mais confinadas em casa, diz que isolamento social não é ciência, desrespeitando tudo o que a comunidade científica internacional vem afirmando, ou seja, que a melhor maneira pra você controlar a pandemia é justamente o isolamento. Não é à toa que o Brasil é o país com o segundo maior número de casos.”

A Fundação Oswaldo Cruz lançou na semana passada novo documento no qual reitera o alerta de que a volta às aulas no Rio acontecerá antes da hora e representa um grave risco para a saúde pública: “Diante da possibilidade de recrudescimento de casos e óbitos no município do Rio de Janeiro, a reabertura das escolas parece prematura”, afirma a publicação da Fiocruz.

Em nota, o Sindicato dos Professores do Município do Rio e Regiões (Sinpro Rio) disse não concordar com o retorno das aulas presenciais nas escolas. Segundo eles, a retomada deveria ser facultativa também para os professores. A Prefeitura do Rio autorizou a reabertura das escolas particulares da cidade a partir do dia 3 de agosto. O prefeito Marcelo Crivella disse que o retorno nas escolas particulares servirá de teste para a rede do município.