Sobre sonhos e juventude

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  • Da Redação

Publicado em 1 de maio de 2018 às 05:58

- Atualizado há um ano

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Ao falar sobre educação, lembro da minha mãe, nascida em 1928, e de como ela já atribuía muito valor à educação dos seus filhos. Podia nos faltar, como dizia meu pai, os supérfluos, mas nunca nos faltaria ensino de qualidade. 

Esses dias, num voo de volta a Salvador, assisti ao documentário de  Cacau Rhoden, Nunca me Sonharam. Ao mesmo tempo em que fiquei muito reflexiva e melancólica com o que estamos fazendo com os jovens do nosso país, também pude agradecer por ter sido “sonhada” pelos meus pais, irmãos e professores. 

Penso que “ser sonhado” é estar num ambiente de fé. Ambiente em que as instituições de ensino consigam acessar a individualidade dos sujeitos, criar conexões e sentido. Onde a família não desista do jovem, ainda que muitas vezes esse papel não seja desempenhado pelos pais. E o próprio jovem seja ensinado a acreditar no seu potencial e não desista de si mesmo.

O problema crônico da educação, como diria Darcy Ribeiro, parece ser mesmo um projeto, uma grande confabulação, que, às vezes, a vista nem alcança. Porém, se temos milhares de histórias bem-sucedidas, creio que já sabemos solucionar a questão!  

E é de solução que quero falar agora, contando um pouco como jovens  da zona rural estão sendo convidados a sonhar por meio de uma educação inclusiva, contextualizada com a realidade local e conectada com o mundo. Experiência que acontece nesse momento no Baixo Sul da Bahia.

E eu direi que sim, é possível dar certo e fazer rodar um modelo em que centenas de jovens aprendem a conhecer, ao serem instigados a debater sobre os grandes problemas do mundo, permitindo que a sala de aula seja um espaço que reflita o que se passa para além dos muros; que aprendem a ser, ao serem convidados a fazer o mergulho interno que revela potencialidades e aspectos a desenvolver; aprendem a fazer, ao acessarem e experimentarem novos conhecimentos que permitem ampliar a visão empresarial e de sustentabilidade no meio rural; e, por fim, aprendem a conviver ao desenvolverem uma visão do coletivo, do desejo de crescimento para si e para as comunidades em que estão inseridos, com respeito às diferenças e disseminação de uma cultura de paz. 

É preciso dar voz e vez a esse jovem e ouvir sua subjetividade quando se trata de visão de mundo, de planos e futuro, de sonhos e esperança, de desafios e oportunidades, de problemas e soluções e de ética e valores.

O conceito de Paulo Freire, de que não existe ensino sem aprendizagem, se materializa nessa experiência por meio da relação entre educador e educando. Por meio da metodologia utilizada nas Casas Familiares, a Pedagogia da Alternância, em que os alunos ficam uma semana na escola e duas na propriedade da família, intensificamos e tornamos ainda mais rica essa relação, em função das visitas domiciliares dos professores.  Estes, ao passo que ensinam, aprendem com seus alunos e suas realidades de vida e o mesmo acontece com o educando, que apreende novos olhares com seu professor.

Contar um pouco dessa história é levar em consideração a perspectiva do próprio sujeito, que nesse modelo é visto e se vê como inteiro, e espalhar um sopro de alento e esperança para que estejamos atentos e fortes e sonhemos por nós e pelos outros.

Cristiane Nascimento é psicóloga/ especialista em desenvolvimento humano e responsável por programas sociais na Fundação Odebrecht