SSP investiga se PMs presos por morte de irmãos fazem parte de grupo de extermínio

Quatro soldados são acusados de assassinar Hiago e Thiago em Camaçari

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 18 de maio de 2020 às 17:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Os quatro soldados presos, acusados de envolvimento nas mortes dos irmãos Hiago Nascimento Tavares e Thiago Nascimento Tavares, ocorridas no dia 7 de fevereiro deste ano, em Barra de Pojuca, município de Camaçari, trabalhavam no Pelotão Especial (Peto) da 59ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Vila de Abrantes). Há indícios, ainda sendo apurados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), de que eles integravam um grupo de extermínio.

Os PMs estavam dentro da própria unidade no último sábado (16), quando foram surpreendidos por uma Força Tarefa da SSP que investiga organizações criminosas envolvidas com homicídios e extorsões. Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos por equipes lideradas pela Corregedoria Geral da pasta.  

Todas as CIPM, assim como a que trabalhavam os policiais, têm um núcleo formado por policiais especializados (Peto), que atuam geralmente em situações consideradas mais complexas.

Trata-se de uma tropa de reação imediata que o comandante tem na unidade e que atua em ocorrências relacionadas aos crimes mais perigosos, como a presença de traficantes nas ruas ou a circulação de homens armados. 

Segundo a SSP, Hiago era o alvo do grupo armado e possuía envolvimento com tráfico de drogas. O irmão acabou sendo morto por tabela, apenas por ter presenciado a ação dos PMs. As mortes foram por disparo de arma de fogo.

A SSP informou que detalhes da investigação e das prisões não podem ser repassadas por conta da lei de abuso.  

Em nota divulgada no sábado sobre a prisão dos policiais, a SSP disse que investiga o envolvimento dos PMs em outros homicídios de pessoas com passagens pela polícia, na Região Metropolitana de Salvador. Questionado quantos casos estão sob investigação e se os policiais já foram presos ou respondem por algum tipo de crime, a SSP informou que “detalhes não serão repassados, pois podem prejudicar as investigações".

O CORREIO também tentou localizar os parentes das vítimas, sem sucesso.

Questionado sobre os indícios de participação em grupos de extermínio, o advgado dos policiais, Dinoermeson Tiago Nascimento, disse não ter conhecimento do assunto. 

"Se estão sendo investigados, nós não fomos notificados dessas investigações e em nenhum momento os policiais foram chamados para serem ouvidos por esses supostos fatos", disse. Ele acrescentou que os policiais estão à disposição da autoridade judiciária, neste caso o delegado, para esclarecer qualquer dúvida.

Parentesco Segundo a SSP, os PMs foram ouvidos na Corregedoria Geral da pasta, em Amaralina. No entanto, o CORREIO apurou que, na verdade, os policiais foram levados diretamente para o Batalhão de Choque, onde foram interrogados e, posteriormente, custodiados.

Vale ressaltar que o procedimento habitual é que PMs acusados de crimes sejam ouvidos na Corregedoria da PM e só depois são encaminhados para o Batalhão de Choque, onde ficam custodiados.

O motivo da mudança do procedimento, segundo apurou a reportagem seria evitar que se tornasse pública a informação de que Hiago e Thiago tinham uma relação de parentesco com um delegado da Polícia Civil. A fonte do CORREIO disse ainda que cinco delegados foram enviados exclusivamente ao Batalhão de Choque para interrogar os PMs. Além disso, a fonte acrescentou que os peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) também foram ao Batalhão quando os PMs acusados deveriam passar por exames periciais no próprio DPT, nos Barris. 

Por meio da assessoria de comunicação, a SSP informou que “os PMs foram ouvidos na Corregedoria Geral e não no Batalhão de Choque. O local do exame é definido por quem comanda a operação. Sobre parentescos não passamos esse tipo de informação sobre presos”. 

O delegado titular da 33ª Delegacia (Monte Gordo), Aldacir Ferreira dos Santos, foi procurado pelo CORREIO. Por telefone, ele disse que ficou sabendo das prisões dos policiais através de mensagens compartilhadas em um aplicativo e que o caso está restrito à SSP. 

O CORREIO também questionou o advogado dos PMs sobre o depoimento. Dinoemerson Nascimento confirmou que o interrogatório dos PMs não ocorreu na Corregedoria. “Tudo aconteceu no Batalhão de Choque. Afirmo isso porque eu estava lá. Estavam também uns cinco delegados e o DPT”, declarou.

Perguntado se o motivo dos policiais terem sido ouvidos no Batalhão estaria relacionado ao parentesco dos rapazes mortos com um delegado da PC, o advogado dos acusados disse não saber. “ Não sei, mas é isso que eu quero entender”, disse ele. 

Dinoemerson disse que ainda que Hiago morreu em confronto com os policiais e que o irmão do rapaz teria sido assassinado por outras pessoas. “Os policiais estavam numa operação, houve troca de tiros, teve auto de resistência e apresentaram a situação na delegacia.  O auto de resistência seguiu os trâmites legais, os policiais agiram em legitima defesa, tanto que teve um policial baleado e ele é um dos que foi preso.  O outro corpo foi encontrado na localidade, mas não tem nenhuma relação com o confronto”, defende. 

O advogado disse ainda que os PMs, até então, não respondiam a nenhum processo. “Essa guarnição foi eleita a guarnição do ano da companhia, foi condecorada e tem vários elogios por parte do comando da polícia”, comentou. 

Dioemerson afirmou também que dará entrada num habeas corpus, informando ao juiz que não há motivo para prisão cautelar, uma vez que os policiais vêm colaborando com as investigações, que o histórico funcional e antecedentes deles provam que são pessoas idôneas e têm trabalho certo e domicilio certo.

“Virou costume os policiais milhares serem presos primeiro para, depois, investigarem. Isso vai de encontro a todas as garantias constitucionais, principalmente a presunção de inocência”, declarou.