SSP registra mais de 50 ataques a policiais no complexo do Nordeste

Ao todo, sete policiais foram feridos neste ano, incluindo um policial civil

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  • Bruno Wendel

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 14:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A mega operação realizada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) no complexo do Nordeste de Amaralina, iniciada na manhã desta quarta-feira (2) com cerca de 700 policiais, vai além do combate à facção criminosa que atua na região. É uma resposta aos mais de 50 de ataques a viaturas registrados somente neste ano no complexo. Nesse período, sete policiais ficarem feridos, um deles um policial civil. 

“Esses ataques aconteceram quando os policiais estavam em cumprimento de suas obrigações, ou seja, quando faziam diligências, por exemplo, e sempre surpreendidos por bandidos armados. Todos os casos foram registrados em ocorrências e somam mais de 50. Em alguns casos, os policiais foram vítimas de emboscadas”, declarou o comandante da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) Atlântico, coronel Manoel Xavier. 

O caso mais recente aconteceu nesta segunda-feira, 30, com agentes da 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina). “ Eles foram emboscados quando entregavam uma intimação”, citou o Xavier, durante balanço parcial da operação por volta das 11h. Mais tarde, foram confirmados quatro suspeitos mortos em confronto e três pessoas presas (leia mais embaixo).  

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Um policial militar contou ao CORREIO que a maioria das ocorrências de ataques a viaturas aconteceu contra PMs da 40ª Companhia Independente (CIPM/Nordeste de Amaralina). “Porque são eles que fazem o policiamento ordinário no complexo. Em alguns casos, foram atender chamados da comunidade, que na verdade eram emboscadas. As guarnições foram acionadas por chamadas falsas. Quando passavam, eram recebidas a balas por traficantes que já estavam posicionados”, contou o policial. 

O Complexo do Nordeste de Amaralina é formado por quatro bairros. São eles: Santa Cruz, Vale das Pedrinhas, Chapada do Rio Vermelho e o próprio Nordeste de Amaralina. 

CV O complexo é o reduto da organização criminosa Comando da Paz (CP), que hoje é uma célula da segunda maior facção do país, o Comando Vermelho (CV). Essa aliança fez com que o CP, agora CV, ganhe força para se expandir frente à principal rival, a facção Bonde do Maluco (BDM), que detém o maior domínio no estado. Em setembro deste ano, o CORREIO mostrou a expansão do CV no complexo – a matéria mostrou várias pichações em pontos distintos e relatos de moradores, comerciantes e até de próprios policiais. 

Segundo a própria SSP, em release divulgado no início da manhã, a “ação, que será seguida de ocupação da área, tem como objetivo combater facção que atua na localidade e evitar a formação de bondes que planejam crimes e tentam expandir o domínio pelo tráfico de drogas em outras regiões”.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Questionado sobre a presença do CV no complexo, o comandante da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) Atlântico, coronel Manoel Xavier minimizou o fato. “Não temos a confirmação do Comando Vermelho no Nordeste. Paras nós bandido é bandido e não fazemos diferença”, declarou ele, na entrada do Vale das Pedrinhas, a poucos metros da sigla “CV” pichada numa parede. 

O comandante disse que não há prazo para a desocupação do complexo. “Vamos continuar até acharmos seja necessário”, declarou. 

Mortos Por volta das 7h da manhã, cerca de 700 policiais, entre civis e militares, de unidades distintas, já ocupavam o complexo do Nordeste de Amaralina. Seis barreiras foram instaladas nas principais vias de acesso à região. Viaturas foram posicionadas de forma que os veículos passassem um por vez pelas barreiras, ocasião da realização das revistas. As buscas eram realizadas principalmente em motos, carros com mais de um passageiro, veículos com películas escuras e táxis. Houve também abordagens a pedestres. 

De acordo com a SSP, quatro traficantes de drogas, integrantes de uma facção envolvida com homicídios, roubos, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menores foram mortos por unidades especializadas da Polícia Militar.  As equipes faziam incursões na localidade do Boqueirão, no bairro de Santa Cruz, quando avistaram cerca de 10 homens armados. Durante a aproximação o grupo atirou e quatro deles se esconderam em um imóvel, perto de uma escola. 

A SSP informou que, mesmo cercado, o grupo seguiu atirando contra as guarnições que revidaram. Após confronto, os criminosos acabaram feridos, foram socorridos para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiram. Pistola, revólveres, carregadores e munições foram apreendidos. Os outros comparsas conseguiram fugir.

Prisões Em outro ponto do Complexo do Nordeste de Amaralina, na Chapada do Rio Vermelho, equipes das polícias Militar e Civil capturaram um foragido da Justiça. O indivíduo possuía mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas.

Já na Rua do Capim, um homem foi flagrado correndo com sacolas. O criminoso foi alcançado carregando dois tabletes de maconha, 144 pedras de crack e 15 porções de cocaína.

"Seguiremos firme combatendo o tráfico de drogas como sempre fazemos diuturnamente. Aqueles que decidirem atacar os policiais, receberão a resposta proporcional e dentro da lei", ressaltou o comandante da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) Atlântico, coronel Manoel Xavier. 

Ainda segundo a polícia, os suspeitos estão sendo apresentados na 7ª Delegacia Territorial (DT) do Rio Vermelho.

Ônibus Diante do clima de tensão, gerado pela presença maciça da polícia, os rodoviários decidiram suspender a circulação dos ônibus nos finais de linha de Santa Cruz e Vale das Pedrinhas – esses dois lugares já tiveram ônibus incendiados por traficantes em represália a ações da polícia. Ao todo, 120 ônibus circulam no complexo.  

“Foram os próprios rodoviários que pediram para a gente intervir. Eles não se sentem seguros de trabalhar assim, nessa tensão. A qualquer momento pode haver um tiroteio e sobrar para quem não tem nada a ver. O sindicato está orientado a normalização quando esse clima se acalmar”, disse André Marcos, diretor de base do Sindicato dos Rodoviários, na entrada do Vale das Pedrinhas.  Dona Margarida (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Por conta da situação, os ônibus que circulam no Vale das Pedrinhas e Santa Cruz estão fazendo como o final de linha a Rua do Canal e o Parque da Cidade, respectivamente. Alguns moradores lamentaram, como foi o caso da aposentada Margarida dos Santos, 66, que precisou andar do Parque da Cidade até sua casa em Santa Cruz – um superior a 1,5 km, que inclui a ladeira da Rua Onde de Novembro. “Não era para acontecer isso, mas fazer o que, né? Estou com problema no joelho e tive que subir essa ladeira toda”, disse ela, pouco depois de cruz uma das barreiras da PM. 

Quem também penou para chegar em casa, foi a camareira Rute de Souza, 54. “Trabalho num hotel e fui surpreendida como todo mundo. Mas fazer o que? Pensava em chegar logo em casa, depois de um dia de trabalho e estou me cansando ainda mais”, reclamou enquanto subia a Rua Onde de Novembro. 

O comandante da Região Integrada de Segurança Pública (Risp) Atlântico, coronel Manoel Xavier disse assegurou que tão logo os ônibus voltarão a circular normalmente nos bairros. “Não temos prazo para sair, mas vamos flexibilizar para que a população não sofra qualquer tipo de transtorno”, disse ele, sem dar mais detalhes. 

Já outras pessoas entenderam que a ação é necessária. “Apesar do transtorno, tudo isso é para dar mais segurança a população e acho válido”, disse a aposentada Claudete Conceição, 69, moradora do Vale das Pedrinhas.  “Quanto mais polícia, melhor. A gente vinha vendo um pessoal subindo e descendo exibindo arma amedrontando os moradores”, completou a diarista Jaiçara Argolo, 60, também moradora do bairro.