Startups agro crescem 20% ao ano

Agtechs mostram que o campo também é habitat da inovação tecnológica e captam R$ 100 milhões por ano em investimentos

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  • Georgina Maynart

Publicado em 5 de maio de 2019 às 13:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Fendt / AGCO Divulgação)

Neste momento, 307 equipes de todo o pais concentram esforços para desenvolver ideias inovadoras para o agronegócio brasileiro. Elas são startups do agro, também chamadas de agtechs. Estes embriões de empresas, ainda em fase inicial de desenvolvimento, estão se tornando cada vez mais numerosos no Brasil e já contam com investimentos que chegam a R$ 100 milhões por ano.

De olho em vários nichos promissores do agronegócio, elas oferecem projetos que vão da robótica topográfica aos serviços financeiros das fazendas. Podem se transformar em aplicativos virtuais ou em produtos físicos de lojas agropecuarias. Um mapeamento dividiu estas companhias em 18 categorias.

De acordo com o estudo, atualmente existem 54 startups no país propondo soluções para a gestão de propriedades, da lavoura ou dos animas de uma fazenda. Outras 35 estão trazendo inovações que envolvem biotecnologia e bioenergia. A criação de dispositivos para drones são o foco de pelo menos 32 startups já registradas no país. As soluções pensadas para facilitar a rotina dos agricultores no e-commerce (comércio virtual) já contam com 35 pesquisas.

O mapeamento foi realizado pela Liga Insights, em parceria com o Supera Parque de Inovação e Tecnologia, de Ribeirão Preto, e a Incubadora de Base Tecnológica da Universidade Estadual Paulista (UNESP). O levantamento completo foi divulgado durante a Agrishow, realizada no interior de São Paulo. Durante o evento - o maior do setor de agronegócios do Brasil - uma Arena de Inovação foi montada, exclusivamente, para apresentar alguns dos projetos existentes no Brasil.

Se há dez anos as agtechs nem apareciam na lista geral de startups brasileiras, hoje elas representam cerca de 5% do total. O percentual ainda é considerado pequeno pelos especialistas, mas mesmo assim, promissor. 

“Ainda é muito pequeno pela dimensão e pela responsabilidade que o Brasil tem de alimentar o mundo. Mas tem muita tecnologia que será lançada no mercado, principalmente porque a transferência de conhecimento para o agro vai se dar, cada vez mais, através das startups, estes ambientes de inovação e vitrines para grandes empresas”, afirma Antônio Adilton Carneiro, presidente do Supera Parque e professor da Universidade de São Paulo.  Pesquisador Adílton Carneiro da USP defende mais interação entre o campo e a ciência através das startups. (Foto: Georgina Maynart) No total, entre agtechs e projetos voltados para outros setores, existem cerca de 6 mil companhias registradas na Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Elas estão sediadas em 150 cidades brasileiras.

A pesquisa mostra ainda que vinte startups estão criando dispositivos para a análise de dados nas fazendas, e outras nove possuem aplicativos para facilitar a compra de alimentos pela internet. E não para por aí. Pelo menos outras 30 startups estão desenvolvendo sensores para detectar e interpretar, em tempo real, detalhes da produção agrícola, como o reflexo da umidade e da intensidade do sol na lavoura.

“O produtor rural tem de aproveitar estes dados fornecidos pelos sensores para fazer uma agricultura cada vez mais correta. É uma forma de conectar a ciência com a produção de alimentos”, completa Carneiro.

O mapeamento também indica que o uso destas tecnologias deve provocar um impacto econômico de 50 a 200 bilhões de dólares no Brasil nos próximos sete anos.

Os dados mais recentes mostram que em 2017, em todo o mundo, foram investidos R$ 437 milhões  em agtechs. Um volume 94,2% maior do que no anterior, segundo a plataforma de negócios CB Insigths. 

Já o Business Insider, site americano especializado no segmento, prevê que até 2020 haverá R$ 75 milhões de dispositivos agrícolas, e que o segmento crescerá no mínimo 20% ao ano.

Atento a este mercado, instituições financeiras estão abrindo espaço para startups em suas plataformas. Um dos exemplos é o BB Startups, mantida pelo Banco do Brasil desde fevereiro para fomentar o segmento. Durante a Agrishow, o banco incentivou a interação com os empreendedores. 

“O agronegócio é um dos segmentos em que a tecnologia mais avança. Muitas startups realizam um trabalho inovador nesse sentido. O banco tem apoiado estas iniciativas, inclusive com troca de informações e linhas de crédito específicas para empreendedores digitais”, afirma Rogério Faleiros, superintendente regional do Banco do Brasil. 

Startup biotecnológica

Filipe Dal´Bó não é filho de agricultores, nem possui nenhuma outra relação direta com o campo, sempre morou em cidade. Mas em 2014 o jovem economista, então com 30 anos, decidiu se juntar a dois amigos biólogos para criar a Decoy Smart Control. 

“A nossa startup começou olhando para um dos principais problemas da pecuária, que é o carrapato do boi. A gente percebeu que era um problema imenso, que gera R$ 9 bilhões de prejuízos para a pecuária todos os anos, e que as soluções que estavam disponíveis no mercado não resolviam o problema”, conta Filipe.

Juntos eles buscaram respostas na biotecnologia. O caminho não foi fácil, nem rápido.

“Depois de muitas pesquisas, muitas idas e vindas ao laboratório, a gente identificou os fungos que poderiam servir de potenciais controladores naturais do carrapato. Em seguida fizemos testes em campo, e validamos o produto para saber se os pecuaristas estavam dispostos a colocar a mão no bolso para pagar por uma tecnologia dessa”, conta.

A intenção era encontrar uma solução biológica que permitisse o tratamento da praga, sem prejudicar o meio ambiente, os animais e as pessoas responsáveis pela aplicação do produto. Sem recursos para bancar o projeto por conta própria, eles correram atrás de investimentos públicos e privados. Conseguiram reunir cerca de R$ 1,5 milhão através também de participação em rodadas de negócios e fundos de investimento. 

O produto, batizado de Biovalente, ficou pronto no ano passado, está sendo registrado no Ministério da Agricultura, mas já foi usado em cerca de 100 fazendas de gado leiteiro do interior de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Atualmente mais de 10 mil animais já foram tratados com o produto.

“Empreender é um desafio, exige muita resiliência. Mas nós estamos muito determinados e entusiasmados em poder contribuir para a produção de alimentos mais saudáveis, para o aumento da produtividade e a inserção de mais tecnologia no agronegócio nacional”, completa Dal´Bó. O economista Filipe Dal´Bó se juntou com dois amigos para desenvolver um biocarrapaticida. (Foto: Georgina maynart) Investidores e Incubadoras colaborativas

A falta de recursos e equipamentos também não intimidou um grupo de cinco amigos que queria desenvolver sensores para monitorar o desenvolvimento de plantas. A ideia era criar aplicativos que pudessem melhorar, por exemplo, a absorção de água ou dos nutrientes dentro das plantações. 

O grupo era formado por um especialista em ecologia de comunidades e quatro doutores em eco fisiologia de plantas, transporte de água e restauração em modelagem matemática. Eles precisavam criar uma ferramenta que fizesse a interação dos milhares de dados coletados ao longo de 10 anos de pesquisas na Universidade de Campinas. 

“Entender como a planta funciona é importante para o produtor rural reduzir vários custos operacionais. Mas coletar dados em fisiologia de plantas não é algo trivial. Muitos equipamentos são importados, e o custo é bem alto”, explica o biólogo Mário Marques Azevedo.

Para superar a falta de recursos, eles buscaram um investidor que pudesse dar o suporte estrutural e logístico, uma incubadora. Foi assim que surgiu a parceria entre a Plantem, a startup colaborativa criada pelos amigos, e a empresa Logicalis. A empresa é filial de uma rede britânica que possui plataformas tecnológicas já prontas. Ela fornece softwares que podem ser adaptados para vários tipos de funções. 

Desde o ano passado, a empresa tem cedido um conjunto de software para a startup brasileira. As ferramentas tecnológicas incluídas nos sensores processam os dados e ajudam a interpretar as informações técnicas colhidas em campo. 

“O objetivo de uma empresa é entregar um produto de qualidade. Quando a gente não tem expertise para desenvolver todas as partes do processo, ajuda muito ter um bom parceiro para entregar o produto completo ao mercado. A parceria vem ajudando muito a fornecer dados de forma segura para os agricultores ”, explica Azevedo.

O investidor não recebe nenhum pagamento ao longo do desenvolvimento da startup, mas garante o compartilhamento dos resultados quando o produto for aprovado, lançado oficialmente, e o negócio decolar no mercado.

“O nosso papel é manter tudo funcionado e dar o suporte estrutural para eles. Tem todo o sentido investir, se levarmos em consideração que o agronegócio brasileiro ainda precisa de muita tecnologia, mas é muito promissor. É assim que estamos registrando um crescimento de 30% ao ano do nosso negócio”, analisa Eduardo Terzariol, diretor da Logicalis, que está há 11 anos no mercado brasileiro e já possui mais de 300 clientes no país. 

Instalado em Ribeirão Preto, o Supera Parque de Inovação e Tecnologia, uma das maiores incubadoras do Brasil, atualmente abriga 12 empresas de negócios, 8 aceleradoras de startups e 49 empresas de base tecnológica. A unidade ocupa mais de 150 mil metros quadrados num campus da Universidade de São Paulo, e conta com associação de arranjo produtivo, um polo industrial de software e um centro de negócios.  Supera Parque de Inovação e Tecnologia funciona como incubadora de startups de várias partes do Brasil. (Foto: divulgação) Criando uma startups

Nesta segunda-feira (06/04), um evento no Hub Salvador, Centro de Inovação Municipal, vai ensinar como criar startups. Representantes de universidades, organizações não-governamentais e donos de startups vão dar dicas sobre o desenvolvimento de negócios e apresentar os recursos disponíveis na cidade. 

“Essa é uma grande oportunidade de pessoas que estão iniciando ou querem fazer parte desse ecossistema poderem dar o primeiro passo, além de interagir com investidores locais e aceleradoras, e saber como funciona um espaço de inovação como o Hub Salvador”, afirma o diretor de parceria público-privada da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo, Gustavo Menezes. O evento vai ser realizado das 18h30 às 20h, no Hub que fica no bairro do comércio.

Agtechs: * Digital Farms: Aplicativo da AgroHúngaro pelo qual o produtor rural tem acesso diário a mapas de satélite, filtrados por um sistema que fornece informações precisas sobre sanidade e uso racional de fertilizantes e defensivos.    * GoFarms: Aplicatico faz o gerenciamento da propriedade rural e das atividades dos trabalhadores rurais, com foco na gestão das pessoas.   *SeeTree: Startup israelense que usa drones e inteligência artificial para ajudar agricultores a otimizar a produtividade das árvores da propriedade.

  *Agroinova: Startup da área de gestão animal. Entre os produtos, oferece o aplicativo Qfish, uma software gratuito que auxilia os produtores a verificar a qualidade da água usada na psicultura.     * Fazenda Aberta: Plataforma de compra, venda e arrendamento de imóveis rurais.   *Inceres: Plataforma com ferramentas voltadas para agricultura digital de precisão. Entre outros dispositivos inclui imagens de satélite da lavoura. Monitora plantações de milho, soja, cana, feijão, citros e algodão..