Suíço e brasileira se casam no Carnaval em cima de trio de Durval Lélys

Atualmente morando em Singapura, a mais de 15 mil quilômetros de Salvador, casal reuniu amigos e parentes para curtir o bloco Me Abraça

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 25 de fevereiro de 2020 às 21:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Hilza Cordeiro/CORREIO

Pedido de casamento no Carnaval de Salvador é tão comum que já faz parte do script, todo mundo espera por um. Mas, neste ano, um casal resolveu fazer diferente. Érika e o suíço Marcel, juntos há quase quatro anos, conseguiram convencer uma juíza de paz a realizar a festa de casamento deles em cima de um trio. De acordo com o cartório, tudo indica que o feito, com direito a abadá, véu, grinalda e papel passado pode ter sido inédito.

Debaixo do sol de verão, Christiane, prima da noiva, subia e descia do trio organizando os detalhes. Era segunda-feira de carnaval e o casamento estava marcado para 16h30, na concentração do bloco Me Abraça, puxado por Durval Lélys. Posicionado no circuito Barra Ondina, na curva do Hospital Espanhol, o trio tinha previsão de sair às 18h. 

Enquanto Érika não chegava, amigos e parentes do casal contavam os detalhes da história de amor dos dois e os motivos por trás desta ‘loucura’. Segundo o pessoal, Marcel Brust alugava o apartamento da irmã de Érika Silva em São Paulo e, recém-divorciado, o inquilino andava meio tristinho. O gringo comentou que estava a fim de conhecer pessoas e então Ivy Borba, a amiga coviteira, o convidou para o aniversário dela num bar.

Pronto, foi a deixa. Ali o casal começou a desenvolver o sentimento e, quatro meses depois, Érika trouxe Marcel para conhecer a folia soteropolitana, na qual ela marca presença há mais de dez anos.“Ela levou logo para fazer o teste, né? Porque se ele não gostasse, não ia rolar”, brinca Christiane. O negócio é que o gringo ficou encantado com a festa.Em 2017, o casal saiu no Camaleão e no Me Abraça e, mais tarde, na sacada do hotel, enquanto viam o carnaval passar na avenida, Érika sugeriu: — A gente podia se casar em cima do trio. Quem disse que Marcel fugiu? Colou na corda e comprou a ideia maluca na mesma hora. 

Mas não foi fácil. Christiane explica que os cartórios não queriam realizar o enlace no local inusitado e a produção do bloco achou a logística complicada demais. “Foi difícil convencer, né? Porque não é todo mundo que faz essas doideiras”, conta ela. Por fim, o Cartório de Nazaré foi o único que topou a façanha. “O cartório de registro civil existe para realizar sonhos, seja o do nascimento ou do casamento. Casar no carnaval requer uma logística diferente, precisa trazer com segurança os documentos oficiais, deslocar funcionário, pensar em como estacionar, andar no meio da multidão, mas vale a pena realizar o desejo dos noivos”, disse a juíza de paz Camila Castro, que acredita que esse é a primeira oficialização do tipo feita em cartório.E foi ali, no quadradinho da frente do trio, com vista para o Farol da Barra, que Érika e Marcel concretizaram sua loucura de amor e ouviram de Camila: “Em nome da lei, eu os declaro casados”. 

Ironicamente, mesmo a bordo de um trio, o pessoal precisou providenciar uma caixinha de som portátil para que a juíza pudesse fazer o proferimento. Ao fim, embalados por músicas de Durval Lélys, os pombinhos se abraçaram e se emocionaram. “A energia da Bahia fez com que a gente quisesse fazer o nosso casamento aqui”, disse Érika. Com as canções de Durval na ponta da língua, Marcel disse que quando conheceu a alegria do carnaval quis transportá-la para a festa deles. Depois do casório, o objetivo era seguir o trio e aproveitar até o fim do circuito.“A Érika sempre quis que a família e os amigos conhecessem o carnaval de Salvador e queria fazer uma festa com a cara deles, para que todos curtissem realmente o momento”, explica a prima. Enquanto os noivos usavam os trajes tradicionais de casamento, os convidados estavam todos de abadá do bloco. Para aguentar o calor, Érika escolheu um vestidinho curto, rasteirinha e buquê com fitinhas do Bonfim. Ele, bermuda e colete. Nas roupas de ambos, o destaque era o símbolo do Me Abraça apregoado. 

Atualmente, ambos moram em Singapura, no sul da Malásia, a mais de 15,6 mil quilômetros de Salvador. Ele é diretor de uma empresa e ela trabalha com importações. Apesar da distância, eles conseguiram trazer cerca de 25 convidados de São Paulo, Suíça e Romênia para apresentá-los ao carnaval. Com três nacionalidades a bordo, era quase um Trio de Babel. A princípio, a galera tinha ficado assustada, mas acabaram curtindo a ideia. 

Mestres da arte da relojoaria, os suíços inclusive viraram piada. Como o casamento estava marcado para às 16h30, os convidados brasileiros começaram a brincar se o horário válido era nos relógios daqui ou de lá. “Você sabe, aqui a gente marca 16h para começar 17h”, riu um amigo. No país suíço a pontualidade é levada a sério, mas, ironicamente, os brasileiros acabaram chegando primeiro.