Sumiço de chave de fenda motivou morte de irmãos em Dom Avelar

Filho de vítima nega invasão a oficina de suspeitos; enterro foi nesta terça

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  • Tailane Muniz

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 20:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO
Tio das vítimas, Juraci Cruz clamou por justiça por Almiro Lopes/CORREIO

Assassinados na porta da casa dos pais, na manhã desta segunda-feira (12), no bairro de Dom Avelar, em Salvador, os irmãos Marcos Antônio Cruz de Souza, 43 anos, e Clóves Cruz de Souza, 49, sequer tiveram tempo de se defender.

Baleados pelas costas, eles morreram ali, na Rua dos Franciscanos, onde nasceram e foram criados. Já o irmão caçula, Rodrigo Cruz de Souza, 35, que acompanhava os dois e também foi baleado, passou por cirurgia e continua sedado no Hospital Geral do Estado (HGE).

Suspeitos da autoria do crime, os mecânicos e também irmãos Carlos Luís, 22, Luís Carlos, 26, e Alan Menezes dos Santos, 30, foram motivados pelo sumiço de uma de suas ferramentas de trabalho. Conforme o aposentado Juraci Souza Cruz, 48, tio das vítimas, os irmãos – vizinhos da família das vítimas há mais de 30 anos –, deram falta de uma chave de fenda."Eles pegavam coisas com os meninos, e meus sobrinhos pegavam ferramentas com os três. Eles acusaram o filho de Marcos de entrar na oficina e roubar uma chave, mas ele nega", afirmou ao CORREIO.Embora tivessem uma boa relação com Clóves, Marcos e Rodrigo, que também eram mecânicos e proprietários de outra oficina na mesma rua, Alan tinha fama de brigão. Logo após dar falta do objeto, chamou os irmãos e, segundo Juraci, espancou o filho de Marcos - um jovem de 20 anos, que nega o furto.

Procurada pelo CORREIO, a Polícia Civil informou que ainda não tem pistas sobre o paradeiro dos suspeitos.  Luís Carlos, Alan e Carlos Luís são procurados pela polícia (Foto: Divulgação/SSP-BA) Comoção A motivação do crime é o que menos importa, ao menos para o agente financeiro Clóves Filho, 23, que leva o mesmo nome do pai morto. "Ontem (segunda) eu já não estava acreditando, mas parece que hoje tudo está pior. Eu escolhi a roupa, ajudei a vestir ele no IML, coisas que nunca pensei que fosse passar. É como se a ficha não caísse nunca", afirmou o jovem.A revelação ocorreu durante o sepultamento de pai e tio, na tarde desta terça-feira (13), no Cemitério Bosque da Paz. Cerca de 200 pessoas, entre amigos e familiares, foram prestar as últimas homenagens às vítimas.

Mãe dos irmãos mortos, a aposentada Creuza de Souza, 67, chegou a entrar na capela mas, após passar mal, precisou ser levada até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região.

O mesmo quase aconteceu com a irmã dos mecânicos, a auxiliar de serviços gerais Andreia Cruz, 39. Amparada por outros familiares, ela chorou durante o cortejo fúnebre. "Volta, Marquinhos! Volta, Cói", repetia ela, que precisou ser medicada durante a cerimônia.

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Quem também não escondeu a tristeza foi a ex-esposa de Clóves. Separada do mecânico há mais de dez anos, a autônoma Renilda Oliveira, 40, tem agora a missão de cuidar sozinha dos dois filhos, frutos do casamento que durou 11 anos."A lembrança que fica é a do pai excelente que ele foi, desde sempre. Era um rapaz muito tranquilo, atencioso e presente. Não há nada que explique, é realmente muito difícil falar nesse momento de despedida", comentou Renilda. Clóves (à esquerda) e Marcos foram mortos em frente à casa dos pais (Foto: Reprodução) Premeditação "Eles foram pra matar. Eles bateram no filho do meu sobrinho e eles é que foram tirar satisfação. Mas a ideia era matar os três e quem mais tivesse na hora. Fizeram tudo de caso pensado, limparam a casa. Levaram a mãe, a irmã, os móveis e deixaram apenas o cachorro", completou Juraci Cruz.

Sem se identificar, um morador da Rua dos Franciscanos afirmou à reportagem ter presenciado o crime. Segundo a testemunha, Clóves e Marcos já caíram mortos, um de cada lado.

"Eu não sei dizer, ao certo, se os três estavam armados, não vi bem. Mas estava na hora, eu saí de perto pra não ficar na frente", contou o homem, acrescentando, ainda, que os suspeitos estavam em duas motos.

Depois do crime, entretanto, um carro foi usado na fuga, afirmou a testemunha.

O tio das vítimas chegou a afirmar que a perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) encontrou, na casa dos suspeitos, distintivos falsos. A informação, no entanto, não foi confirmada pela Polícia Civil.