Superfungo: idosa que morreu em hospital é o segundo caso de Candida auris em PE

Anúncio foi feito pela Secretaria Estadual de Saúde na tarde desta quinta-feira (13)

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Publicado em 14 de janeiro de 2022 às 08:56

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Diego Nigro / JC Imagem

Pernambuco tem o segundo caso confirmado de Candida auris, superfungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares. Por isso, ele é um dos que mais ameaçam a saúde pública no mundo. A confirmação, divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) na tarde desta quinta-feira (13), foi feita a partir de análise laboratorial feita pelo Laboratório Especial de Micologia da Escola Paulista de Medicina (Lemi-Unifesp). Trata-se da mulher de 70 anos, admitida no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife, no dia 24 de novembro de 2021 por questões neurológicas. Ela esteve internada em terapia intensiva (UTI) na unidade e teve o exame de urina sugestivo para o fungo no dia 30 de dezembro do ano passado. "Ela estava colonizada pelo micro-organismo (Candida auris), porém não apresentou infecção por ele - o exame de hemocultura não tinha a presença do fungo. Ela foi a óbito no último dia 5 de janeiro por problemas provocados pelo seu diagnóstico de entrada na unidade hospitalar", informa a SES.

Essa é a terceira morte de paciente com Candida auris no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o primeiro caso positivo do superfungo no Brasil foi notificado no dia 7 de dezembro de 2020, isolado em uma amostra de ponta de cateter de paciente que estava num hospital de Salvador. Esse foi o primeiro de um surto de 15 casos, com duas mortes. A cidade de Salvador também registrou o segundo surto de Candida auris no País, em dezembro de 2021. Os casos do Recife são, então, o terceiro surto detectado no Brasil.

Na manhã da quarta-feira (12), a (Anvisa) já havia divulgado o primeiro caso confirmado para o fungo, em um homem de 38 anos. Ele foi admitido na emergência de traumatologia do Hospital da Restauração no dia 21 de novembro de 2021, recebeu assistência e, segundo a SES, evoluiu para cura, com alta no dia 30 de dezembro. "O homem estava colonizado pelo fungo. Ou seja, foi feita a identificação da suspeita do micro-organismo por meio de um exame de urina de rotina no hospital. Contudo, não havia infecção provocada por ele", explica a secretaria.

A Anvisa esclarecer que, apesar de, no momento, haver só dois casos confirmados no HR, pode-se considerar que há um surto de Candida auris. "A definição epidemiológica de surto abrange não apenas uma grande quantidade de casos de doenças contagiosas ou de ordem sanitária, mas também o surgimento de um microrganismo novo na epidemiologia de um País ou até de um serviço de saúde", diz a agência.

Em Pernambuco, há ainda um terceiro caso em investigação. Trata-se de um homem de 46 anos, também admitido pela emergência de trauma do HR, no dia 13 de dezembro de 2021. "Está em UTI e sem sintoma relacionado à infecção pelo fungo. O exame laboratorial sugestivo da unidade hospitalar saiu na última terça-feira (11). Essa amostra será analisada pelo Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), além do Lemi-Unifesp.

O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. "Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada", frisa.

O maior problema relacionado ao fungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo. Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas. Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.

O infectologista Arnaldo Lopes Colombo, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e referência nacional em contaminação com fungos, informa que o tratamento da Candida auris é feito com antifúngico. "O único problema é que é um micro-organismo com capacidade de persistir no ambiente hospitalar por muito tempo. Se não forem instituídas medidas de desinfecção adequada, o fungo pode colonizar esses pacientes por tempo prolongado e se tornar resistente a medicações", alerta o médico.

A Secretaria de Saúde de Pernambuco informa que a Coordenação Estadual de Prevenção e Controle de Infecção de Pernambuco (CECIH-PE), ligada à Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), apoia o HR desde a identificação do primeiro caso suspeito, a fim de evitar novas contaminações pelo micro-organismo. Foi realizada visita técnica e atualmente permanece no monitoramento das atividades. "Para isso, houve capacitação com a equipe multiprofissional do serviço e foi criado um plano de ação para reforçar as medidas de prevenção e controle, com higienização (limpeza e desinfecção) dos ambientes, higienização das mãos, monitoramento sistemático de contactantes, a partir de cultura de vigilância, e isolamento dos casos suspeitos", diz a SES.