Tambor Soledade: narrativas misturam história e memória

Não há registros oficiais da sua existência, mas a memória cachoeirana tratou de preservar o seu legado

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 30 de junho de 2017 às 11:03

- Atualizado há um ano

O espaço onde hoje é a Praça da Aclamação se tornou praça de guerra na manhã do dia 25 de junho de 1822. Um ano e poucos dias antes do 2 de julho, iniciava-se a guerra. É nesse momento que, durante bombardeio de uma embarcação portuguesa à população de Cachoeira a partir do Rio Paraguaçu, surge uma figura emblemática: o chamado Tambor Soledade.

Não há registros oficiais da sua existência, mas a memória cachoeirana tratou de preservar o seu legado. Tambor Soledade teria sido um negro responsável pelo toque do tambor das tropas brasileiras, formadas de maneira improvisada por todo tipo de gente local.

“A grande luta em Cachoeira acontece nesse espaço, entre o Rio Paraguaçu e a Casa de Câmara e Cadeia. Repare que não há impedimentos físicos entre esses dois locais. É justamente aí, especialmente na Praça da Aclamação, que se reúne a população. É aí que também estaria o Tambor Soledade”, aponta a historiadora Tamires Costa, da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB).  Quadro do pintor Antônio Parreiras que retrata morte de Tambor Soledade (canto inferior, à direita) - 1931 (Foto: Betto Jr./ CORREIO)A comemoração dos brasileiros pela aclamação de Dom Pedro I e pela vitória na primeira batalha pela independência do Brasil está retratada no quadro O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, de Antônio Parreiras, de 1931. A figura negra de Tambor Soledade, apoiada no seu instrumento, aparece assistida por um oficial do Exército.

Hoje, alguns estudiosos colocam Tambor Soledade até mesmo como um dos comandantes das tropas brasileiras.  “Mas o fato é que por muito tempo ele foi esquecido. Não há registros do seu nascimento ou sequer da sua morte. Tambor Soledade provavelmente era um homem comum, do povo. Sendo negro, não haveria de ter registros sobre sua importância”, completa a historiadora.

A morte de Tambor Soledade, acredita-se, teria inflamado ainda mais a população contra a embarcação portuguesa, que sequer desembarcou seus homens às margens do Paraguaçu. Soledade foi morto pelo resultado de um dos tiros de canhões. “Figuras como o Tambor Soledade são originadas da memória passada de geração em geração. Isso porque o 2 de Julho ultrapassa os limites da história oficial. São narrativas que fazem um diálogo entre história e memória”, concorda o professor Fábio Abelha.

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