Tancredo Neves tem maior número de casos de estupro em Salvador; saiba como denunciar

Para quem sofreu violência sexual, o ideal é que o primeiro passo seja ir à delegacia mais próxima e, se possível, sem tomar banho

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  • Thais Borges

Publicado em 27 de maio de 2016 às 12:46

- Atualizado há um ano

Em Salvador, a maior parte dos estupros é registrada em bairros periféricos. A Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) de Tancredo Neves ocupa o primeiro lugar em registro de estupros, de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA). 

De janeiro a dezembro de 2015, foram 79 casos na região. A Aisp engloba 21 bairros e conta com quatro companhias da Polícia Militar, além de uma única delegacia: a 11ª Delegacia (Tancredo Neves). Em toda a cidade, no ano passado, foram 531 ocorrências, ainda segundo a SSP-BA. 

Isso não quer dizer que a maior parte das vítimas seja realmente moradora de bairros periféricos. Para a coordenadora do Viver, serviço estadual que atende vítimas de violência sexual no estado, Dayse Dantas, o silêncio das vítimas - e a consequente subnotificação - está relacionado também à questão econômica. "A pessoa com poder socioeconômico maior pode se calar e buscar o tratamento e o acolhimento, principalmente o psicológico e o de saúde, de outras formas". Mapa dos estuprosDo total de casos em Salvador no ano passado, 116 ocorrências podem ser conhecidas no mapa do especial O Silêncio das Inocentes, publicado pelo CORREIO no ano passado. No trabalho de reportagem, que durou quatro meses, foram percorridas todas as 16 delegacias de Salvador, além das duas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams, em Brotas e em Periperi), da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Derca) e da Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). No mapa de O Silêncio das Inocentes, há 116 ocorrências de estupro do ano passado | Imagem: ReproduçãoReunindo também casos que foram noticiados — com maior ou menor repercussão — o CORREIO catalogou casos de estupro por localidade, data e principais circunstâncias. Para preservar a privacidade das vítimas, foram omitidos seus nomes, assim como de seus algozes, em todas as ocorrências mapeadas. É possível também fazer sua própria denúncia. Ainda como parte do especial O Silêncio das Inocentes, o CORREIO firmou, no ano passado, uma parceria com a campanha Chega de Fiu Fiu, da ONG Think Olga, uma das maiores referências no Brasil na luta contra a violência contra a mulher. Desde dezembro, o mapa da Chega de Fiu Fiu, que reúne mais de 2,9 mil denúncias de assédio sexual no país, fornecidas pelas próprias vítimas, já pode ser acessado no www.correio24horas.com.br/chegadefiufiu.É possível fazer sua denúncia no mapa da Chega de Fiu Fiu | Imagem: ReproduçãoO CORREIO é o primeiro veículo de comunicação com quem a campanha realiza parceria. No mapa, que está no ar desde 2013, há relatos de vítimas de todo o Brasil. Em Salvador, há denúncias em cerca de 40 bairros, como Barra, Paripe, São Marcos e Cajazeiras.

Como fazer uma denúnciaMas, se você sofreu uma violência sexual, o ideal é o que o primeiro passo seja ir a uma delegacia — de preferência, a mais próxima e, se possível, sem tomar banho, para facilitar a coleta de vestígios do agressor. Também é possível registrar a ocorrência em uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Em Salvador, há duas unidades: uma em Brotas e outra em Periperi.

Da delegacia, as vítimas serão encaminhadas para fazer um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), nos Barris. Trata-se de um exame ginecológico, em que é feita a coleta de material para verificar se há sêmen em algum local do corpo da mulher. E, em alguns casos, também é feito um exame de sangue. Lá dentro, desde março de 2015, o exame — assim como qualquer outro tipo de avaliação médica necessária — é feito em um cômodo específico do IML: a Sala Lilás. Entre as paredes plotadas nessa cor, símbolo do feminismo e da igualdade, o objetivo é dar mais privacidade e causar um pouco menos de desconforto às vítimas. Na sala lilás, mulheres vítimas de violência sexual fazem o exame de corpo de delito. Homens adultos não podem entrar | Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIOComo foi mostrado pelo CORREIO no especial O Silêncio das Inocentes, homens adultos não entram na Sala Lilás. Se algum homem for estuprado, será examinado em outra sala. Qualquer criança, por outro lado, também é recebida entre as paredes feministas. 

Após o exame, a vítima será acolhida no Serviço Viver, que fica lá mesmo, na sede do IML, onde recebe acompanhamento médico, psicológico e jurídico. "Quando chega alguém no Viver que ainda não passou por uma delegacia, a gente estimula e orienta (para evitar a subnotificação). Mas depende muito do estado emocional da pessoa", diz a coordenadora do Viver, Dayse Dantas. 

No especial O Silêncio das Inocentes, é possível conhecer mais sobre como funciona a rede de atendimento à mulher em Salvador e o que acontece após a denúncia. Há também uma lista de endereços com os locais que a vítima pode procurar para receber atendimento.