Tenente-coronel pede desculpas após fala sobre estupro de turista em Itapuã

Ao CORREIO, policial afirmou que piauiense "assumiu o risco" pelo horário

Publicado em 10 de janeiro de 2020 às 18:28

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Maiana Belo/G1 Bahia

O Comando Geral da Polícia Militar da Bahia divulgou nota nesta sexta-feira (10) informando que a declaração do tenente-coronel Eurico Filho Silva Costa sobre o estupro de uma turista em Itapuã está sendo tratada "internamente". "Em nenhuma circunstância, uma vítima deve ser culpabilizada", diz a nota da PM-BA. 

O próprio tenente-coronel, comandante da 15ª Companhia Independente da Polícia Militar (Itapuã), pediu desculpas e disse que não culpa as vítimas pelo crime.

“Peço desculpas se fui mal interpretado pelas minhas declarações. Como policial militar, nunca defendi culpabilização de vítimas. Não seria diferente no caso absurdo envolvendo turistas em Salvador. Meu respeito e total solidariedade às vítimas de uma cruel violência contra as mulheres. Continuarei na trincheira em nome da segurança da sociedade e sendo intolerante contra qualquer tipo de violência”, diz.

A PM destaca em nota que "tem como missão cuidar das pessoas e, para isso, realiza o policiamento ostensivo com o objetivo de prevenir o cometimento de crimes".

"Risco" Ao CORREIO, mais cedo, o comandante avaliou que o compartamento da vítima contribuiu para o crime. "Foi um comportamento de risco. O que uma pessoa vai fazer numa praia deserta das 19h às 23h, quando ocorreu estupro? Vai fazer o quê?  Ela assumiu o risco", declarou ele ao CORREIO, na manhã desta sexta-feira (10).A turista e o namorado foram surpreendidos por dois criminosos quando caminhavam na praia. O autor do estupro se apresentou na 12ª Delegacia (Itapuã) nesta manhã e foi levado para a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde está preso. Já o comparsa dele está internado no Hospital Geral do Estado (HGE), após ter sido espancado por populares durante um assalto no bairro de Sussuarana.

Ainda em entrevista, o coronel Eurico Costa pontuou ainda que a Polícia Militar não pode ser responsabilizada pelo que aconteceu com o casal. "Trabalhamos constante na região, mas não temos efetivo para garantir a segurança somente daquelas pessoas que estavam naquele horário, num local onde não havia ninguém", opinou o coronel.

Ainda segundo o militar, o comportamento do casal foi de risco e, portanto, eles devem assumir as consequências. "O casal teve um tipo de comportamento que não podemos nos responsabilizar. Se um carro trafega a 200 km/h, o motorista assume as consequências, o risco de bater, capotar. Foi a mesma coisa que aconteceu".Relembre o crime Dois turistas do Piauí foram abordados e ameaçados por dois criminosos. "Eu só pensava que ia matar a gente. Ele disse que estava doido para matar gente", disse o homem em entrevista à TV Bahia. As identidades das vítimas foram preservadas.

O rapaz relatou ainda que estava andando com a namorada, quando os dois resolveram sentar numa pedra. Nesse momento, foram abordados. 

"A praia estava cheia, mas começou a esvaziar. Depois, dois homens chegaram por trás dizendo: 'É assalto, é assalto! Você é polícia, passa tudo'. Ele perguntou onde estava minha carteira e eu disse que estava no hotel. Então, ele mandou que eu fosse no hotel pegar o dinheiro e disse que se eu não voltasse, ele mataria a minha namorada. Quando eu saí, ao invés de ir para o hotel, fui para delegacia", contou o homem, que já tinha visitado Salvador anteriormente.

A moça que pela primeira vez passeava por Salvador, está traumatizada e nunca mais pretende voltar. Ela contou que ainda tentou alertar que estava em período menstrual para evitar o estupro, sem sucesso."Ele me levou para trás de uma pedra e me estuprou. Depois, quando viu as luzes da viatura da polícia, ele me puxou pelo braço e disse que era pra eu fingir que éramos um casal e começou a correr. Eu não pude correr porque comecei a ficar com falta de ar, tenho asma. Ele pegou na minha mão e disse que se eu tentasse alguma coisa que iria me matar. Então, ele foi andando, parou em um condomínio e pediu água para mim na portaria", completou.A jovem só conseguiu fugir após o criminoso deixá-la sozinha em uma rua, com a promessa que retornaria em meia hora para buscar o dinheiro que o namorado dela teria ido buscar. "Aproveitei e fugi. Fui me escondendo atrás dos carros, suspeitava que ele estava me vigiando", disse.

A jovem chegou a retornar ao condomínio onde o bandido pediu água para ela e pediu ajuda ao porteiro, que disse que nada poderia fazer. Depois, caminhou até um hotel, onde uma recepcionista chamou um táxi. "Eu voltei pro meu hotel, encontrei meu namorado e então fomos para delegacia para registrar o caso", relatou.

Após o crime, a mulher foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itapuã, onde também cuidou de ferimentos nos joelhos, e depois foi levada para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para fazer exame de corpo de delito.

O casal prestou queixa em três delegacias: a de Itapuã, a do Turista, que fica no Centro Histórico de Salvador, e na Central de Flagrantes, na região do Iguatemi.

Suspeito se entrega Um dos suspeitos de participar do crime  se entregou à polícia na manhã desta sexta-feira (10). O homem, que não teve o nome divulgado, se apresentou na 12ª Delegacia Territorial (Itapuã) na companhia de um advogado.

O suspeito de estupro foi levado para a Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde prestou depoimento à delegada Marita Souza. Já o segundo segue sendo procurado pela Polícia Civil, responsável pela investigação do caso. Ele confirmou o assalto, mas negou que tenha estuprado a turista. O suspeito foi liberado após ser ouvido. A delegada vai solicitar a prisão.

O nome do suspeito não será divulgado pela polícia. Isso porque a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou nesta sexta-feira (10)  que, em cumprimento à Lei13.869/19, não haverá apresentações de presos, assim como a divulgação de nomes e fotos de pessoas capturadas. A lei foi sancionada em setembro do ano passado.