'Tenho orgulho de ser negra', diz auxiliar administrativa que sofreu ataque racista

Ela registrou a ocorrência na 11ª Delegacia (Tancredo Neves)

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 4 de julho de 2018 às 15:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: Suilan sofreu ataques racistas no Facebook (Foto: Marina Silva/CORREIO)

A auxiliar administrativa Suilan Guedes, 31, nunca tinha sofrido com racismo na vida. Nunca imaginou que passaria pela violência que viveu na última terça-feira (3), quando sofreu ataques racistas em um ambiente virtual. “Estou muito decepcionada com o ser humano, por saber que ainda existem pessoas com esse tipo de raciocínio”, desabafou Suilan, em entrevista ao CORREIO, nesta quarta-feira (4). 

Foi nesta quarta-feira que ela registrou um boletim de ocorrência na 11ª Delegacia (Tancredo Neves). “Eu não dormi a noite toda. Gente, no mundo que a gente vive, será que ainda tem pessoas que pensam dessa forma? Somos todos seres humanos, somos iguais. Para mim, é uma pessoa desequilibrada”, começou a dizer, antes de narrar a situação. 

O caso aconteceu no Facebook. Há uma semana, Suilan começou a fazer parte de um grupo fechado – com mais de 42 mil membros de todo o Brasil –, destinado a pessoas que gostam de cães da raça Pinscher (o ‘Apaixonados por Pinscher’). Como a maioria das comunidades do tipo, o grupo tem regras. Uma delas é de que nenhum membro pode pedir ou fazer doações de animais. 

“Começou com uma menina perguntando quem podia doar um Pinscher tamanho zero e duas administradoras (da comunidade) começaram a humilhá-la. Eu e outras pessoas achamos desnecessário e falei que aquilo era ignorância, que elas deveriam ter educação e que líderes não deveriam criar polêmica”, relata. 

A discussão continuou e as duas administradoras continuaram a respondê-la. Suilan escutou que era elas conheciam pessoas “de seu tipo”. Diante da briga, ela preferiu saiu. Abandonou o grupo. 

O que ela não esperava era que as duas administradoras fossem até sua página pessoal mandar mensagens individuais. Uma mulher, identificada como Amora, foi quem teria escrito as mensagens com teor racista.  A mulher mandou mensagens para o perfil pessoal da vítima (Foto: Reprodução) "Animal de pelo... Fugiu antes de eu responder? Macaca horrorosa... Do na sua cara porra louca (sic)", escreveu a mulher.Ela continuou com as ofensas. "É mulher p latir e correr ne porque não esperou a resposta... Se olha no espelho e ve se escureceu. Ips. Sim, escureceu... Se enxerga coisa feia...", afirmou a mulher, que ainda publicou uma foto de Suilan.  Suilan mostra as ofensas que recebeu (Foto: Marina Silva/CORREIO) Crime Nesse momento, a auxiliar administrativa desabou. Ela, que estava ao lado do filho Guilherme, de 9 anos, não conteve o choro. “Fiquei muito chateada, mas, ao mesmo tempo, estou bem, porque tenho orgulho de ser negra, tenho orgulho da minha matriz e não me deixo abalar com isso. Mas vou tomar as medidas cabíveis porque hoje fui eu, amanhã pode ser outra pessoa. Quero que as pessoas não se intimidem com isso, porque é crime”, disse. 

A primeira coisa que Suilan fez foi ligar para o Disque Denúncia. No canal do serviço, soube que era possível rastrear Amora – que ela não sabe onde mora nem se esse é seu nome verdadeiro. Os atendentes também recomendaram que ela procurasse uma delegacia, como fez. 

O filho, que viu o desconforto da mãe, perguntou o motivo da ofensa. Suilan respondeu que a moça – a agressora – era desequilibrada. E reforçou, para a criança, que todas as pessoas são iguais. “Disse que não quer que ele fale nunca isso para ninguém, nem de brincadeira, porque o que ela fez é muito feito. Eu disse que ia expor o que aconteceu para o mundo para que as pessoas saibam que ainda existem pessoas desse tipo. Atrás dela, tem milhares, mas eu tenho que parar pelo menos ela para que não faça isso com mais ninguém”. O caso foi registrado na 11ª Delegacia como injúria racial. A injúria racial está prevista no Código Penal, que define a pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência. O delegado titular da unidade, Thiago Pinto, não foi localizado para comentar o caso.