Terreiros fazem petição e pedem que ataque à Pedra de Xangô seja investigado

Documento também pede ao órgão a criação de uma unidade de conversação do espaço

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  • Nilson Marinho

Publicado em 2 de janeiro de 2019 às 13:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Após denunciarem um ataque à Pedra de Xangô, localizado no bairro de Cajazeiras, os frequentadores de terreiros vão encaminhar ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), nesta quarta-feira (2), uma petição cobrando da justiça a apuração do caso e a criação de uma unidade de conservação do espaço, considerado sagrado para as religiões de matriz africana.

Na manhã desta quarta, a comunidade religiosa esteve no local para um ato simbólico para recolher assinaturas e iniciar a petição. Ao todo, 18 pessoas contribuíram com o documento, que será encaminhado para o Núcleo de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural (NUDHEPAC) do órgão.

No último dia 29 de dezembro, de acordo com a comunidade religiosa, foram encontrados ao redor da pedra cerca de 100 quilos de sal. O ataque, feito no dia anterior, foi considerado por eles como uma represália dos evangélicos aos rituais que acontecem no local. Nesta terça-feira (1º), houve um novo ataque. Ainda segundo o povo de santo, em abril do ano passado, foi encontrada uma quantidade muito maior do mineral, cerca de 200 quilos. Grande quantidade de sal foi encontrada ao redor da Pedra de Xangô; povo de santo acusa evangélicos (Foto: Raquel Miranda/Leitora/CORREIO) Petição No documento, requerido pelo grupo de trabalho externo de implantação do Parque em Rede da Pedra de Xangô, Área de Proteção Ambiental (APA) Municipal Assis Valente, e por representantes das comunidades de terreiros de Salvador, os denunciantes afirmam que "bandidos jogaram centenas de quilo de sal na Pedra, elemento que, para os evangélicos - sobretudo entre as práticas pentecostais -, tem o poder de 'queima', procedimento que, segundo eles, deve gerar uma espécie de purificação". "Estamos lutando pela urbanização dessa área porque temos, principalmente nos períodos de feriados, a questão de invasões. Outra coisa que também pedimos, desde o tombamento da Pedra, em 2015, é a implantação de câmeras de segurança. Esse momento tem um significado maior pela total falta de respeito e intolerância", disse a iyaegbé do Terreiro Oxalufá Sônia Silva.Após o ataque, segundo Baroci, pai do terreiro Ilê Axé Odé Atiya Re, o local passou por um ossé - rito de limpeza e renovação que, dentro dos terreiros de candomblé, são feitos na casa dos orixás. No entanto, na terça-feira (1°), foi encontrada uma nova quantidade de sal espalhada ao redor da Pedra, dessa vez, em quantidade menor.

Policiamento e orientação De acordo com a Polícia Militar, a patrulha na área onde está localizada a pedra é realizada de forma diurna pela 3ª (CIPM/Cajazeiras). "As equipes realizam blitz e abordagens preventivas. As ações policiais contam com o reforço de guarnições da Companhia Independente Tático (CIPT) Rondesp Central e do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) da unidade", informou através de nota. 

A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) informou também que o Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela não foi acionado diretamente sobre o caso "mas coloca sua estrutura à disposição para ajudar no combate aos ataques". A pasta oferece, inclusive, um serviço de orientação jurídica e acompanhamento para esses tipos de episódio.

"A Sepromi repudia a prática de intolerância contra o monumento, que é considerado sagrado pelas religiões de matriz africana. Casos do tipo podem ser denunciados presencialmente no Centro Nelson Mandela, que fica localizado na Avenida Manoel Dias da Silva, 2.177, no bairro da Pituba, em frente à Praça Nossa Senhora da Luz. O telefone é o 3117-7448", orientou a Sepromi. 

O prefeito ACM Neto disse, durante a inauguração da nova Avenida Mãe Stella de Oxóssi, que vai ligar as avenidas Luiz Viana Filho (Paralela) e Carybé à Orla de Stella Maris, que há um projeto de implantação de um parque na região onde está localizada a Pedra de Xangô. 

“A gente vai implantar um parque ali. Os estudos já estão bem avançados, eu já vi inclusive um anteprojeto. Vai mudar aquela parte viária de Cajazeiras. Lembrando que já tombamos a Pedra de Xangô", explica Neto."Com a implantação do parque, a gente leva ocupação, leva  pessoas para dentro, leva alternativa, inclusive de lazer, para a região. É dessa forma que nós estimamos que os problemas de violência venham a reduzir”, completa. *Colaboraram Vinícius Nascimento e Yasmin Garrido

**Sob a supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier