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Todos os rebaixamentos dos times baianos no Campeonato Brasileiro


 

Será que vão escapar dessa vez?

Publicado em 16/01/2021 às 06:01:00
Atualizado em 23/05/2023 às 12:45:12
. Crédito: Montagem em fotos de Giuliano Gomes/Estadão Conteúdo e Arisson Marinho/CORREIO

A temporada 2020 do futebol brasileiro, que invadiu 2021 por causa da pandemia do novo coronavírus, vai chegando ao fim de uma maneira indesejada para os times baianos. A nove rodadas do término da Série A do Campeonato Brasileiro, o Bahia está na zona de rebaixamento, em 17º lugar. Faltando quatro para o final da Série B, o Vitória entrou no Z4 após o início da 35ª rodada, em que o Figueirense ganhou do Brasil de Pelotas. O Leão caiu para 17º, porém ainda entrará em campo no domingo contra a Chapecoense, no Barradão.

Por causa disso, relembramos as campanhas em que algum representante baiano lamentou o descenso. Já aconteceu quatro vezes com o tricolor e seis com o rubro-negro, além de uma com a Juazeirense.

A fórmula com acesso e rebaixamento no molde tradicional foi inaugurada na edição de 1988. Antes, o Brasileirão de 1982 foi embrionário nesse aspecto ao prever a queda dos últimos colocados de cada grupo da Taça de Ouro para disputar a Taça de Prata (segunda divisão) na mesma temporada. O Vitória foi um desses times. O acesso também acontecia no mesmo ano, com os melhores da Taça de Prata entrando no decorrer da Taça de Ouro.

Não é pelo Brasileiro, mas a imagem tem grande valor histórico. É o primeiro jogo oficial no Barradão, meses após o rebaixamento, em 1991: Vitória 4x0 Serrano no dia 15 de setembro (Foto: Antenor Pereira/CORREIO) 1991 (Vitória)

A primeira vez que um time baiano acabou rebaixado no Brasileirão foi em 1991, o Vitória. O campeonato tinha 20 clubes, mas com fórmula de disputa diferente da atual. Após um turno em pontos corridos, os quatro melhores classificavam para as semifinais e os dois piores eram rebaixados. O Vitória, que ganhou apenas três partidas, empatou seis e perdeu dez, caiu junto com o Grêmio, que ficou à frente só por causa do saldo de gols.

Naquela temporada, o nacional foi disputado no primeira semestre, portanto, meses antes da reinauguração do Barradão, que aconteceu em agosto com um amistoso contra o Olimpia, do Paraguai (1x1). O mando de campo rubro-negro era a Fonte Nova.

O elenco tinha o goleiro Ronaldo, o lateral esquerdo Paulo Robson e o meia Dico Maradona, todos campeões brasileiros de 1988 pelo Bahia. E também o zagueiro Agnaldo Liz, o meia André Carpes e o atacante Júnior, artilheiro do time com seis gols.

O choro de William Andem após o empate com o Juventude (Foot: Reprodução/TV Bahia) 1997 (Bahia)

Primeiro campeão nacional da história, com o título da Taça Brasil de 1959, o Bahia conheceu a realidade inversa em 1997, ano do seu primeiro rebaixamento. Após ter se livrado da queda em 1996 na última rodada (1x0 sobre o Flamengo no Rio, gol de Edmundo), em 97 o tricolor não escapou. Precisava ganhar do Juventude na Fonte Nova – além de contar com derrota do Bragantino para o Internacional, o que acabou acontecendo –, mas ficou no empate por 0x0. Na saída de campo, o choro do goleiro camaronês William Andem diante das câmeras foi uma cena marcante. Outros destaques do time eram o zagueiro Fabão, o ponta Zinho e o centroavante Guga.

Naquele ano, também foram rebaixados Criciúma, Fluminense e União São João. O tricolor carioca havia caído em 1996, mas jogou novamente a primeira divisão por causa de uma “virada de mesa” da CBF.

Jogador do Bahia no túnel dos vestiários da antiga Fonte Nova após a goleada para o Cruzeiro em 2003 (Foto: João Alvarez/CORREIO) 2003 (Bahia)

Sabe aquele ditado “além da queda, o coice”? Foi o que aconteceu com o Bahia em 2003. Na estreia da fórmula de pontos corridos na Série A, o Esquadrão terminou como lanterna entre os 24 clubes, com 46 pontos após 46 rodadas – a mesma média de um ponto por jogo que tem na edição 2020. O rebaixamento foi definido na última rodada, quando o time acabou goleado pelo já campeão Cruzeiro por um incrível 7x0 na Fonte Nova. O resultado fez a equipe mineira alcançar a marca de 100 pontos e 102 gols marcados na campanha. E o tricolor amargou a Série B no ano seguinte, assim como o Fortaleza. Destaques do time: o meia Danilo Gomes e o centroavante Nonato.

Pentacampeões do mundo com a Seleção em 2002, Edilson e Vampeta jogavam no Vitória em 2004 (Foto: Antonio Saturnino/CORREIO) 2004 (Vitória)

Vampeta e Cléber Santana no meio-campo, 18 gols de Edilson “Capetinha”, mais 18 de Obina. Semifinalista da Copa do Brasil. Difícil imaginar que um time desse terminou o Brasileirão rebaixado, mas foi. O elenco tinha problemas extra-campo e, embora não seja possível mensurar o quanto isso afetou, na reta final o Leão perdeu as últimas quatro partidas, sendo três delas por goleada (Coritiba 5x1, São Paulo 4x1 e Cruzeiro 4x0) antes da Ponte Preta jogar a pá de cal com placar de 2x1 no Barradão e colocar o rubro-negro na Série B. Também caíram Criciúma, Guarani e Grêmio.

Tetracampeão baiano em 2005, o Vitória terminou o ano rebaixado abraçado com o Bahia do meia Guaru, ao fundo (Foto: Claudionor Junior/CORREIO) 2005 (Bahia e Vitória)

Por essa ninguém esperava, mas aconteceu: Bahia e Vitória foram rebaixados juntos para a Série C, realidade até então desconhecida do torcedor baiano. No caso tricolor, a queda se deu um ano após brigar pelo acesso até o último jogo e ficar no quase por causa de uma derrota para o Brasiliense na Fonte Nova por 3x2. A diretoria então montou um time teoricamente de peso para a Série B 2005, com o trio Uéslei, Viola e Dill no ataque, além do meia Guaru. Mas a badalação no papel não deu liga no campo, e o coletivo naufragou com uma derrota para o Paulista de Jundiaí na última rodada, fora de casa. Curiosamente, pelo mesmo placar de 3x2.

Já a queda do Vitória foi ainda mais retumbante, pois o rubro-negro abriu 2005 conquistando o tetracampeonato baiano, então inédito na história do clube. O time, que tinha o goleiro Felipe, o zagueiro Marcelo Heleno e o meia-atacante Magnum como destaques, chegou à última rodada fora da zona de rebaixamento, e a queda era improvável. Para se ter ideia, restando quatro rodadas, o Vitória só precisava de três pontos para se livrar. Perdeu três jogos e empatou um.

O detalhe é que, na última rodada, além de empatar com a Portuguesa por 3x3 no Barradão, o Leão viu o Paulista ganhar do Bahia, o Ceará vencer o Vila Nova, o Gama bater o Sport na Ilha do Retiro e, para decretar a tragédia, o CRB virar o jogo contra o Criciúma nos minutos finais em Santa Catarina. O rubro-negro terminou em 17º lugar, abrindo a zona de rebaixamento, que naquele ano teve seis clubes. Além da dupla Ba-Vi, caíram Anapolina, União Barbarense, Criciúma e Caxias. O rebaixamento à Série C marcou o fim da primeira 'Era Paulo Carneiro', que era presidente desde 1991.

Vitória tinha Elkeson e Ramon em 2010, quando foi rebaixado diante do Atlético Goianiense (Foto: Robson Mendes / CORREIO) 2010 (Vitória)

Outro ano de sucesso na Copa do Brasil e rebaixamento no Brasileirão, assim como em 2004. Dessa vez, o Vitória chegou à final da competição mata-mata diante do Santos, que acabou campeão. O detalhe é que, na semifinal, o Leão eliminou o Atlético Goianiense com uma goleada por 4x0 no Barradão, em maio.

Quase sete meses depois, o mesmo confronto definiria o futuro dos dois clubes, que chegaram à última rodada da Série A empatados com 42 pontos e ameaçados de rebaixamento. O Atlético estava em 16º lugar e o Leão em 17º porque levava desvantagem no número de vitórias. Portanto, quem ganhasse escapava e rebaixava o outro. Ao fim do jogo, 0x0, e o empate decretou a queda do rubro-negro baiano, que tinha como destaques o goleiro Viáfara e os atacantes Elkeson e Júnior, além do ídolo Ramon Menezes já aos 38 anos.

Ba-Vi pela Série A de 2014; disputa entre Maxi pelo Bahia e Cáceres e Marcinho pelo Vitória (Foto: Betto Jr./CORREIO) 2014 (Bahia e Vitória)

O ano da Copa do Mundo no Brasil foi um 7x1 de tristeza também para tricolores e rubro-negros, que nove anos depois voltaram a chorar juntos um rebaixamento, dessa vez da primeira para a segunda divisão nacional.

A temporada, aliás, começou quente, com o atacante Maxi Biancucchi, um dos destaques do Leão em 2013, trocando o Vitória pelo Bahia. O rubro-negro ainda perdeu o meia Escudero, outro argentino de referência no elenco, que sofreu uma grave lesão no joelho em fevereiro, pela Copa do Nordeste, e só retornou em agosto.

Naquele ano, o Brasileirão foi interrompido após a 9ª rodada para a disputa do Mundial, e a campanha do Vitória não enganou: foi constante na zona de rebaixamento ou próximo a ela tanto antes quanto depois da Copa do Mundo. Deu tempo até para o departamento de marketing planejar a camisa com a estampa “Sou Leão em qualquer divisão” que o presidente Carlos Falcão e outros diretores usaram na entrevista coletiva minutos após a derrota para o Santos por 1x0 no Barradão, na última rodada.

Já o Bahia, que venceu Anderson Talisca para o Benfica na janela de julho, também passou quase toda a competição brigando contra o Z4. O técnico Marquinhos Santos iniciou a campanha, foi trocado por Gilson Kleina em agosto e, já em novembro, faltando um mês para o fim da competição, Kleina e o diretor de futebol Rodrigo Pastana deixaram o clube. O ídolo Charles Fabian assumiu nas últimas cinco rodadas e não conseguiu evitar a queda.

O ambiente no Bahia era conturbado. Em uma ocasião em setembro, o meia Rhayner, barrado de um treino por chegar atrasado, tentou agredir Rodrigo Pastana. Já após a derrota para o Coritiba que decretou o rebaixamento, em dezembro, o desabafo do técnico Charles foi ainda mais forte. “Se você olhar pro banco do Bahia hoje tinha quantos jogadores? Sete. Eu podia trazer 23, mas sabe por que vieram só 18? Porque tem jogador que se encostou no departamento médico e não saiu mais. Pra não vestir a camisa do Bahia, com vergonha de ser rebaixado. Esses são covardes. Tem jogador que não tem nada e todo dia está no departamento médico dizendo que sentiu alguma coisa”. O técnico se recusou a citar nomes, mas a crítica foi endereçada aos irmãos Emanuel e Maxi Biancucchi. Enquanto isso, Fahel e Lincoln pediram para viajar com o elenco mesmo sem poder jogar.

Willian Farias era o capitão do Vitória em 2018 (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) 2018 (Vitória e Juazeirense)

O rebaixamento mais ensaiado da história do Vitória. O clube havia escapado da queda na última rodada em 2016 e em 2017, por isso, não houve surpresa quando caiu em 2018, após o empate de 0x0 com o Grêmio na penúltima rodada. O retrato da sequência de anos conturbados é o acúmulo de trocas de presidentes no período, que teve Ivã de Almeida e seu vice Agenor Gordilho interinamente após sua renúncia, ambos em 2017, e Ricardo David em 2018 - este também renunciaria em abril de 2019, quando Paulo Carneiro foi eleito.

Em campo, esperava-se muito do atacante Neilton, mas o zagueiro Lucas Ribeiro foi o destaque rubro-negro na campanha e acabou vendido ao Hoffenheim no início do ano seguinte (atualmente está no Internacional, emprestado).

A queda transformou o Leão no clube com mais rebaixamentos na Série A na era dos pontos corridos: quatro. Curiosamente, todos foram sacramentados no Barradão, estádio que elevou o patamar do clube nacionalmente. A queda de 2005 também aconteceu lá. A exceção é 1991, que se deu em casa, porém na época o Leão ainda mandava os jogos na Fonte Nova.

O ano de 2018 teve outro representante baiano rebaixado. Foi a Juazeirense, que caiu da Série C para a D. Terminou em 9º lugar entre os 19 times do grupo A. Um ano antes, o Cancão fez história ao ser o primeiro clube baiano a conquistar o acesso para a terceira divisão nacional, feito que o Jacuipense repetiu em 2019. Juazeirense foi rebaixada na Série C em 2018 (Foto: Carlos Humberto/Juazeirense)