'Truculência tirou um pedaço de mim', diz mãe de jovem morta em ação da PM

Corpo da jovem foi enterrado no final da manhã dessa quarta-feira, no Cemitério da Quinta dos Lázaros

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  • Bruno Wendel

Publicado em 30 de outubro de 2019 às 11:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

Os gritos eram escutados à distância. Nem o desabafo mais voraz de Maria Ededilva era capaz de se aproximar da dor que ela sentia. Sentada num banco de cimento na entrada da sala de velório número 2, ela lamentava a morte da filha Beatriz Santos Pereira, 21 anos. "O que fizeram com você, minha filha?", repetia em prantos Maria, enquanto a guardava o cortejo para enterrar o corpo de Beatriz, na manhã desta quarta-feira (30), no Cemitério Quinta dos Lázaros. 

A jovem morreu com um tiro no peito. Anteontem, ela estava dentro de sua casa, no conjunto residencial Parque Bosque das Bromélias, nas imediações da BA-526 (Cia-Aeroporto), quando foi atingida durante uma operação da Polícia Militar. "Minha filha foi assassinada. Não houve troca de tiros como estão dizendo. A polícia matou minha filha. A truculência deles tirou para sempre um pedaço de mim", desabafou Maria, enquanto era amparada por parentes e vizinhos. 

Beatriz era dona de casa e a filha do meio de Maria. Ela foi enterrada depois das 11h30 desta terça-feira (30) e deixou uma filha de 11 meses. " A neném não come desde ontem. Ela é muito apegada à mãe. Não sabemos o que fazer. O que vamos dizer à ela quando crescer ? ", disse uma parente de Beatriz. 

No dia da ação policial, momentos antes de ter sido atingida, Beatriz tinha saído para comprar água, mas retornou para casa às pressas, quando a polícia chegou para conter um protesto de moradores do conjunto. Segundo um parente de Beatriz, ela estava dentro de casa quando um dos policiais disparou em direção à porta. A bala atravessou e atingiu Beatriz. Ele disse que o PM estava a dois metros quando atirou. "Foi à queima-roupa", bradou. Apesar do desabafo,  somente um laudo do Departamento de Policia Técnica (DPT) poderá apontar a distância do disparo. 

Ele disse ainda que a Polícia Militar mentiu quando informou que socorreu Beatriz. "Não é verdade. Nós que a socorremos num carro. Tem vídeo disso. O máximo que fizeram foi abrir o caminho para a gente passar com ela. Até porque, não faz nem sentido eles matarem e depois prestar socorro", declarou. 

Líder comunitária do Parque das Bromélias, Maria Lucienne Lobato Ferreira disse que a polícia precisa se explicar. "Nós queremos uma explicação. Cadê o carro branco que a PM diz que os bandidos estavam. Eles disseram que os bandidos desceram do carro atirando. Se os bandidos saíram, cadê esse carro? Precisamos de respostas já", declarou Ferreira.