Último dia: movimento nos shoppings cai 30%, mas vendas de notebook disparam

Shoppings fecham as portas por 15 dias a partir deste sábado (21)

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  • Gil Santos

Publicado em 20 de março de 2020 às 21:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Quem esperava uma correria aos shoppings de Salvador nesta sexta-feira (20), por conta do decreto que determinou o fechamento desses estabelecimentos por 15 dias consecutivos, se enganou. O último dia antes do isolamento dessas unidades foi de calmaria, com corredores pouco movimentados e lojas vazias. Já a venda de notebooks cresceu mais de 50%, segundo os gerentes e consultores de venda. Lojas anteciparam a quarentena e corredores ficaram vazios (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Desde o começo da semana a vendedora Geisa Nunes, 33 anos, estava percebendo uma queda no movimento de clientes. Na perfumaria em que ela trabalha poucas pessoas apareceram e a direção ainda não definiu como vai ficar a rotina dos funcionários durante o fechamento.“A gente sabe que é importante fechar, porque é um risco para a saúde dos funcionários e dos clientes, eu concordo com o fechamento, mas ainda não sabemos como vamos ficar. O movimento está bastante fraco desde terça-feira e hoje (20) está ainda menor. Como a gente precisa da comissão das vendas, isso preocupa”, contou.A percepção de Geisa é a mesma da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Segundo a entidade, nesta última semana o movimento de clientes caiu cerca de 30% nas unidades de Salvador. Os empresários ainda não calcularam o prejuízo com essa redução e com o fechamento, mas disseram que o segmento fatura cerca de R$ 600 milhões por mês. A estimativa é que, desta vez, esse número fique abaixo da metade. Movimento fraco de clientes (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Crescimento Mas nem tudo é sofrimento. A venda de notebooks, por outro lado, disparou nos últimos cinco dias. Gerentes e vendedores contaram que o faturamento subiu 50% em relação ao mesmo período da semana anterior. O engenheiro Rubem Ede, 56, foi um dos clientes que saiu com um modelo portátil nas mãos.“Minha filha trabalha home office e o computador dela está com problemas. O notebook da minha esposa está muito lento, não dá para ela usar, e com essa recomendação para não sair de casa, achei melhor comprar logo um novo. Ela vai poder trabalhar de casa e a gente fica mais tranquilo e seguro”, disse. Rubem comprou o aparelho para a filha (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O consultor de vendas Fernando Guimarães trabalha na loja em que Rubem fez a compra. Ele contou que a maioria das pessoas que apareceram nos últimos dias disse que estava comprando um aparelho novo para poder trabalhar de home office e já sabiam qual o tipo de computador que queriam.

“Esse crescimento nas vendas tem muito a ver com tudo o que está acontecendo, as pessoas precisam trabalhar de casa. Aqui na loja vamos trabalhar assim também, através de um aplicativo de vendas em que oferecemos consultoria remota”, afirmou. Fernando contou que ele e outros colegas já usam o aplicativo, mas que nos próximos dias esse uso será intensificado.

Os patrões também precisaram se adaptar. O arquiteto Alberto Santana, 40, saiu da quarentena para reforçar a empresa. “Temos um notebook, mas precisávamos de outro. Eles são para atividade home office, porque facilita muito o trabalho”, contou, enquanto observava alguns modelos. Alberto estava procurando um modelo novo (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Avançando pelo corredor encontramos outro consultor de vendas, de outra loja, que também parecia bastante animado. Ele não quis se identificar, mas contou que a empresa vendeu todos os aparelhos que tinha no estoque nos últimos quatro dias.

“Se você quiser comprar um notebook novo agora, eu não tenho no estoque. Só tenho o que está no mostruário e já está acabando. A procura por impressora também foi grande esses dias. Como a loja não tem sistema de entrega online, só temos até hoje para vender tudo antes de fechar. Graças a Deus estamos conseguindo”, disse.

Durante a entrevista de 10 minutos, três aparelhos que estavam no mostruário foram vendidos. Uma das bancadas já estava praticamente vazia. “Teve um rapaz que veio comprar para e empresa dele e levou dez notebooks. Eu nem acreditei quando ele pediu dez aparelhos”, contou. Nesta banca restaram apenas dois dos seis modelos do mostruário (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Queda Mas essa euforia toda foi notada apenas no setor de eletrônicos. Quem vende roupas, calçados, alimentos ou acessórios, sentiu o baque. O movimento estava tão baixo que algumas lojas e restaurantes nem abriram na sexta-feira. Segundo o presidente da Abrasce, Edson Piaggio, os empresários ainda estão estudando como vão enfrentar a queda no faturamento, mas ele defendeu o fechamento dos estabelecimentos.

“A medida tomada foi necessária porque é uma contribuição para reduzir a velocidade com que se propaga esse vírus. Nos shoppings transitam, diariamente, muitas pessoas e nós estamos encarando esse fechamento como um serviço de utilidade pública, para proteger os colaboradores e a população que frequenta os shoppings. O prejuízo econômico é grande? É. Mas nessa hora não temos que pensar nisso, esse assunto passa a ser secundário quando está envolvendo a saúde da população”, afirmou. Cerca de 400 mil pessoas circulam pelos shoppings de Salvador todos os dias (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Cerca de 400 mil pessoas circulam todos os dias pelos corredores dos dez maiores centros de compras de Salvador, segundo dados da Abrasce. Sobre a tática de alguns empresários em ampliar as vendas online e oferecer serviço delivery para tentar amenizar os impactos do fechamento, Piaggio é pouco otimista.“Ninguém está preparado para oferecer delivery assim, de uma hora para outra. A maioria das lojas não tem vendas com entregas online. Não vamos conseguir reverter as perdas que teremos em março”, disse.Patrões e empregados estão preocupados, agora, com os próximos dois meses, caso a Covid-19 continue avançando. Abril é o período da páscoa e, em maio, acontece o Dia das Mães, uma das datas mais movimentadas para o comércio. Estabelecimento informa sobre o fechamento (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O decreto municipal proibindo o funcionamento dos shoppings entra em vigor neste sábado (21). Apenas supermercados, clínicas e laboratórios vão funcionar esses dias. Farmácias, academias, lojas e restaurantes estarão fechados.

A mudança de cenário já assusta. Às 12h, apenas oito das centenas de mesas da praça de alimentação do Salvador Shopping estavam ocupadas. “Parece coisa de filme. Eu nunca vi isso”, concluiu uma funcionária. Praça de alimentação ao meio-dia (Foto: Marina Silva/ CORREIO)