Um pé na areia e outro no chão: como fazer turismo preservando os paraísos da Bahia?

Agenda Bahia Tempo 21: Trilha Movimentar - Maior procura por destinos de natureza levanta questão sobre como  desenvolver turismo de forma sustentável

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  • Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2021 às 04:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Praias de Cumuruxatiba ainda estão preservadas, mas exemplo do que aconteceu na vizinha Caraíva preocupa (foto: Cristian Santos Gomes / Divulgação)

Caraíva e Cumuruxatiba são duas praias paradisíacas do extremo sul da Bahia, separadas por 34 km em linha reta ou 18 milhas náuticas. A primeira já apresenta sinais de ameaça ao ecossistema, puxados, principalmente, pelo aumento de turistas. A segunda ainda tem a costa preservada, mas o número de pessoas buscando lazer e refúgio aumentou desde julho de 2020, quando reabriu após a pandemia.

O aumento da procura já preocupa Rogério Ferraz, gerente da pousada Areia Preta, que mora em Cumuruxatiba desde 2012. Ele percebe que, além do número maior de turistas na região, as características de quem passou a visitar a praia também mudaram.

“O ritmo desse crescimento era um até março do ano passado. Desde que reabrimos em julho de 2020, até hoje, aumentou três vezes mais. E isso repercute no turismo, nas pousadas, restaurantes, mas também vai pra outros lados, como casa de locação para quem home office. Muita gente ainda procura a praia para passar períodos longos, ao contrário de estadias curtas de finais de semana e feriados, e vejo isso continuando”, pontuou.

Para os próximos meses, com a alta do dólar e a possibilidade de se manter em home office, a tendência é que turistas continuem viajando no Brasil. Os números deste ano já refletem isso: operadoras e agentes de viagens registraram aumento de 20% nos embarques em julho deste ano em relação a junho, meses em que a vacinação ainda ganhava corpo no país.

Outra tendência que deve se manter para os próximos é o ecoturismo. O  módulo sobre Turismo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo IBGE em 2020 com dados do ano anterior, o turismo de natureza motivou mais de 60% das viagens de lazer internas em 2019.  

O aumento do fluxo de pessoas tem preocupado especialistas: como receber turistas e ainda proteger o ecossistema? 

“É uma grande questão. A gente fala sobre equalizar o desenvolvimento com a conservação da natureza e muitos locais se valem desse conceito sem usar pilares do ecoturismo, como respeito ao meio ambiente e a populações nativas. Nem todo mundo que está viajando para esses locais está preocupado com o que vai deixar”, observou a turismóloga Victoria Leão, mestre em ecologia aplicada à gestão ambiental.

Propostas Para evitar morte de corais e pisoteamento do solo, além de afastar comunidades nativas, Victoria defende que as secretarias de turismo criem para as cidades bons planos diretores, que visem o desenvolvimento de acordo com os planos de manejo que deem proteção às áreas preservadas.  “O turismo pode acontecer de forma equilibrada e sustentável, basta pensar o quanto essa área pode aceitar de pessoas e ainda manter atrativos naturais”.

Para Rogério, respeitar o tempo das pessoas e os costumes também fazem parte do turismo. “É saber que a pessoa que pesca o peixe e prepara na hora vai demorar um pouco mais para servir, que o restaurante pé na areia pode não ter luxo, como vários garçons e ar-condicionado. O turismo que eu proponho aqui é que o hóspede busque o que a Bahia tem para oferecer. E não uma pessoa que venha trazendo conceitos do que ela quer e o local seja apenas um pano de fundo”.

O programa do Agenda Bahia 21 pode ser assistido aqui 

Podcast  especial - No dia 8 de novembro, o podcast O Que A Bahia Quer Saber terá uma edição especial, totalmente dedicada ao  Agenda Bahia 2021. O programa, disponibilizado pelo CORREIO, vai trazer mais informações sobre os desafios do turismo sustentável no estado e os problemas enfrentados por comunidades nativas para manter acesso às áreas preservadas.

O Agenda Bahia 2021 é uma realização do CORREIO, com patrocínio da Unipar, parceria da Braskem, apoio da Sotero Ambiental, Tronox, Jotagê Engenharia, CF Refrigeração e AJL Locadora e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador, Sistema FIEB, Sebrae, Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro, Rede Bahia e GFM 90,1.