Unidades da Ufba suspendem aulas noturnas por conta de greve de vigilantes

Direito, Ihac, Politécnica, São Lázaro e outras unidades tomaram decisão

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  • Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2019 às 20:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Com a greve dos vigilantes decretada nesta terça-feira (27), a rotina na universidade já começou a sofrer alterações. No Instituto de Humanidades Artes e Ciências Professor Milton Santos (Ihac), por exemplo, as atividades acadêmicas e administrativas foram suspensas a partir das 17h de hoje, “por motivos de segurança”. Em comunicado, o instituto informou que emitirá posicionamento dia a dia quanto ao funcionamento das atividades, até que a situação seja normalizada. Na Faculdade de Direito, as atividades também foram suspensas a partir das 18h.

O diretor da Faculdade de Direito, Júlio Rocha, afirmou que as classes foram suspensas apenas na noite de hoje e que amanhã a situação da segurança vai ser reavaliada para decidir se os estudantes do curso noturno terão ou não aulas. De acordo com o gestor, são 1.200 estudantes no turno da noite no instituto.“Para proteger a comunidade acadêmica da faculdade, optamos por suspender as aulas até a regularização do fornecimento da segurança. Todos os dias avaliamos a situação. Estamos avaliando com os discentes, docentes e servidores”, afirma.No instituto de Geociências (Igeo), apenas o curso de Geografia possui aulas noturnas. A vice-diretora do Igeo, Simone Moraes, afirmou que todas três classes que o curso de graduação possuía após as 18h30 no instituto foram cancelas. Por não possuir aula no turno noturno, os alunos de Geofísica, Geologia e Oceanografia mantêm as atividades normais.

“Com a ausência do sistema de vigilância há a possibilidade de pessoas que não pertencem a comunidade entrarem no campo por motivos não acadêmicos. Preferimos suspender para não ter preocupações ou até sermos sujeitos a assaltos”, explica.

Na quarta, acontece uma reunião do Conselho Universitário (Consuni) que deve debater a paralisação, diz Simone Moraes. “Vamos avaliar amanhã a situação e pode ser que amanhã tenhamos um novo posicionamento. Todos os dias a reitoria tem buscado a negociação, já foram feitas negociações com o Ministério da Educação e há o reforço do policiamento. A cada dica vamos avaliar a situação”, explica.

Em nota, a Escola Politécnica da Ufba informou que as aulas também foram suspensas a partir das 18h30 da noite desta terça-feira. No campus de São Lázaro, as atividades se encerraram às 17h. Na nota, também é informado que o portão de Ondina será fechado, restringindo o acesso via Estrada de São Lázaro, onde circula o Buzufba.

O horário de funcionamento do Restaurante Universitário para o jantar também foi alterado nesta terça. Os alunos terão acesso para se alimentarem apenas até às 18:30 no prédio de Ondina e da Vitória e até às 18h no posto de São Lázaro. Normalmente o restaurante fica aberto aos alunos até às 20h      

Rotina alterada As mudanças provocadas pela greve acabam alterando também a rotina dos alunos e os deixando assustados. “Eu geralmente janto aqui porque tenho aula até 18:30 e depois passo no restaurante. Hoje vou correndo pra casa porque fica perigoso aqui”, conta o estudante João Gabriel Lima, que tem aulas noturnas no prédio de Letras. 

“É uma situação muito chata pra todos os alunos mas principalmente pra quem estuda a noite. A segurança da Ufba em si já não é uma das melhores, mas de certa forma os poucos seguranças que tem acabam inibindo certos atos como roubos. Eu já estudei à noite e todos os professores sempre liberam mais cedo porque sabiam que não tinha nenhuma condição de manter aula até o final, porque é muito perigoso”, conta a estudante Labelle Bastos, do Bacharelado Interdisciplinar em  Humanidades, sobre as aulas previstas para acabar às 22h.    

A sensação de insegurança citada pela estudante acaba atingindo toda comunidade acadêmica. “A gente fica nesse posto aqui geralmente com um segurança, com eles em greve temos que seguir sozinhos porque não tem jeito. Mas seguro a gente não se sente”, comenta o porteiro de uma das portarias da universidade, que pediu para não ser identificado. 

A estudante Vitória Rosa, do segundo semestre de direito, conta que já não se sentia totalmente segura mesmo com os vigilantes trabalhando. “Principalmente em horários específicos como a noite ou de manhã muito cedo. Eu mesmo tenho aula aos sábados 7 da manhã. Já é um dia que a Ufba está mais vazia. Já passei por uma situação ruim de um cara estranho ficar me olhando estranho. O rapaz  da limpeza viu a situação e veio me ajudar”, relata.

Reforço da PM e 30% do efetivo Com a greve, a Polícia Militar vai atuar na segurança dos campi através da Ronda Universitária. Além do reforço da PM, mesmo durante a paralisação será mantido um efetivo de 30% dos 380 vigilantes que trabalham na universidade.

“No que depender de nós, os 30% serão mantidos em atividade nos pontos que a Ufba sinalizou como indispensáveis”, diz o presidente do Sindivigilantes, José Boaventura. Na última paralisação, da quinta-feira, a universidade sinalizou que a segurança deveria ser mantida em quatro pontos: Hospital das Clínicas, Maternidade Climério de Oliveira, Creche da Ufba na Federação e o Museu de Arte Sacra, no Corredor da Vitória. Consultada, a Ufba não respondeu se os pontos escolhidos para a atuação dos vigilantes serão mantidos para essa nova paralisação. Os contratos de trabalho dos vigilantes, no entanto, podem ser suspensos a partir do próximo domingo, atingindo, inclusive, esses 30% que a princípio seguem trabalhando.

Em nota, a Ufba esclareceu que tem se esforçado para solucionar as questões que vêm sendo geradas por conta dos cortes determinados pelo Ministério da Educação (MEC). “A Reitoria tem buscado solucionar a grave situação orçamentária atravessada pela universidade, através de sucessivas gestões junto ao Ministério da Educação, visando à liberação dos recursos contingenciados e dos 30% de seu orçamento bloqueados pelo governo federal. Esse quadro afeta diretamente a vida dos membros de sua comunidade, entre eles os trabalhadores terceirizados, dificultando a instituição de permanecer em dia com os pagamentos a seus fornecedores”, diz a nota. 

A universidade comenta, ainda que, diante do cenário, tem tomado outras medidas para buscar reduzir os impactos financeiros dos cortes. “Neste cenário de dificuldades, a ação da administração central da Ufba não se resume a gestões junto ao MEC. Também se traduz em um significativo esforço para contenção de despesas, o que implica prejuízo às atividades da instituição, mas que tem como prioridade absoluta garantir o funcionamento da universidade, preservando o essencial do nosso ensino, pesquisa e extensão”, completa o texto.

Questionado, o MEC respondeu que “vem articulando com o Ministério da Economia a possibilidade de ampliação dos limites de empenho e movimentação financeira a fim de cumprir todas as metas estabelecidas na legislação para a Pasta. Caso o cenário econômico apresente evolução positiva neste segundo semestre, os valores bloqueados serão reavaliados”. Procurado pela reportagem, o Ministério da Economia não respondeu ao CORREIO.

Débito A dívida da Universidade com a MAP, empresa detentora do contrato de terceirização dos serviços de vigilância nos campi está hoje em R$ 15,8 milhões. Segundo o sócio administrador da empresa, Sisnando Vieira Lima, com a fatura de agosto, o número sobe para R$ 17 milhões. “A empresa está em dia com todos os funcionários, não estamos devendo a ninguém. A Ufba segue prometendo pagamento, diz que vai buscar recursos em Brasília, mas se continuar assim vai ficar impagável”. 

Desde a última semana, a MAP deu início ao rito processual para a suspensão dos contratos. “É algo que está previsto em lei e na convenção coletiva dos vigilantes. Enviamos a carta notificando tanto a Ufba quanto os sindicatos, patronal e dos vigilantes”, explicou. Segundo ele, depois do recebimento do documento, os sindicatos têm um prazo de 10 dias para enviar uma resposta, mas o direito de suspensão dos contratos é garantido e poderá ocorrer a partir do próximo dia 1º de setembro. Nesse caso, apesar do vínculo empregatício entre a MAP e os vigilantes se manter, eles param de trabalhar e de receber salário, alimentação e transporte. Nesse caso, nem mesmo os 30% solicitados pela universidade seriam mantidos em atividade. 

O administrador diz ter sido informado, por telefone, que os vigilantes enviaram pedido formal através de seu sindicato, para que o prazo de resposta fosse estendido por mais 10 dias. O documento, no entanto, ainda não tinha sido recebido na sede da empresa e a decisão de estender ou não o prazo não tinha sido tomada até a publicação deste texto. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro