Universitário é agredido por vigilantes na Rodoviária de Salvador; assista

OAB-BA considera caso de ‘racismo institucional’; funcionários foram afastados

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  • Gabriel Moura

Publicado em 18 de julho de 2019 às 14:21

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

O estudante universitário Vinicius Vieira, 26 anos, foi agredido por pelo menos três vigilantes da Rodoviária de Salvador enquanto esperava um ônibus para São Francisco do Conde, no Recôncavo, onde estuda. O episódio ocorreu na madrugada de terça (16) para quarta-feira (17).

O jovem estuda na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) de São Francisco do Conde e teria uma prova no dia seguinte às agressões. Nas redes sociais, ele postou fotos e vídeos das agressões e desabafou sobre o caso. “Se eu disser que estou bem após ser violentado gratuitamente, passar horas na delegacia, outras horas no IML fazendo corpo de delito e entrar com medo na rodoviária agora à noite precisando que dois outros homens irmãos meus de Salvador fossem comigo em escolta até eu entrar no ônibus onde escrevo agora em segurança, eu estaria mentindo. Não estou bem totalmente”, relatou.Ainda de acordo com o relato da vítima, os vigilantes, que foram afastados após a repercussão do caso (ver mais abaixo), teriam pensado que Vinicius era um infrator, o que motivou as agressões.

Entretanto, o jovem não demonstra rancor com os agressores, sendo um deles identificado como “Santos”, e entende que o caso de maldade “não é da natureza deles”.

“Só peço a Deus que abençoe a vida desses fiscais que me bateram, mas por que digo isso? Porque o que falta na vida deles é só isso, bênção, paz e afeto. Por isso fizeram tudo isso comigo, que só estava aguardando meu ônibus em paz”, desabafou.

Denúncia Vinicius Vieira denunciou o caso na 11ª Delegacia (Tancredo Neves) como episódio de “lesão corporal leve”.

No boletim de ocorrência é dito que no momento das agressões, policiais militares estavam presentes no terminal e teriam se recusado a fazer a condução dos vigilantes por “não haver plantão na delegacia no momento do episódio”, além das agressões não se configurarem como “flagrante delito”.

Em nota, a Polícia Militar confirmou a versão do jovem, de que dois policiais teriam sido acionados pela vítima por volta das 0h50 da última quarta-feira (17). Entretanto, segundo a corporação, pelo fato de os policiais não terem presenciado a ação, não havendo o flagrante e, de acordo com os PMs, o homem não ter lesão aparente, a vítima foi orientada a registrar a ocorrência na delegacia.

Nas redes sociais, Vinicius disse que espera pela identificação dos agressores e garante que irá tomar as medidas judiciais cabíveis. “Estou seguro por enquanto, até a identificação dos fiscais e o processo contra a empresa”, afirmou. 

Procurada pelo CORREIO, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que o já foram expedidas as guias periciais de lesão corporal e, também, solicitadas as imagens das câmeras de monitoramento, além da identificação dos funcionários, solicitadas à administração do Terminal Rodoviário.

Apoio psicológico De acordo com uma pessoa próxima à vítima, que não quis se identificar, Vinicius está muito abalado e irá precisar fazer um acompanhamento psicológico, para processar o ocorrido de forma a não prejudicar sua saúde.

De acordo com a fonte, o estudante está sendo assistido juridicamente, assim como psicologicamente por uma profissional da Comissão de Promoção de Igualdade Racial de Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) - sendo dois defensores e uma psicóloga.

Em nota, a Comissão  de Promoção de Igualdade Racial da OAB/BA classificou o caso como “racismo estrutural” e se colocou à disposição da vítima. A instituição também afirmou que repudia veementemente toda e qualquer ação de cunho racista.

Disse ainda que a vítima está em contato com o Centro de Referência Nelson Mandela e MP/BA. 

Procurada pelo CORREIO, a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado da Bahia (Sepromi) informou, por meio da assessoria, que, por ser "uma instituição de acompanhamento a casos de racismo" está tentanto contato com Vinicius, mas sem sucesso.

Afastados A Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico (Sinart), responsável pelo Terminal Rodoviário de Salvador, se posicionou sobre o caso por meio de nota, assinada por Adevaldo Santos, gerente de operações da empresa. No comunicado, é dito que todas as providências cabíveis estão sendo tomadas.

“A empresa preza pela humanização do atendimento e respeito a todos usuários, não compactua e repudia quaisquer atitudes de violência e/ou preconceito, seja verbal ou físico. Lamentamos profundamente o ocorrido, e informamos que todos os nossos colaboradores encontram-se afastados enquanto são apurados os detalhes da ocorrência. Garantimos que todas as providências cabíveis estão sendo tomadas”, diz o comunicado. 

Posição da Agerba Em comunicado oficial, a Agerba (agência estadual que regula os serviços de transporte na Bahia) repudiou os atos de violência por parte dos funcionários da rodoviária. Além disso, o órgão confirmou que está apurando o caso de violência contra Vinicius. 

"A Agerba repudia atos de abuso, violência e mau atendimento por parte dos funcionários de empresas concessionadas em todos os serviços públicos de transportes prestados no Estado. O Departamento de Qualidade dos Serviços está apurando a situação ocorrida no Terminal Rodoviário de Salvador e já determinou o afastamento e punição cabível aos funcionários envolvidos. Na qualidade de agência reguladora, a Agerba atua para que haja equilíbrio entre os serviços prestados pelas empresas e os serviços recebidos pelos usuários", diz a nota. 

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier.