Vacinação na Bahia será por idade, exceto gestantes, puérperas e profissionais da saúde

Reunião da CIB definiu também que distribuição de doses será proporcional ao número de habitantes de cada município em relação ao estado

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 17 de junho de 2021 às 17:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/PMLF

A vacina da covid-19 na Bahia vai ser aplicada pelo critério de idade. As únicas exceções são as gestantes, puérperas e os trabalhadores da saúde, que podem entrar como grupos prioritários. Uma reunião às 15h dessa quinta-feira (17) da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) definiu isso para evitar “assimetrias cada vez mais graves entre os municípios”, conforme definido por Fábio Vilas-Boas, secretário da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).  

É que enquanto algumas cidades já vacinam pessoas com 25 anos ou mais sem comorbidades, como Bonito e Filadélfia, outras ainda nem começaram a vacinar por idade, como Maetinga. Além disso, para normalizar essa situação, a CIB decidiu também que a distribuição de doses será proporcional ao número de habitantes de cada município em relação ao estado.  

Conforme informou ao CORREIO um secretário de Saúde que não quis se identificar, a reunião foi marcada por muita discussão sobre qual modelo deveria ser adotado na distribuição das doses. A proposta que ficou firmada diz que as primeiras doses das vacinas devem ser distribuídas de acordo com o percentual da população alvo acima de 18 anos de cada município em relação ao total da população da Bahia, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

As doses também serão distribuídas considerando a cobertura vacinal da população-alvo, ou seja, os que tem mais de 18 anos, com os seguintes aspectos: Os municípios que tem cobertura maior do que 50% do público-alvo receberão metade das doses até que a média estadual chegue também a 50%. No caso das cidades com cobertura maior do que 70%, serão enviadas apenas 33% das doses até que a média estadual também chegue a 70%. 

Já os municípios que estão com cobertura vacinal acima de 90% não receberão novas doses até que a média estadual chegue a esse mesmo percentual. Isso significa que, ainda em junho, nenhuma cidade baiana conseguirá imunizar 100% da sua população. Bonito, localizado no Centro-sul baiano, já tinha programado para vacinar todas as pessoas com mais de 18 anos até o dia 23 de junho.   Vacinação em Bonito está próxima aos 100% de cobertura da população vacinável (Foto: divulgação) Doses extras serão distribuídas para cidades com menos cobertura vacinal Ainda na reunião, ficou definido que as doses excedentes provenientes dos municípios com mais de 50% de cobertura vacinal serão distribuídas equitativamente entre os municípios com cobertura inferior a 50%. A CIB vai realizar reuniões semanais para revisão do valor de corte com base na média da cobertura estadual.   

O CORREIO solicitou a Sesab a lista das cidades que já ultrapassaram 50% e 70% na cobertura vacinal com a primeira dose, mas não obteve retorno até o fechamento do texto. Em Salvador, segundo o prefeito Bruno Reis, a estimativa é que a cidade atinja o índice de 50% da população vacinável com a primeira dose aplicada ainda em junho. 

Numa rede social, o secretário de Saúde de Salvador, Leo Prates, ainda na manhã dessa quinta, comentou a inclusão desse tema em pauta. “É um avanço a CIB colocar como critério de distribuição a população. Mas, nós defendemos também que eventuais assimetrias entre a proporção do município vacinadas seja corrigida. O princípio do SUS é equidade: mais pra quem precisa de mais e menos pra quem precisa menos. É preciso ser justo!”, disse.  

Fábio Vilas-Boas também tinha falado sobre o assunto: “Os critérios do Ministério da Saúde para distribuição das vacinas tem induzido assimetrias cada vez mais graves entre os municípios. [É preciso que] seja feita uma forma de ajuste para que possamos liberar mais vacinas de forma mais estratégica, até que tenhamos a equalização entre os percentuais de vacinação em todo o estado”, escreveu. 

A Bahia tem 11,1 milhões de habitantes acima de 18 anos, segundo estimativa do governo. Até agora, são  4,2 milhões vacinados com a primeira dose, o que representa mais de 38% da população projetada.

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Cidades com baixa vacinação reclamam do percentual de doses enviadas  Com a decisão da CIB, a expectativa é que as cidades onde estão com a vacinação demorada possam acelerar a imunização. Em Ibiquera, por exemplo, no Centro-Norte baiano, só hoje foi possível iniciar a vacinação das pessoas com 59 anos sem comorbidades. A cidade tem 4 mil habitantes, um número maior do que as 2,8 mil pessoas que vivem em Maetinga, segundo o IBGE. Por lá, a vacinação ainda nem foi concluída nos grupos prioritários por causa do baixo envio de doses.  

Em ambas as cidades, as prefeituras reclamam que os dados de população estão incorretos e precisam ser revisados. “Nós estamos cobrando um novo censo. A Sesab está ciente dessa situação. Inclusive, a prefeita já cobrou ao governador o envio de uma maior quantidade de vacina”, disse Sabrina Souza, secretária de Saúde de Maetinga.   

Mas não são apenas cidades pequenas que sofrem com esse problema. Em Luís Eduardo Magalhães, no Oeste baiano, ainda estão sendo vacinadas pessoas com 55 anos ou mais sem comorbidades. No mês passado, a prefeitura alertou sobre o problema e passou a receber mais doses da pasta estadual. “Os dados que eles utilizam se baseiam na última campanha da Influenza. Ou faltou registro no sistema ou a população não procurou pela vacina. Os dados que constam no sistema não condizem com a nossa população”, disse, na época, Fernanda Fischer, diretora de Assistência à Saúde de Luís Eduardo Magalhães.  

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Segundo a Sesab, com a deliberação da CIB, a distribuição das vacinas seguirá apenas de forma proporcional à população de cada município e não mais será levado em conta o percentual de vacinação da influenza de anos anteriores mais o quantitativo de pessoas em grupos prioritários. Não há uma previsão por parte da pasta estadual de quando a vacinação será concluída no estado. "Ainda não foram definidos os municípios que receberão as vacinas Sputnik V e o Ministério da Saúde ainda não confirmou a data de envio das vacinas da Janssen", disseram. As três vacinas em uso, atualmente, para imunizar os baianos (Foto: Shutterstock) Especialista alerta que outros grupos prioritários ainda precisam ser incluídos na vacinação.   A epidemiologista Glória Teixeira, pesquisadora da Fiocruz e professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba), concorda com a decisão da CIB. “Vacinar por idade é uma decisão baseada nos dados epidemiológicos, pois as pessoas mais velhas têm uma letalidade maior. É importante manter a vacinação das gestantes, pois tá tendo muita mortalidade materna, e também os profissionais da saúde para eles não podem adoecerem e continuarem a exercer seu serviço fundamental”, explica.  

No entanto, a especialista alerta que outros grupos prioritários precisarão ser incluídos como prioridade. É o caso dos adolescentes a partir dos 12 anos que possuem comorbidades ou alguma deficiência. Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante Pfizer para esse público jovem. Para que a vacinação seja possível, Glória Teixeira afirma que os cientistas estão requerendo que o Ministério da Saúde inclua esse público no Programa Nacional de Imunizações (PNI)   “Quem tem comorbidades precisa ser vacinado por razões óbvias. Eles têm maior risco de adoecer e morrer. Já os deficientes sofrem muito, pois não podem se expor ao risco, eles têm mais dificuldade de usar a máscara e fazer distanciamento social. As aulas estão voltando e, se eu sou mãe ou avó de uma criança deficiente, não vou querer mandá-la para a escola, pois eles não estão vacinados ainda, mas precisam. É uma população pequena que não vai defasar tanto o quantitativo de doses dos adultos”, defende.  A especialista também concorda que deve haver uma distribuição mais equitativa das doses entre as cidades baianas, para que essa vacinação por idade consiga ser feita de forma efetiva. “A vacina precisa ser distribuída de forma justa. Às vezes isso não acontece por um erro do gestor e sim o fato de não termos um Censo recentemente. Muitos dos nossos dados são com uma base censitária muito antiga, de 2010 e aí é óbvio que vai dar erro”, diz.  

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Salvador volta a ficar no primeiro lugar na vacinação entre as capitais  Nessa quinta-feira, Salvador voltou a ocupar a primeira colocação entre as 27 capitais brasileiras na vacinação. São 96,6% de doses de vacinas aplicadas em relação a quantidade recebida. No total, a capital baiana já recebeu 1,379 milhão de doses e aplicou 1,333 milhão. Das doses aplicadas, 923 mil foram destinadas para primeira dose e as demais para o reforço.  

Nessa sexta-feira (18), a cidade já vai iniciar a vacinação contra a Covid-19 das pessoas com idade igual ou superior a 49 anos a partir das 13h. Pela manhã, entre 09h e 12h, a estratégia será voltada para os indivíduos com 50 anos que ainda não se vacinaram.  

A aplicação da primeira dose nesta sexta (18) será exclusiva para este público habilitado por faixa etária, os demais grupos prioritários não devem se dirigir aos pontos em busca da vacina.  

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.