Vai ter gorda no ônibus: mulheres exigem direitos no transporte público de Salvador

Protesto aconteceu na manhã de quarta (19), na Estação da Lapa, após estudante relatar constrangimento

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  • Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Pegar um transporte coletivo é uma atividade comum para muita gente. Mas, para pessoas gordas, isso pode ser um transtorno. Como foi para a estudante Blenda Almeida, 26 anos, que passou um constrangimento na manhã desta quarta (19), ao entrar em um ônibus. Ela não conseguiu passar pela catraca e ainda ouviu um comentário maldoso da cobradora do coletivo. A situação que Blenda viveu é muito mais comum do que se imagina. Por isso, o movimento Vai Ter Gorda realizou um protesto pacífico, também nesta quarta, na Estação da Lapa, em Salvador.

Segurando cartazes, as manifestantes solicitaram que a Câmara Municipal de Salvador faça a retomada das discussões do Projeto de Lei 303/2019, referente às catracas dos ônibus da capital baiana. A proposta tem o objetivo de evitar constrangimentos e até traumas quando pessoas gordas tentam passar pelas catracas dos coletivos. 

A fundadora do movimento Vai Ter Gorda, Adriana Santos, explica que o protesto quis expor a dificuldade que as pessoas gordas têm em acessar os degraus, catracas, assentos e corredores dos coletivos de Salvador. Por isso, o projeto de lei propõe que, em caso de dificuldade de locomoção, o cobrador do veículo deverá se deslocar até o passageiro para cobrar a passagem. Quando o embarque for por acesso de terminais ou por bilhetagem eletrônica, a lei garante a aplicação dos mesmos direitos, inclusive garantindo a utilização das entradas reservadas às pessoas com necessidades especiais.

Essa mudança permitiria que Blenda fizesse pleno uso do transporte coletivo, o que não aconteceu nesta quarta. Como o motorista e a cobradora não ofereceram que a estudante entrasse pela porta de desembarque do veículo, ela precisou ficar na parte da frente, onde ficam os assentos preferenciais. Como todos estavam ocupados, ela fez a viagem em pé mesmo com cadeiras vazias na parte de trás. "Me sinto desassistida, humilhada e constrangida", revela. Projeto de lei que tramita na Câmara de Salvador propõe acesso sem catraca (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Para Adriana, a lei vai permitir que as pessoas gordas tenham acesso mais seguro ao coletivo sem passar pela catraca. "É uma forma de garantir dignidade e respeito", pontua. Ela ressalta que essa dificuldade em passar pelas catracas, subir os degraus e se locomover no ônibus, além de constranger e causar violência psicológica, ainda exclui muitas mulheres de acessar seus direitos básicos, como é o direito de acesso aos coletivos.

A fundadora do movimento afirma que o assunto tinha urgência de ser pautado na casa legislativa em virtude da falta de formulação de políticas públicas em prol da inclusão sociocultural das pessoas gordas no município de Salvador e no Estado da Bahia, principalmente no que se refere à acessibilidade no transporte público. "Uma situação que seria de simples execução acaba virando um momento de constrangimento, violência física, psíquica e moral", acrescenta. 

Além do Projeto de Lei 303/2019, apresentado à Câmara, os integrantes do Vai Ter Gorda participaram da elaboração dos Projetos de Lei 284/2019 e 23.507/2019 que visam a criação de um dia municipal e estadual de combate à gordofobia, respectivamente. Ambos aguardam tramitação tanto na Câmara Municipal de Salvador como na Assembleia Legislativa da Bahia. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.