Valéria do medo: moradores abandonam casas crivadas de balas

Guerra de facções expulsa moradores e comerciantes do bairro

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  • Bruno Wendel

Publicado em 1 de março de 2021 às 05:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

A perfuração ao lado da placa de logradouro é o próprio alerta: “Cuidado, tiros!”. As balas que atravessam o silêncio dos moradores, quando não se alojam em corpos, encontram portas, janelas e carros. Esse é o cotidiano de quem vive, ou melhor, sobrevive na Rua Penacho Verde. Basta um olhar rápido – isso se você tiver coragem para entrar e sorte para sair – para notar as inúmeras casas atingidas por tiros de diversos calibres, situação que reflete a violência a que estão submetidos os moradores do bairro de Valéria. Por conta disso, pelo menos dez imóveis foram abandonados na Penacho Verde.

O bairro de Valéria é disputado por duas das maiores facções criminosas do estado: Katiara e o Bonde do Maluco (BDM). Devido à guerra pelo domínio de espaço, acirrada há cerca de três meses, muitas pessoas deixaram suas casas, comerciantes largaram suas lojas, seus pontos comerciais. Foram histórias e sonhos deixados às pressas para que inocentes não engrossassem a estatística da violência na região. Desde o dia 1º de novembro do ano passado, 21 pessoas foram assassinadas até a meia-noite desta sexta-feira (19) no bairro, segundo dados do boletim de ocorrências do site da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP). 

“Ficar lá era um risco para mim e minha família. E as balas, que perdidas só no nome, sempre encontram quem não tem nada a ver. A gota d’água foram as granadas lançadas na porta de minha casa durante uma briga entre eles. Foi aí que tive a certeza de que eu estava numa guerra, que já tinha perdido a minha paz. Não ia pagar para ter outras perdas. Minha família vale muito mais”, disse um ex-morador e também ex-dono de uma pizzaria em Valéria, identificado aqui na matéria com o nome fictício de João.    Os casos mais recentes dessa violência desenfreada aconteceram no início deste mês, quando seis pessoas foram mortas em três dias – quatro casos acontecrem no último dia 03, sendo dois deles na Rua Penacho Verde. Nas duas semanas seguintes, a PM aumentou a sensação de segurança em Valéria empregando algumas viaturas do Batalhão de Choque apenas nas vias principais do bairro - três pessos foram  presas.   A explicação para o avanço cauteloso nas áreas mais críticas, nos locais mais afastados do centro comercial do bairro, como a Rua Penacho Verde, onde realmente o enfrentamento se faz necessário, por ser o reduto da Katiara, veio do comandante da Rondesp Baía de Todos-os-Santos (BTS), tenente-coronel Elismar Leão.  “Ali está sendo objeto de operações nossas. Ali, entramos cercando com quatro a oito viaturas e aeronave. Estão em disputa com o Sossego (Rua do Sossego). A entrada é com várias viaturas. É cercando tudo”, disse ele ao CORREIO, no dia 10 do mês passado, ao admitir a dificuldade para a tropa entrar na Rua Penacho Verde.  Apesar de o comandante da Rondesp BTS relatar ações de enfrentamento contra o tráfico local, e de a SSP ter informado que o policiamento seguiria reforçado por tempo indeterminado, o CORREIO esteve em Valéria nos dias 10 e 11 de fevereiro e sequer encontrou uma viatura circulando nas vias principais. A equipe de reportagem passou em média três horas na região, inclusive na Rua Penacho Verde, e nada de policiais militares. A ausência da PM também foi alvo de críticas das pessoas entrevistadas na comunidade.

Porém, a população só viu uma ação mais enérgica da SSP após outras duas mortes em locais distintos no dia 21. A ação foi da Polícia Civil (veja abaixo). Valéria tem uma população de 26.210 habitantes e sua desidade demográfica é de 2.184 (população/km2). Os dados são do estudo "Caminho das Águas em Salvador",  que fornece diversos indicadores, entre eles a delimitação dos bairros da primeira capital do país, publicado em 2010 pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e usado para a lei de bairros publicada pela Prefeitura em 2017.  

Perfurações  As paredes nas cores azul, rosa e verde já não trazem mais a beleza de antes, e sim o reflexo da violência. Na Rua Penacho Verde, casas foram crivadas de balas durante ataque do Bonde do Maluco (BDM) no dia 15 de novembro do ano passado. Os invasores chegaram atirando contra um pequeno grupo de soldados da Katiara, que conseguiu fugir. O BDM queria vingar a morte de mais um integrante, que foi surpreendido horas antes na Rua Leão Diniz. Como não conseguiram, traficantes do BDM resolveram descontar a fúria na comunidade local, atirando inúmeras vezes contra as portas, janelas e portões numa localidade conhecida como Beco 51. Por sorte, ninguém ficou ferido.  Casas crivadas de tiros e que foram abandonadas na Rua Penacho Verde, em Valéria (Foto do leitor) “As casas atingidas estão vazias. Os moradores saíram de lá. Foram morar com parentes no interior ou foram para outros bairros. Alguns puseram seus imóveis para alugar, mas ninguém quer”, contou Maria* (nome fictício), moradora da Rua Penacho Verde, que tem uma casa próxima do Beco 51.

O CORREIO esteve lá rua na quarta-feira, mas logo no primeiro acesso, a equipe de reportagem foi advertida pela própria comunidade que não era seguro prosseguir, por dois motivos: o primeiro e mais contundente é o clima de tensão no local, tendo em vista que os traficantes estavam preparados para um possível ataque do grupo rival. O segundo e não menos importante foi o fato de a polícia raramente acessar a localidade.

Diante do alerta, a reportagem buscou outras formas e conseguiu conversar por telefone com as poucas pessoas que ainda sobrevivem nos trechos mais violentos da Penacho Verde. Foi então que a equipe entrevistou Maria, que mora há mais de dez anos no local. “Os confrontos acontecem a qualquer hora do dia. Saio de casa, mas tenho horário para voltar. Às 17h, já estou trancada com os meus filhos. Morro de medo de que a gente possa ser vítima dessas balas perdidas”, disse ela. O temor já faz parte da rotina da família de Maria.“Qualquer zoadinha de martelo, fogos, penso que é tiro. Acordo de madrugada com medo, vou dormir com medo, ando com medo. Acordo com o medo, só ando com medo. Até para ir ao mercado, saio olhando para todos os lados, porque a qualquer hora eles podem aparecer”, disse ela, que é dona de casa e cria sozinha os dois filhos pequenos.Maria disse que há quase dois meses não recebe uma visita. “As pessoas têm medo de vir em minha casa. Parentes, amigos, ninguém nem quer passar perto, e com razão”, apontou. Ela contou o momento mais tenso que viveu. Na hora, estava com os filhos quando um homem foi baleado a poucos metros deles. “Fui comer uma coxinha e o cara foi baleado perto de mim. Chegaram uns caras e atiraram muito nele. Na hora, corri com os filhos para dentro de um bar”, contou.

Maria lembrou como foi o dia seguinte à morte do rapaz que foi baleado em sua frente. “Quando tem uma situação como essa, no outro dia ninguém sai de casa. Fica todo mundo trancando com medo de um novo confronto, medo que o grupo que sofreu o ataque revide. A rua fica deserta”, disse. Sair de casa só em casos extremos não é a única medida para restaurar, mesmo que de um jeito difícil, a sensação de segurança. “As pessoas colocam grades em tudo. É o que mais tem aqui. Mas nada adianta, porque grade não para bala e a bala atravessa paredes”, declarou.

A moradora disse que precisa sair do bairro. “Não quero isso pra mim e para os meus filhos. Quero ir embora daqui para garantir a sobrevivência da minha família, mas não tenho dinheiro. Meus parentes vivem o mesmo problema em outros bairros. O jeito é ficar aqui, pedir proteção a Deus e ver o que vai acontecer”, declarou.Granadas As mãos em movimentos contínuos e circulares uma sobre a outra, entregavam o nervosismo de João* (nome fictício) ao falar do período que passou morando e trabalhando em Valéria. Passou pouco mais de um ano em um prédio - o andar térreo era sua pizzaria e o primeiro, a casa em que morava com a família. Para segurança dele e dos parentes que não têm condições financeiras para deixar o bairro, a reportagem não vai revelar seu atual endereço, tampouco a localização da pizzaria em Valéria.  Ex-morador e ex-dono de pizzaria deixou o bairro por temor à violência  (Foto: Burno Wendel/CORREIO) João tinha uma vida estabilizada. Com os seus cerca de 100 clientes fixos, ele faturava, tirando todas as despesas, incluindo funcionários, R$ 10 mil livres com a pizzaria. Mas há cerca de dois meses, a sua vida virou bruscamente por conta da violência. Os confrontos entre a Katiara e o BDM passaram a ser constantes e a rua onde morava, e onde também tinha seu negócio, passou a ser uma espécie de 'faixa de Gaza' das facções.“Todo dia tinha tiro. Começava às 2h e às vezes ia até às 5h. Era um inferno. Não tinha paz”, contou.Logo nos primeiros dias da guerra, o tráfico já tinha dado a João os indícios de que ele e a família tinham que sair de Valéria às pressas. “Os meus entregadores já não queriam mais trabalhar comigo com medo de serem pegos pelos bandidos. Os pedidos despencaram bruscamente, porque a maioria dos meus clientes, que preferia comer lá na pizzaria, deixou de ir lá. Só amargava prejuízo”, relatou.

O estopim para abandonar tudo aconteceu em janeiro, quando em mais um confronto houve lançamento de granadas. “Eles jogaram várias na rua. Meus filhos estão até hoje traumatizados. Então, resolvi dar um basta nesse tormento e larguei tudo lá”, declarou João, que ainda não fez a contabilidade do prejuízo – só de maquinário deixado, o valor é superior a R$ 15 mil.

Quando o CORREIO encontrou com João, ele estava a caminho de uma entrevista de emprego. “Tinha uma vida confortável lá, não faltava nada em casa, mas não me arrependo do que fiz. Era eu e minha família ou eles”, disse ela, pouco antes de tentar uma vaga para pizzaiolo. Guerra  As vidas de Maria e João e de muitas outras pessoas que moram ou moravam em Valéria mudaram com o assassinato do traficante Louri Oliveira Serra, 42 anos, o Jho, no dia 13 de novembro, no bairro. Segundo moradores, Jho era um dos integrantes mais velhos da Katiara – era respeitado pelos mais jovens – e foi executado por integrantes do BDM, o que acirrou a disputa das duas facções pelo bairro.

"Ele tinha acabado de sair do mercado e ia levar as compras para mulher, mas resolveu parar num bar e tomar umas. Foi quando dois homens pegaram ele e o botaram no carro. Desde então, virou um mata-mata. Executam um aqui, dois são executados lá", contou uma jovem. Jho estava no Penacho Verde, área de atuação da Katiara, quando foi sequestrado por integrantes do BDM da Palestina, que também atua em algumas localidades de Valéria.

“Ele não era jovem. Era coroa. Uns 40, 45 anos. O carro que pegou ele era roubado. Foi abandonado e o corpo no chão no meio da via e com muitas perfurações. Eu passei e vi. Depois daí, a zorra começou a pegar mesmo. A Katiara começou a enfrentar o BDM e uma começou a atacar a outra. Jho era uma cara antigo no tráfico e a facção resolveu se vingar ”, contou um rapaz ao CORREIO.   A Katiara chegou em Valéria entre 2010 e 2012. O grupo começou a atuar em dois pontos do bairro: Nova Brasília e Bolachinha (Rua Tânia Duran). Depois, a facção se consolidou na Rua Penacho Verde e na Rua do Sossego – que liga o bairro a Periperi. No entanto, o BDM, que já havia tomado da Katiara boa parte da Palestina, já se instalou na Rua do Lavrador, imediações da UPA de Valéria. “É por isso que estão fazendo ataques momentâneos. Vão de carro, vans, até dentro de caminhão-baú e saem atirando", disse o rapaz. Acesso à Rua Penacho Verde, um dos pontos mais violentos  do bairro (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Insegurança  Desde o dia 9 de novembro, até o dia 19 deste mês, 21 pessoas foram assassinadas em Valéria. O primeiro caso aconteceu no Conjunto Lagoa da Paixão, em Nova Brasília de Valéria. O corpo de Márcio Santiago de Jesus, 20 anos, foi encontrado com diversos tiros. Segundo a Polícia Civil, além dele e Louri, foram mortos Diego Peixoto Hora, 33, Hildeligésio Gomes Pereira, 35, Leonardo Queirós da Silva, Edilson Ferreira da Silva, 28, Jadson Alan Souza Damascena, Evandro Costa dos Santos, Elaine Priscila de Almeida Lima, 37,  Ronaldo Oliveira dos Santos, 29, Alexandre Correio Araújo, 20. Morreram também Paulo Sérgio Santos Silva, Carlos Santos de Oliveira e Paulo Leite Abdon – esses três últimos não tiveram as idades informadas pela PC. As duas últimas mortes fruto da guerra tráfico, segundo a polícia, foram:  Arivan Bonfim Fiuza, 43, na Travessa Esperança, e Marcelo Santos da Cruz, 28, na Primeira Travessa Nossa Senhora das Graças – ambos no dia 21. Marcelo, conhecido como Desenho, foi baleado e depois decapitado. Ela era integrante da Katiara. “Ele nasceu e se criou lá. Era morador antigo e ganhou uma certa autonomia na facção”, declarou um morador de Valéria sobre Marcelo. Não há informações sobre Arivan. 

Quatro corpos ainda continuam ignorados. Segundo a PC, a identificação dos corpos é realizada pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).  A PC informou que está em contato com o DPT para informar quanto a identificação do restante dos corpos, mas não houve um posicionamento até o fechamento desta reportagem. Em relação aos crimes, a PC disse que “as investigações estão em curso e apenas com os desdobramentos posteriores será possível identificar a possibilidade de relação entre os crimes”.

O CORREIO circulou pelo bairro nos dias 10 e 11 de fevereiro. No primeiro dia,  entre 09h40 e 11h30, e no segundo, entre 08h e 11h. Nas duas situações a equipe de reportagem não encontrou sequer uma viatura da Polícia Militar posicionada ou trafegando na via principal do bairro, como aconteceu no dia seguinte as quatro mortes da semana passada – neste dia, o CORREIO flagrou algumas unidades do Batalhão de Choque posicionadas no entorno da Prefeitura Bairro. 

No entanto, para a surpresa da equipe de reportagem, na quinta-feira, por volta das 12h, policiais militares brotaram em Valéria, com direito a aparição ao vivo em programas de televisão – e mais uma vez as unidades circulavam na principal via de acesso ao bairro. Diante do inesperado, o CORREIO repercutiu com alguns moradores.“A polícia só aparece aqui quando as coisas acontecem e olhe lá. Ficam só na via principal para mostrar para a imprensa que o bairro está seguro. Palhaçada! Quem precisa de segurança somos nós e não a mídia. É pra dizer que está trabalhando? Mas não estão! Quem vive aqui sabe que estamos entregues à marginalidade, que a própria polícia tem medo de entregar em alguns lugares”, disse uma moradora revoltada.“Do que adianta passar na televisão que está fazendo isso, que está fazendo aquilo, porque a verdade é que não está é nada. Manda entrar na Penacho Verde, na Bolachinha, no Sucesso? Não entra. Esses lugares mais distantes do centro do bairro é onde realmente o bicho pega, onde as pessoas estão morrendo, onde as pessoas estão abandonando suas casas, onde pessoas imploram, gritando por socorro e as autoridades ignoram”, ”, bradou uma idosa.Mandados Somente 15 dias depois, Valéria teve uma nova ação mais efetiva da SSP. Isso aconteceu logo após as duas mortes do dia 21. A operação integrada da Polícia Civil, realizada no dia 25, possibilitou o cumprimento de mandados de busca e apreensão, além de diligências provenientes do disque-denúncia. A ação preventiva de inteligência teve também como objetivo a identificação e qualificação de suspeitos.  Segundo a PC, a operação coletou informações para a elucidação de homicídios nas localidades Lagoa da Paixão, Nova Brasília de Valéria e Penacho Verde. A região vem sendo impactada pela guerra entre grupos criminosos. "Nosso trabalho de investigação busca o mapeamento de suspeitos e locais de interesse para as nossas elucidações. Também a aproximação com o cidadão, que é fundamental para a realização de denúncias", declarou a explicou a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Andréa Ribeiro. SSP faz enfrentamento mais duro com a PC nos redutos do tráfico de Valéria (Foto:Ascom-PC/Heackel Dias) Ainda segundo a PC, participaram da operação policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), do Departamento de Inteligência Policial (DIP) e da Coordenação de Operações Especiais (COE). O CORREIO averiguou se realmente as unidades estiveram nos pontos críticos de Valéria. “Realmente a policiais civis estiveram aqui e no trecho no bairro que faz divisa com a Lagoa da Paixão. Foram muitas viaturas, uma mobilização grande de policiais”, disse um morador. Ninguém foi presoAusência da polí Para os especialistas, o abandono de residências e estabelecimentos comerciais “é um fenômeno” resultado da ausência da polícia. “ A questão do conflito entre grupos em Valéria, a gente sabe que é o BDM e a Katiara. Quando se tem essas áreas de conflito, sem uma presença mais regrada do estado,  é claro que você terá esse dano colateral social, associado aos conflitos gerados por esses grupos. É claro que o morador e o comerciante vão tentar se proteger, evitando ser mais uma vítima. Eventualmente, acontece de esses moradores e comerciantes serem vítimas desses grupos por engano”, declarou o sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor Luiz Claudio Lourenço. Lourenço disse que esse abandono é mais comum do que se imagina.“Esse é um fenômeno que já aconteceu em outros contextos. No ano passado, ocorreu em bairros de Fortaleza, no Ceará. No Rio de Janeiro, isso aconteceu com uma certa frequência, sobretudo no confronto entre as milícias e os grupos locais. Então, São Paulo, no começo do ano 2000, com a com a consolidação do PCC (Primeiro Comando da Capital), houve também a expulsão, inclusive, de pessoas que moravam em determinados bairros, o que se ver hoje em Salvador”, pontuou. A pesquisadora da Iniciativa Negra na Rede de Observatórios da Segurança, a cientista social Luciene Santana, também comentou a situação de moradores e comerciante de Valéria. Ela aproveitou o problema do bairro para falar que a violência é quem dita as regras nas comunidades baianas. “Esses confrontos acontecem em territórios específicos da cidade, majoritariamente negros. Então a gente tem que pensar também que é a violência tem organizado a vida das pessoas nesse território. É a violência que diz se os moradores vão sair de casa ou não, se vão ter acesso ou abrir ou fechar seus comércios, se haverá ou não o toque de recolher, se vai ter o ônibus circulando”, declarou. 

Santana emendou em seguida: “A gente vem observado que é a violência, de fato, quem organiza a vida nessas comunidades e a gente fica extremamente preocupada com a qualidade de vida dessas pessoas”.